Bloomberg — Os detentores de títulos da dívida externa da Intercement estão solicitando fiscalização do Tribunal de Contas da União da proposta de reestruturação feita pela cimenteira, ao apontar que poderia causar danos substanciais ao maior banco estatal do país.
Um grupo de credores detentores de títulos em dólar inadimplentes da empresa solicitou em 1º de maio a fiscalização ao TCU, de acordo com um documento visto pela Bloomberg News.
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Na carta, os detentores de títulos alegam que o Banco do Brasil terá perdas de até R$ 219 milhões de acordo com a proposta dos donos da Intercement, a família Camargo Corrêa.
A medida pode aumentar a pressão sobre o Banco do Brasil para se opor à reestruturação antes da reunião de 5 de junho entre os credores e a empresa.
O banco ainda não anunciou sua posição sobre a proposta e não quis comentar sobre o documento ao TCU.
Em comunicado conjunto da Intercement e de sua holding controladora familiar, a Mover, as empresas afirmaram desconhecer os documentos que solicitam a auditoria.
“Os bondholders têm empregado uma estratégia litigiosa na recuperação judicial e, até o momento, o Judiciário entendeu que todos os seus pleitos deveriam ser indeferidos, reforçando o reconhecimento dos esforços do grupo em promover um processo de recuperação judicial hígido, consensual e organizado”, disseram as empresas.
Os representantes dos detentores de títulos de dívida externa não quiseram comentar.
O pedido de auditoria é o mais recente obstáculo na disputa entre os credores e a cimenteira, que surgiu desde que a empresa deixou de pagar US$ 750 milhões em títulos no ano passado.
A empresa entrou com pedido de recuperação judicial em dezembro. Esses títulos agora são negociados em torno de 51,5 centavos de dólar, de acordo com dados da Trace.
As duas partes devem se reunir em 5 de junho, mas as negociações sobre a reestruturação proposta estão paralisadas.
Em questão está o plano da Intercement de consolidar sua própria dívida, de cerca de R$ 11 bilhões, com os R$ 3,2 bilhões da holding Mover.
Isso, dizem os detentores dos títulos, prejudicaria efetivamente a recuperação de seus créditos e protegeria a família Camargo Corrêa, de acordo com o documento.
“Nenhuma das minutas de planos de recuperações judiciais apresentadas pelas recuperandas no último dia 10 de fevereiro de 2025 prevê a transferência de recursos para os acionistas da Mover”, disseram a Intercement e a Mover.
Um juiz já aprovou a proposta de consolidação da dívidas, mas os detentores dos títulos, que incluem a Moneda Asset Management e a Redwood Capital, estão resistindo. Eles alegam que a Intercement terá que pagar a dívida da holding Mover antes das demais.
A holding, que também está em recuperação judicial, deve os R$ 3,2 bilhões ao Banco Bradesco. Ações de sua empresa de infraestrutura de mobilidade, a Motiva, ex-CCR, servem como garantia do empréstimo.
Os detentores dos títulos querem que a família Camargo Corrêa venda essas ações para pagar o Bradesco.
Em vez disso, a família propõe manter essas ações e conceder ao Bradesco notas preferenciais emitidas pela Intercement, que teriam prioridade absoluta sobre outras dívidas.
Um tribunal bloqueou a tentativa do Bradesco de tomar as ações da Motiva. Um recurso interposto pelo Bradesco, que não é membro do grupo de detentores dos títulos, ainda está pendente.
Enquanto isso, o grupo de detentores dos títulos está se voltando para a questão da dívida do Banco do Brasil, argumentando que o banco pode perder cerca de 12% do valor total da dívida pelo plano proposto.
O escritório de advocacia Padis Mattar Advogados, que representa os detentores dos títulos da dívida externa, apresentou o pedido de auditoria.
O Banco do Brasil desempenha um papel crucial para impedir a aprovação do plano da empresa, “o que teria consequências desastrosas para os credores da Intercement”, escreveram no documento.
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