Da fraldinha ao acém: como o Madero controla custos após disparada do boi gordo

Junior Durski, CEO e fundador do Grupo Madero, diz à Bloomberg Línea que novo equipamento de R$ 10 milhões permite à rede de restaurantes utilizar outros cortes de carne para produzir seu hambúrguer e é um exemplo de como a gestão tem sido feita

Madero
29 de Junho, 2025 | 11:04 AM
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Bloomberg Línea — A alta aproximada de 40% do preço do boi gordo em 12 meses desafia uma das maiores redes de restaurantes do Brasil.

Com cerca de 280 unidades no país, o Grupo Madero tem adotado diferentes alternativas para contornar os sucessivos reajustes de um de seus principais insumos com investimento em tecnologia e diversificação de fornecedores.

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Um equipamento de quase de R$ 10 milhões foi importado dos Estados Unidos para otimizar o processamento da carne, o que permite a redução dos custos, disse o CEO da companhia, o chef Junior Durski, à Bloomberg Línea.

“É um moedor e ‘desnervador’ de última geração, que tem uma tecnologia que separa a carne do nervo. Isso permite comprar outros tipos de carne, que são tão boas de sabor quanto à fraldinha que usamos “, disse o fundador do Madero.

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Na cozinha do Madero, um substituto à fraldinha que ganha espaço é o acém, de preço mais baixo. “O acém é uma carne extremamente saborosa, mas tem um pouco de nervo. Com essa nova máquina, conseguimos tirar o nervo e fazer um hambúrguer até de melhor qualidade do que a da fraldinha”, afirmou Durski.

Segundo o CEO, o custo do acém é 9% menor do que o da fraldinha.

“Nosso hambúrguer é mais barato que o de outros players porque nós fazemos o nosso hambúrguer”, explicou.

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O Madero também ampliou a sua lista de fornecedores, que incluem frigoríficos de menor porte, de atuação mais regional.

“Não compramos carne só da JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) mas de vários frigoríficos no Brasil, inclusive dos menores, que têm boa qualidade e eventualmente não exportam, mas vendem sua carne no mercado interno”, disse Durski.

Junior Durski, CEO e fundador do Grupo Madero.

O controle sanitário no Brasil, com atuação do Ministério da Agricultura por meio do SIFE (Serviço da Inspeção Federal), proporciona a segurança de adquirir carne de fornecedores menores.

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Ele disse que o mercado interno de carne atravessa um momento desafiador devido à alta da cotação do boi gordo - um fenômeno visto em outros países, como os EUA.

“Os frigoríficos não estão conseguindo vender a carne para os açougues e para os supermercados no preço que eles querem. Está ficando muito caro. O consumo está em queda no Brasil“, disse o chef paranaense.

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Plano de expansão em aceleração

Enquanto busca alternativas para conter a pressão de custos e conter o repasse para os cardápios ao consumidor, o Madero se prepara para acelerar seu plano de expansão.

O CFO da companhia, Ariel Szwarc, disse à Bloomberg Línea que o grupo planeja abrir mais de 20 unidades em 2026 - e que mira chegar no ano seguinte a um patamar de 30 novos restaurantes por ano.

No primeiro trimestre de 2025, a companhia investiu R$ 62,5 milhões, destinados principalmente à abertura de novos restaurantes.

“No primeiro trimestre, abrimos duas novas operações. Até o final do ano, vamos abrir entre 15 e 20 operações. Gradualmente estamos retomando a expansão, mas não no patamar de 2019 [pré-pandemia], que estava na casa de 60 novas lojas por ano”, afirmou o executivo.

No final de março, a rede contava com 277 restaurantes, dos quais 99 Madero Steak House, 88 Madero Container, 75 Jeronimo, 9 híbridos (Madero & Jeronimo) e 6 operações da Ecoparada.

As duas novas operações a que se referiu o CFO são um Madero Steak House e um restaurante híbrido Madero & Jeronimo, que combinando as ofertas de produtos do Madero Container e do Jeronimo em uma única operação.

Adicionalmente, três restaurantes Jeronimo foram convertidos para o modelo híbrido Madero & Jeronimo.

Captação e pagamento de dividendos

A cautela na abertura de novos restaurantes remete às dificuldades enfrentadas entre 2021 e 2022, em decorrência justamente de seu plano agressivo de investimentos, aliado à escalada do custo de capital com a alta dos juros e os efeitos da pandemia, que derrubaram de forma acentuada as vendas.

Naquele momento, a dívida bruta encostou em R$ 1 bilhão.

O elevado endividamento levou a companhia a reestruturar seus vencimentos com bancos credores em 2023, conseguindo um alívio em seu balanço.

A renegociação envolveu Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4) e BTG Pactual (BPAC11), além de debêntures de fundos geridos pelo Itaú Unibanco (ITUB4).

Após esse acordo, que fixou condições mais rígidas de covenants (cláusulas financeiras em empréstimos e que buscam limitar a alavancagem para proteger os credores), o grupo voltou a acessar o mercado de capital.

No primeiro trimestre, o grupo realizou duas novas captações, que totalizaram R$ 200 milhões. Em fevereiro, foram emitidas uma NC (Nota Comercial) de R$ 70 milhões e uma debênture de R$ 130 milhões.

As duas operações de captação realizadas no primeiro trimestre contaram com remuneração atrelada ao CDI acrescido de 2,70% ao ano, com prazo de 6 anos e 24 meses de carência de amortizações.

“O custo financeiro tem tendência de queda porque estamos melhorando a geração de caixa. No primeiro trimestre, fizemos um pagamento extraordinário de dividendos, o primeiro na história da companhia”, destacou o CFO.

Ele se referiu ao pagamento de R$ 211,1 milhões em dividendos e R$ 11,9 milhões em JCP (juro sobre capital). Entre janeiro e março, a companhia reportou lucro líquido de R$ 53,3 milhões, versus R$ 2,8 milhões um ano antes.

A dívida líquida terminou o primeiro trimestre em R$ 774,5 milhões, enquanto o Ebitda dos últimos 12 meses totalizou R$ 648,6 milhões.

O índice de endividamento (dívida líquida/Ebitda anualizado) foi de 1,19x, muito abaixo do 3,55x em 2021 antes da renegociação com os bancos.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.