Bloomberg — A liquidação do Banco Master expôs fragilidades financeiras no Banco de Brasília, a instituição controlada pelo governo do Distrito Federal que agora se vê às voltas com rebaixamentos das notas de crédito e questionamentos sobre suas necessidades de capital.
Autoridades afirmaram que o BRB, como o banco é conhecido, comprou quase R$ 13 bilhões em créditos falsos criados pelo Master. Mais de R$ 10 bilhões foram substituídos ou liquidados, de acordo com o banco, mas ainda há dúvidas sobre a solidez financeira da companhia.
“O que chama atenção nesse caso é o tamanho da carteira que teve de ser substituída”, disse Daniel Girola, analista sênior da Moody’s, em uma entrevista. “É um sinal de que houve falta de controle, de gerenciamento de risco.”
Após uma série de reduções na nota de crédito diante do colapso do Master, o BRB está sob revisão para possíveis futuros cortes. A Moody’s retirou as notas do banco no começo deste mês a pedido do BRB.
O Master vendeu carteiras ao BRB para enfrentar uma crise de liquidez após anos de rápido crescimento.
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Antes do aperto, os recursos do banco vinham de investidores pessoas físicas que compravam Certificados de Depósito Bancário (CDBs) garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). O Master então aplicava os recursos naquilo que críticos consideravam ativos arriscados e opacos.
Os problemas do BRB se intensificaram quando o Master foi liquidado no último mês e teve seu presidente, Daniel Vorcaro, preso sob acusações de fraude. Vorcaro, que nega irregularidades, deixou a prisão desde então.
No BRB, o presidente Paulo Henrique Costa foi dispensado após a liquidação do Master e disse estar disposto a cooperar com as autoridades. Ele não quis comentar para esta reportagem.
Ainda que o BRB tenha substituído os ativos supostamente fraudulentos comprados do Master, há incertezas sobre a qualidade dos ativos usados na substituição, e também sobre o quão sério será o impacto do escândalo sobre a reputação do banco e sobre sua capacidade de captar recursos.
A carteira de crédito comprada pelo BRB representava pelo menos 21% do portfólio do banco em junho, de acordo com a Moody’s. Ela foi substituída por ativos que incluíam empréstimos para empresas, fundos de investimento em ações, títulos do governo brasileiro e carteiras originadas tanto pelo Master quanto pelo Will Bank, fintech na qual o Master detém uma participação majoritária.
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“Esperamos que as substituições possam aumentar o risco de concentração no perfil de qualidade dos ativos do BRB, que, de outra forma, é composto principalmente por empréstimos granulares e produtos garantidos”, disse a Moody’s.

Ao mesmo tempo, os índices de capitalização fracos e a baixa rentabilidade recorrente limitam a capacidade de absorver perdas, de acordo com a empresa de rating.
O capital principal do BRB, conhecido como CET1, estava em 8,1% em junho, de acordo com o banco. O mínimo requerido pela regulação é de 7%. No Itaú, o maior banco da América Latina, era de 13,1%, e no BTG, 12%.
O BRB contratou uma investigação independente para apurar fatos relacionados à operação envolvendo o Master, o banco disse à Bloomberg News em um comunicado. A instituição também disse que o Banco Central acompanhou o processo para substituir os ativos comprados do Master, e adicionou que o BRB atua como credor na liquidação do Master.
O BRB disse ainda que seu conselho de administração aprovou no mês passado um pedido para que o banco atue como assistente de acusação no processo relacionado ao Master.
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Alto crescimento, baixo lucro
O BRB, que tem sede em Brasília, estava voando alto nos últimos anos.
Tradicionalmente um banco de médio porte encarregado da folha de pagamento dos servidores do Distrito Federal, a instituição expandiu para outros estados a partir de 2019, quando Costa se tornou presidente por indicação do governador de Brasília, Ibaneis Rocha.
A expansão passou por linhas de crédito como o consignado e o crédito imobiliário com financiamento vindo de depósitos de investidores pessoas físicas e depósitos judiciais, uma fonte barata e abundante.
Mas a estratégia não aumentou a lucratividade do BRB.
A S&P estima que os cerca de 26% de retorno sobre o patrimônio líquido do primeiro semestre deste ano provavelmente estariam mais próximos dos 6% vistos no ano passado se fossem excluídos os impactos de vendas de carteira que o banco fez para manter os índices de capital.
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O BRB anunciou em janeiro de 2024 que planejava uma oferta de ações, que acabou não dando certo, e por fim fez aumentos de capital de R$ 1 bilhão em duas parcelas, com investidores que não foram informados.
Mesmo com as restrições de capital, o BRB comprou carteiras do Master no ano passado em transações que estão sob investigação pelas autoridades.
A relação entre os bancos foi além em março, quando o BRB disse que compraria o Master, em um negócio criticado no mercado como o resgate de um banco em apuros. A compra acabou rejeitada pelo BC em setembro.

“Entendemos que um prolongamento do processo de investigação enfraquecerá a capacidade de geração de negócios do banco, pressionará sua lucratividade e limitará sua flexibilidade financeira”, disse a S&P em relatório.
Se necessário, o governo de Brasília, principal acionista do BRB, injetaria capital no banco, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto que pediram para não serem identificadas porque as discussões são privadas.
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“O governo do Distrito Federal aguarda a conclusão de apuração relacionada a eventual prejuízo no BRB para avaliar a necessidade de aporte de capital na instituição,” disse o governo do DF em um e-mail para a Bloomberg News. “Reforça, ainda, que caso haja necessidade, e na condição de acionista majoritário do BRB, não envidará esforços para tal medida.”
Mas a Fitch tem dúvidas a respeito do quão efetivo um suporte do tipo poderia ser.
“A investigação e os processos judiciais e supervisórios dos quais o banco está dependente tornam qualquer apoio, principalmente financeiro, do governo do Distrito Federal mais complexo, custoso e politicamente sensível, gerando incerteza sobre timing, escopo e coordenação”, disse a empresa em um comunicado enviado à Bloomberg News por e-mail.
Os efeitos do escândalo do Master se estenderam para além do BRB.
O Will Bank também enfrenta problemas mas escapou de ser liquidado. Antes da liquidação, o Master vinha tentando vender a fintech, e contratou a boutique de assessoria financeira Laplace.
O esforço atraiu o Mubadala, o fundo soberano de Abu Dhabi, e as negociações seguem em andamento, pessoas familiarizadas com o assunto disseram no começo da semana.
Um representante do Will Bank não quis comentar.
E o Banco Pleno, antigo Banco Voiter, foi comprado pelo Master em fevereiro de 2024 e vendido ao ex-sócio do Master Augusto Lima neste ano.
Lima foi preso no âmbito da investigação contra o Master, e também foi solto posteriormente.
O rendimento dos títulos do Pleno chegou a 165% do CDI em 18 de novembro, de acordo com o Valor Econômico. Os maiores bancos do país em geral pagam menos de 100% do DI.
O Pleno disse que “mantém suas operações funcionando normalmente, dentro das normas do Banco Central, e assegura a continuidade de todos os seus serviços e o cumprimento de todas as suas obrigações.”
O banco disse ainda que não tem nenhuma relação societária com as instituições financeiras que estão sob investigação.
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