CEO da Toyota para LatAm vê mercado em expansão, de elétricos a exportações

O presidente do grupo japonês para a região, Rafael Chang, disse em entrevista à Bloomberg Línea que a montadora mantém a aposta em veículos eletrificados e colhe os resultados: ‘um caminho sem volta’, mas com diferentes tecnologias

Toyota argentina
24 de Junho, 2025 | 06:25 AM

Bloomberg Línea — À medida que a competição no setor automotivo cresce substancialmente na América Latina, com a chegada de novas marcas, em particular chinesas, a Toyota planeja continuar a priorizar a produção e o desenvolvimento local de produtos, com destaque para as operações fabris do Brasil e da Argentina.

A montadora japonesa mais uma vez foi líder global de vendas em 2024, à frente de concorrentes de peso como a Volkswagen e a Hyundai.

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Para enfrentar um mercado cada vez mais acirrado, o grupo japonês aposta em um portfólio de produtos adaptado para cada região, afirmou o CEO da Toyota para América Latina e Caribe, Rafael Chang, em entrevista à Bloomberg Línea.

“Na pandemia, o mundo inteiro sofreu com a queda da demanda, mas agora os mercados da América Latina seguem em uma situação estável, com viés de crescimento. Nós vimos uma recuperação importante na região, com níveis acima do pré-covid”, disse o executivo.

Em 2024, as vendas da Toyota na América Latina totalizaram cerca de 487 mil unidades. Os principais mercados para o grupo na região são Brasil e Argentina, que concentram juntos 60% dos emplacamentos.

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Entre os modelos mais vendidos no Brasil estão a Hilux, o Corolla Cross e o Corolla.

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No Brasil, a montadora registrou um crescimento das vendas de 3% em 2024, com mais de 200 mil unidades vendidas, o que a fez encerrar o ano como a quarta marca mais vendida do país.

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Já na Argentina, a Toyota lidera as vendas há quatro anos consecutivos e encerrou 2024 com cerca de 90.000 unidades comercializadas.

Segundo o executivo, além do Brasil, os mercados de Argentina, Chile, Peru e Colômbia vêm experimentando uma recuperação importante.

CEO Toyota LatAm

Projeções de mercado apontam para vendas de 4,4 milhões de veículos na região em 2025. Se confirmado, o resultado representará um avanço de 7,3% sobre o ano passado. “Acredito que o mercado da América Latina pode chegar a um patamar entre 5 milhões a 6 milhões de veículos por ano”, disse o executivo.

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Para atender a esse crescimento de demanda na região, as fábricas do Brasil e da Argentina operam atualmente em capacidade máxima, com três turnos de produção.

Nos últimos anos, a montadora anunciou a introdução de linhas para novos modelos na região, como a van Hiace, na Argentina, e um compacto híbrido no Brasil.

Estratégia para eletrificação

Chang afirmou que o portfólio de veículos eletrificados da montadora vem crescendo na região. Os modelos do segmento já representam 13% das vendas totais da Toyota na América Latina.

“O processo de eletrificação é um caminho sem volta. Queremos contribuir com a descarbonização e esse é um objetivo global do grupo.”

Para tanto, a montadora adota a estratégia chamada “multipathway” (múltiplas vias, em tradução livre). “Enxergamos que esse processo vai acontecer por meio da adoção de diversas tecnologias, porque acreditamos que cada região tem características diferentes”, salientou o executivo.

Globalmente, o grupo tem um portfólio de veículos com diferentes motorizações: a combustão; híbridos que não precisam de tomada; híbridos plug-in (que necessitam de tomada); 100% elétricos e modelos movidos a hidrogênio.

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“Quando falamos de matriz energética e desenvolvimento de infraestrutura [de carregamento], claramente o veículo híbrido é o mais adequado para a América Latina, porque a rede de recarga ainda não está desenvolvida.”

Em sua avaliação, o veículo híbrido é uma alternativa prática e sustentável, além de mais acessível.

“Obviamente, no futuro, os veículos elétricos vão ter mais espaço na região, assim como está acontecendo em muitos mercados do mundo”, disse Chang. Globalmente, 40% das vendas totais da Toyota já são de veículos eletrificados.

