CEO do Itaú sinaliza dividendo adicional e reforça tendência de ser ‘relógio suíço’

Em entrevista a jornalistas, Milton Maluhy Filho diz que consistência e previsibilidade na entrega dos resultados trimestrais são importantes para investidores e indica continuidade de uma performance positiva até final do ano

Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco, afirma que investidor valoriza a previsibilidade e consistência dos resultados trimestrais reportados pela instituição financeira
06 de Agosto, 2025 | 12:01 PM

Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco (ITUB4) consolidou sua posição como um “relógio suíço” do setor bancário brasileiro, segundo o CEO Milton Maluhy Filho, entregando resultados “sólidos e consistentes” no segundo trimestre de 2025.

O executivo indicou ainda a possibilidade de novamente o banco pagar dividendo adicional aos acionistas no início de 2026, dada a situação confortável do seu capital e perfomance.

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“Quanto à menção de que nosso resultado é como um relógio suíço, fico feliz dele ser boring, porque no fundo isto tem muito valor para o investidor: conseguir ser consistente na comunicação, na transparência e na entrega de resultados", disse o executivo aos jornalistas em encontro nesta quarta-feira (6), em referência à comparação feita por um repórter.

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Na avaliação do executivo, a previsibilidade dos resultados trimestrais nos últimos anos é “fundamental” para uma organização do tamanho do Itaú Unibanco, que fechou o segundo trimestre com um lucro líquido de R$ 11,5 bilhões.

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“Nossa melhor expectativa hoje é que seremos capazes de fazer um novo dividendo adicional no início do ano que vem”, afirmou o CEO.

Em fevereiro deste ano, a instituição aprovou o pagamento de R$ 12,229 bilhões em remuneração adicional aos acionistas.

“O dividendo já deixou de ser extraordinário há muito tempo à medida em que todo ano temos feito uma distribuição adicional”, disse o executivo.

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Durante entrevista a jornalistas, ele destacou que o banco alcançou uma rentabilidade sobre patrimônio líquido (ROE) superior a 23%, demonstrando a eficácia da estratégia de longo prazo da instituição, na visão dele.

A receita de serviços, considerada a linha que gera o maior resultado e criação de valor no modelo de negócio do banco, apresentou um mix diversificado de performances no segundo trimestre, segundo o CEO.

Enquanto as receitas transacionais, de cartão de crédito e de adquirência mostraram resultados positivos, as tarifas de conta corrente sofreram reduções intencionais como parte da estratégia de ampliar o “lifetime value” dos clientes, segundo Maluhy Filho.

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Ele enfatizou que o segmento de gestão de recursos brilhou no trimestre, com destaque para a performance considerada “excepcional” dos fundos geridos pela Itaúsa Asset Management, que registrou a melhor performance da indústria no período.

Os consórcios também contribuíram positivamente para os resultados, refletindo a diversificação bem-sucedida das fontes de receita do banco, segundo o executivo.

Por outro lado, o banco de investimento enfrentou desafios significativos, especialmente no mercado de capitais.

O mercado de equity permaneceu praticamente fechado, com pouquíssimas operações e fees irrelevantes.

Maluhy foi direto ao explicar que o ambiente de juros restritivos torna difícil imaginar uma janela para IPOs no segundo semestre.

O mercado de Debt Capital Market (DCM) foi o maior “ofensor” na linha de receitas de serviços, segundo o CEO.

Comparado ao segundo trimestre de 2024, que foi histórico para o banco nessa área, o resultado atual reflete uma base de comparação “injusta”, com volumes pelo menos 20% menores no mercado como um todo, explicou.

Busca por eficiência

A gestão de despesas continua sendo um ponto de atenção e orgulho para o banco. Maluhy citou que a instituição conseguiu entregar expansão de rentabilidade enquanto fazia investimentos relevantes em tecnologia, inteligência artificial e modernização de plataformas.

O executivo classificou esse período como de “colheita” dos investimentos realizados nos últimos anos.

O índice de eficiência do banco atingiu o melhor patamar semestral da série histórica, indicando que os investimentos em tecnologia e modernização estão gerando os retornos esperados, segundo Maluhy Filho.

A inflação bancária, naturalmente mais alta que o IPCA devido a acordos coletivos e participação nos resultados, está sendo bem gerenciada pela instituição, ressaltou.

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Na frente de capital, o Itaú demonstrou uma geração robusta de 0,6 ponto percentual no trimestre, já ajustado pelos juros sobre capital próprio (JCP).

Essa capacidade de geração de capital sustenta as expectativas otimistas para distribuição de dividendos adicionais, mantendo a tradição de remuneração consistente aos acionistas, segundo ele.

Maluhy reafirmou a expectativa de um novo dividendo adicional “importante” no início de 2026, mantendo a política de não reter excesso de capital após análises de oportunidades de crescimento e mudanças regulatórias.

O banco trabalha com um buffer de 12% de capital para fins de dividendos, embora o apetite definido pelo conselho seja de 11,5%.

Impacto ‘imaterial’ das tarifas de Trump

O segmento de seguros e previdência apresentou resultados muito positivos, com crescimento forte nos seguros recorrentes e performance saudável na previdência, segundo o CEO.

Essa linha de negócio é especialmente valorizada pela capacidade de gerar resultados com baixa alocação de capital.

No crédito consignado, o banco atravessa um período de transição estrutural. Os caps impostos pelo governo e a revisão de processos do INSS impactaram todo o mercado, não apenas o Itaú.

No consignado de empresas privadas, o banco mantém boa participação de mercado e está se adaptando aos desafios operacionais do novo modelo, segundo o executivo.

A qualidade da carteira de crédito permanece em níveis elevados, com indicadores que satisfazem plenamente a gestão.

Segundo o CEO, o banco mantém sua estratégia conservadora de crescer nos clientes e segmentos considerados resilientes durante ciclos econômicos mais longos, uma abordagem que tem se mostrado acertada.

Sobre as tarifas americanas que entraram em vigor, Maluhy foi categórico: os impactos na carteira de crédito do Itaú são imateriais.

O banco fez mapeamento “nome a nome” e “segmento a segmento”, mantendo-se confortável com os efeitos mínimos na operação brasileira.

Perspectiva para o segundo semestre

A perspectiva para o mercado de capitais no segundo semestre permanece desafiadora.

Com juros altos e menor visibilidade econômica, a expectativa é de volumes 20% a 30% menores que 2024 no mercado de dívida, enquanto o equity deve permanecer praticamente nulo, com eventuais follow-ons pontuais.

O alíquota efetiva de impostos apresentou elevação devido a dois fatores principais: a diluição do benefício do JCP com o aumento da rentabilidade e o mix de empresas do conglomerado, que inclui seguradoras e não-financeiras com alíquotas diferentes, alterando a composição tributária consolidada.

A estratégia de eficiência operacional continuará sendo prioridade, segundo ele. O banco fechou 10% da rede de agências em um ano e espera colher os frutos dessa reestruturação nos próximos trimestres, sempre mantendo o foco no investimento em tecnologia e na experiência do cliente.

Maluhy destacou que o custo de capital do banco está em torno de 15%, tornando qualquer rentabilidade acima desse patamar uma criação efetiva de valor.

Com ROE acima de 23%, o Itaú está entregando criação de valor substancial aos acionistas, segundo o CEO, sustentando sua posição de liderança no setor.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.