Com investimento de US$ 16 bi, China prioriza exterior em aposta em veículos elétricos

Empresas chinesas estão sendo levadas a se expandir globalmente à medida que o excesso de capacidade e uma longa guerra de preços no país comprimem as margens em toda a cadeia de suprimentos

Números representam uma “mudança histórica” após anos de direcionamento de cerca de 80% dos investimentos para o mercado interno
Por Linda Lew
18 de Agosto, 2025 | 04:15 PM

Bloomberg — As empresas chinesas envolvidas no setor de veículos elétricos investiram mais no exterior do que no mercado interno pela primeira vez em 2024, embora os projetos estrangeiros enfrentem custos, atrasos e riscos mais altos.

As empresas ao longo da cadeia de suprimentos investiram cerca de US$ 16 bilhões no exterior no ano passado - principalmente na produção de baterias. O valor é maior do que os US$ 15 bilhões gastos internamente, de acordo com um relatório da empresa de pesquisa Rhodium Group divulgado na segunda-feira (18).

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Os números representam uma “mudança histórica” após anos de direcionamento de cerca de 80% dos investimentos para o mercado interno, disse a Rhodium no relatório.

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As empresas chinesas estão sendo levadas a se expandir globalmente à medida que o excesso de capacidade e uma longa guerra de preços no país comprimem as margens em toda a cadeia de suprimentos.

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Elas também estão tentando contornar as tarifas punitivas na Europa e nos EUA, construindo instalações de produção nesses países e cedendo à pressão dos clientes estrangeiros por uma produção mais localizada.

“O fato de que os investimentos no exterior agora superam os investimentos domésticos reflete um mercado chinês saturado e o apelo estratégico da expansão no exterior para obter retornos mais altos”, disse Armand Meyer, analista de pesquisa sênior da Rhodium e autor do relatório.

investimentos chineses na cadeia de suprimentos de veículos elétricos

Cerca de três quartos dos investimentos no exterior vieram de fabricantes de baterias, refletindo a natureza de capital intensivo do setor.

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Os principais fabricantes de baterias, como a Contemporary Amperex Technology, Envision Group e Gotion High-Tech seguiram clientes existentes como a Tesla e a BMW no exterior, impulsionados pelos altos custos de transporte e pelas solicitações de fornecimento localizado, de acordo com o relatório.

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A CATL, como é conhecida a maior fabricante de baterias para veículos elétricos do mundo, disse em junho que está fazendo da expansão no exterior sua “prioridade número 1”, já que a intensa concorrência no mercado automotivo doméstico da China ameaça a saúde do setor.

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A BYD, montadora que mais vende da China, tem fábricas no Brasil e na Tailândia, e está planejando instalações na Turquia e na Indonésia. A Chery Automobile comprometeu-se a montar uma fábrica de veículos elétricos de US$ 1 bilhão na Turquia,

Os projetos no exterior tendem a ser mais caros, levam mais tempo para serem construídos e enfrentam riscos regulatórios e políticos mais altos.

Apenas 25% dos projetos de fabricação de veículos elétricos anunciados no exterior foram concluídos, em comparação com uma taxa de conclusão de 45% no país, segundo o relatório.

No mês passado, a BYD arquivou indefinidamente os planos de construir uma grande fábrica no México devido a tensões geopolíticas e incertezas decorrentes das políticas comerciais do presidente dos EUA, Donald Trump.

Os projetos domésticos não são apenas construídos mais rapidamente, mas também iniciados mais cedo. As fábricas de baterias na China normalmente iniciam a construção dentro de três a 12 meses, em comparação com 10 a 24 meses no exterior, disse a Rhodium.

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A Svolt Energy Technology, fabricante de baterias sediada no norte da China, cancelou 99% de seus investimentos anunciados no exterior, segundo o relatório.

A expansão internacional das empresas e dos fornecedores chineses de veículos elétricos precisará lidar com dinâmicas como a demanda global desigual por carros a bateria e a resistência em mercados como a União Europeia.

Ao mesmo tempo, as empresas chinesas precisam administrar a crescente preocupação de Pequim com a transferência de tecnologia, a perda de empregos e o esvaziamento industrial, o que poderia levar a controles mais rígidos sobre o investimento externo.

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