Especificamente para o mercado brasileiro, o executivo destacou que o biocombustível é uma alternativa importante para contribuir com o processo de descarbonização.

“O etanol é um combustível limpo que, combinado com a nossa tecnologia híbrida, oferece ao mercado uma opção de descarbonização importante.”

Estima-se que o etanol emita aproximadamente 70% menos CO2 que a gasolina quando considerado todo o ciclo de vida do insumo, sendo uma aposta do setor para descarbonização do transporte.

No ano passado, o grupo anunciou um investimento de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 11,5 bilhões) na região até 2030, basicamente para expansão da capacidade de produção de veículos e motores. Esse “pacote” inclui a construção de uma nova fábrica em Sorocaba, no interior de São Paulo, e a produção de dois novos modelos híbridos plenos.

“Nós somos os pioneiros na produção de veículos híbridos no Brasil e na América Latina. Com esse investimento, no curto prazo nós vamos ampliar o portfólio, com produção local de híbridos flex”, afirmou Chang.

A capacidade produtiva da nova fábrica em Sorocaba será de 100 mil carros por ano, um aumento de aproximadamente 50% em relação ao parque já existente.

“Até 2030, vamos adicionar 2.000 empregos diretos, fora os indiretos gerados na cadeia de fornecedores. Nesse processo, o primeiro passo é exportar mais”, disse.

toyota

Em sua avaliação, a exportação é um fator fundamental para o plano de crescimento na região. “Tanto no Brasil como na Argentina nós exportamos para mais de 20 países da América Latina e obviamente é um sonho para nós poder exportar para outras regiões do mundo”, afirmou.

Aluguel de veículos

Em novembro, a montadora também inaugurou um novo centro logístico de peças, com investimentos de R$ 160 milhões para atender 23 países com 1,1 milhão de peças por mês. “Temos um parque circulante muito grande de veículos da nossa marca e os clientes precisam do serviço de pós-vendas.”

Outra frente de negócio em que a Toyota trabalha é a do aluguel de veículos da marca, por meio do “braço” de locação Kinto, que foi lançado globalmente em 2018 e chegou ao Brasil em 2020. Atualmente, está presente em 100% da rede de concessionárias do país e oferece 7.000 veículos para o mercado local.

Na América Latina e Caribe, a Kinto está presente em 16 países. “Ainda estamos longe dos números das grandes locadoras, mas nosso objetivo é ampliar, passo a passo, esse processo da mobilidade. Nossa plataforma permite aos nossos clientes alugar veículos em toda a região”, relatou Chang.

Indústria mais competitiva

Chang afirmou que a operação na América Latina também precisa se manter competitiva frente a outras regiões. “Para atrair mais projetos para a nossa região, a palavra-chave é competitividade”, disse.

A questão torna-se ainda mais complexa com a chegada de novas marcas ao mercado local, como as chinesas BYD, Great Wall Motors (GWM) e GAC.

“Acreditamos que a concorrência é positiva, em todos sentidos. Para os consumidores, porque eles têm mais opções, e para a indústria, que puxa a briga para todos sermos mais competitivos”, afirmou.

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No entanto o executivo ressaltou que é importante que haja isonomia e estabilidade e clareza de regras. “Os investimentos da indústria automotiva não são de curto prazo, é preciso previsibilidade em termos de regulamentação e legislação.”

Em um cenário de grandes incertezas, com disrupções na cadeia logística global desde o ano passado, Chang disse que a montadora precisa estar preparada.

“Há inúmeras questões geopolíticas em nível global que, sem dúvida, afetam nossas operações no mundo, mas nós investimos no longo prazo. No curto, temos planos A, B e C para reagir a cada uma dessas variações que enfrentamos sobretudo no cenário externo”, disse.

Especialmente na cadeia logística, a estratégia para produtos e regiões envolve a diversificação nos hubs de produção para dispor de planos de contingência.

“Sempre vamos ter algum tipo de disrupção que vai afetar nossas operações. Para isso, a estratégia de ter diversos polos de produção e fornecimento no mundo ajuda a enfrentar esse tipo de problema”, afirmou Chang.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.