Dasa ‘vira página’ da dívida, tem Ebitda recorde e mira salto em nova fase, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Lício Cintra diz que empresa de medicina diagnóstica e hospitais tem condições de avançar de forma mais acelerada na agenda operacional, agora sem a pressão da quebra de ‘covenants’

Hospital Nove de Julho, perto da avenida Paulista, em São Paulo, parte do novo grupo Ímpar, joint venture entre a Dasa e a Amil (Foto: Divulgação)
14 de Maio, 2025 | 09:02 PM

Bloomberg Línea — Ao longo dos últimos dezoito meses, a Dasa conviveu com o espectro do risco da quebra de covenants, as cláusulas que são um gatilho para o vencimento antecipado de dívidas caso sejam descumpridas em relação à alavancagem.

Esse capítulo da trajetória de uma das maiores e mais tradicionais empresas de saúde do país ficou para trás diante dos resultados do primeiro trimestre, divulgados nesta noite de quarta-feira (14), segundo disse o CEO da Dasa, Lício Cintra, em entrevista para a Bloomberg Línea.

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“Estamos contentes com os rumos da operação. Vínhamos de uma sequência difícil de trimestres com quase quebra de covenants e essa era uma preocupação presente que limitava a tomada de decisões internas e de posicionamento, por exemplo, frente a fontes pagadoras”, disse o CEO da Dasa.

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Cintra deu como exemplo o que classificou como “receitas de baixa qualidade”, da qual faz sentido abrir mão com perspectiva de médio e longo prazo. “Quando você está pressionado pelos covenants, não pode abrir mão de receita.”

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Em casos assim, de pressão financeira, a prioridade é direcionada para ações que resultem em aumento de receita ou queda de despesa, como readequar estruturas ou repactuar contratos de aluguel.

Segundo ele, a empresa passa a se permitir olhar para um número maior de frentes de ganho operacional, em vez do foco absoluto apenas nas ações que vão gerar impacto imediato no resultado.

“Eu estou muito convicto de que essa agenda de melhora operacional agora tende a acelerar e que teremos boas surpresas nos próximos trimestres.”

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A empresa agora “enxerga os próximos períodos sem a menor chance de quebra de covenants”, disse o executivo.

Esse momento também coincide, segundo Cintra, com “o passo final para endereçar a questão do foco”, citando o trabalho próximo a Rafael Lucchesi, que assumirá como CEO da Dasa em 1º de julho. O executivo, que tem 12 anos de empresa, já comanda a unidade de negócios de medicina diagnóstica desde 2022.

Como parte do planejamento, Lício Cintra ficará dedicado a partir da mesma data a atuar como CEO da Rede Américas, marca da empresa de hospitais e oncologia resultante da joint venture dessa unidade de negócios da Dasa - a Ímpar Serviços Hospitalares - com a Amil, de José Seripieri Júnior (veja mais abaixo).

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A empresa (DASA3) registrou um Ebitda consolidado de R$ 708 milhões, com aumento de 11% na base anual e o melhor resultado já registrado para os três primeiros meses do ano e o segundo melhor de qualquer trimestre. O consenso de analistas pela Bloomberg apontava para R$ 652 milhões.

A margem Ebitda avançou 1,4 ponto percentual na mesma base de comparação, para 18,5% de janeiro a março - ou 2,1 pontos de melhora se o dado de 2024 for ajustado pelo provisionamento para glosa (recusa da operadora de saúde em pagar pelo serviço prestado pelo hospital ou clínica).

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A geração de caixa operacional continuou negativa, mas melhorou em R$ 175 milhões, para uma queima de R$ 43 milhões.

As receitas líquidas, por outro lado, ficaram aquém do consenso da Bloomberg: chegaram a R$ 3,83 bilhões (vs. R$ 3,93 bilhões), com alta de 2,6% na comparação anual.

“O resultado é consequência do plano de busca de excelência operacional que temos perseguido ao longo dos últimos trimestres, com foco em disciplina de capital e na redução de desperdícios”, disse o executivo.

A alavancagem medida pela relação dívida líquida financeira após aquisições a pagar e antecipação de recebíveis sobre o Ebitda caiu quase um ponto percentual em 12 meses, de 5,14x para 4,17x no primeiro trimestre.

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O executivo destacou também o fato de que o primeiro trimestre marcou o closing da joint venture da unidade de negócios de hospitais da Dasa com a Amil.

Oficialmente a data ficou para 1º de abril, o que significa que a consolidação dos resultados será iniciada de fato neste segundo trimestre corrente.

A expectativa é que a alavancagem tenha uma nova redução no segundo trimestre corrente, dado que o impacto com a redução da divida que será transferida para a joint venture - no valor de R$ 3,5 bilhões - será maior em termos positivos do que da diminuição do Ebitda (valor não divulgado).

Lício Cintra, CEO da Dasa (Foto: Divulgação)

No caso da Rede Américas como marca da empresa da joint venture, com 50% do capital para a Dasa e outros 50% para a Amil, há uma expectativa de ganho maior de eficiência operacional, dado que se trata de uma unidade “menos madura” do que a de medicina diagnóstica, por exemplo. Na estimativa proforma do fim de 2024, a margem estava em 9%, muito abaixo da média de mercado.

“Quando olhamos pelo retrovisor e comparamos, hoje temos uma empresa muito diferente do era que doze e dezoito meses atrás, com dois negócios endereçados do ponto de vista de alavancagem e de eficiência operacional”, disse ele, que apontou uma sequência, na prática, de cinco trimestres de execução.

Nesse processo, Cintra ressaltou também a importância da formação de dois times de diretoria executiva “espelhados”, um para hospitais e oncologia e outro para medicina diagnóstica, com substituição de alguns executivos.

Como capítulo adicional das mudanças, o conselho aprovou o nome de Rafael Bossolani como novo diretor Financeiro (CFO) e de Relações com Investidores, em substituição a André Covre, que assume como diretor de Estratégia Corporativa.

Na trajetória de retomada da Dasa houve também, como endosso do compromisso da família controladora - Bueno - com o negócio, um aporte de R$ 1,5 bilhão no ano passado, para reforçar a estrutura de capital.

As ações da Dasa subiram 2,91% nesta quarta-feira antes da divulgação do resultado. Mas acumulam queda de cerca de 5% no acumulado do ano e da ordem de 50% em 12 meses, o que sinaliza o desafio de recuperar a confiança do investidor.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.