Concessionárias enfrentam ‘ameaça existencial’ na China com transição para elétricos

Associação Chinesa de Carros de Passageiros avalia que o modelo tradicional de revenda foi abalado depois que automóveis elétricos, de montadoras como a BYD e a Xiaomi, ganharam espaço no mercado e geram competição acirrada

Concessionária em Pequim
Por Linda Lew
08 de Outubro, 2025 | 04:07 PM

Bloomberg — As concessionárias de automóveis na China precisam com urgência de apoio financeiro, diante de uma guerra de preços prolongada e da rápida expansão da capacidade de produção de veículos elétricos, que têm colocado muitas delas em risco de sobrevivência.

A transição do país para os veículos elétricos abalou o modelo tradicional de revenda, em que a comercialização de carros a combustão, especialmente de marcas de luxo, garantia margens confortáveis, segundo Cui Dongshu, secretário-geral da Associação Chinesa de Carros de Passageiros.

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A mudança para a eletrificação trouxe excesso de oferta e competição acirrada, forçando concessionárias a reduzirem preços — o que tem corroído seus lucros, afirmou.

“Atualmente, as vendas de carros novos nas concessionárias registram perdas generalizadas”, escreveu Cui em uma postagem no WeChat na terça-feira (7). “O fluxo de caixa negativo e o risco de colapso financeiro são generalizados. Está cada vez mais difícil escapar dessa luta pela sobrevivência.”

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Cui defendeu que o governo intervenha para apoiar o setor, oferecendo mais linhas de crédito e orientando os bancos a adotar maior flexibilidade com os revendedores.

A pressão sobre as concessionárias vem crescendo há anos. Metas de vendas ambiciosas impostas pelas montadoras levaram a descontos agressivos para escoar estoques, enquanto a desaceleração da economia chinesa reduziu a demanda por veículos.

Nem mesmo os grandes nomes da indústria têm escapado. A guerra de preços reduziu as margens da BYD, e o ritmo de crescimento de suas vendas diminuiu. Nesta semana, a BMW revisou para baixo suas projeções financeiras para o ano, em parte por causa dos pagamentos feitos para sustentar suas concessionárias na China.

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Pequim tem tentado aumentar o controle sobre o vasto setor de veículos elétricos, buscando conter a guerra de preços e pressionar as montadoras a acelerar os repasses a fornecedores e revendedores. Até agora, no entanto, os efeitos têm sido limitados: os descontos permanecem e os prazos de pagamento continuam longos.

Entre os 14 maiores grupos de concessionárias da China, a maioria registrou queda de receita e lucro nos últimos seis anos, enquanto os estoques seguem elevados.

As margens líquidas médias ficaram negativas pela primeira vez desde pelo menos 2019, segundo dados compilados por Cui. Embora alguns grupos tenham incorporado marcas populares de elétricos, como Li Auto e Xiaomi, essa mudança ainda deve levar tempo para gerar retorno.

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Cui comparou a situação a um cenário em que “as feridas antigas ainda não cicatrizaram, e novas doenças já surgiram”, afirmando que o fluxo de caixa foi “espremido ao limite”.

No início deste ano, duas concessionárias da BYD, localizadas em províncias diferentes, encerraram suas atividades. O fechamento deixou centenas de clientes sem seguro válido ou sem acesso aos carros comprados, evidenciando que nem mesmo a venda da marca mais popular da China tem sido suficiente para proteger as revendas da crise financeira.

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