BTG Pactual aposta em banco nos EUA e câmbio 24/7 para avançar em contas globais

Em entrevista à Bloomberg Línea, os sócios Marcelo Flora e Renato Moritz detalham a estratégia para atender clientes a partir dos EUA depois da conclusão da aquisição do M.Y. Safra, que deverá ser renomeado para BTG Pactual US

BTG Pactual
20 de Agosto, 2025 | 05:21 AM

Bloomberg Línea — O BTG Pactual tem avançado em sua estratégia para crescer em contas internacionais, de olho em servir clientes de alta renda que buscam diversificar investimentos e manter ativos diretamente no exterior, uma área cada vez mais disputada entre instituições no país, incluindo Itaú e Inter.

Em uma das principais frentes, o banco liderado pelo CEO Roberto Sallouti planeja expandir a oferta de serviços nos Estados Unidos uma vez concluída a aquisição do americano M.Y. Safra, anunciada em junho do ano passado.

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Com a obtenção das aprovações regulatórias, o que internamente é esperado para este terceiro trimestre ou até o fim do ano, o M.Y. Safra deverá ser renomeado para BTG Pactual US, segundo executivos que falaram à Bloomberg Línea.

Isso deve permitir ao grupo obter funding diretamente nos Estados Unidos por meio de CDs – sigla para certificados de depósito, em inglês, instrumento semelhante a um CDB – e oferecer serviços como cartão de crédito e financiamento imobiliário, para brasileiros ou clientes de outros países da América Latina.

“A partir do momento em que que passamos a ter o funding local competitivo, isso abre espaço para fazermos um monte de outras coisas no mercado americano”, disse Marcelo Flora, sócio e diretor responsável pela área de Digital e Banking, em entrevista na sede do BTG Pactual, em São Paulo.

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“Vamos começar vendendo CD, mas evoluindo rapidamente para uma savings account, uma checking account”, completou, referindo-se a contas investimento e contas correntes nos Estados Unidos.

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O executivo classificou a expansão como o “last mile” (última milha) de uma aposta do banco que começou em novembro de 2023.

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Na época, o BTG Pactual (BPAC11) lançou o seu serviço de contas internacionais nos Estados Unidos, permitindo que os clientes locais investissem diretamente em ativos negociados em bolsa no exterior, como ações americanas, ETFs e fundos imobiliários.

Em julho de 2024, o banco incluiu fundos de investimentos entre os ativos disponíveis. E, no fim do ano passado, integrou produtos de renda fixa, como títulos de dívida pública ou corporativa.

Segundo Renato Moritz, sócio e co-CEO do BTG Pactual US Capital, que lidera a operação de broker dealer do BTG nos EUA em um escritório em Miami, um próximo passo é oferecer na plataforma UCITS ETFs, como são chamados os ETFs liquidados e domiciliados fora dos Estados Unidos, como na bolsa de valores de Londres, por exemplo.

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Esses são ativos vistos como atraentes para investidores não residentes nos Estados Unidos, porque estão isentos do estate tax – o imposto sobre herança – em um evento de sucessão.

Além disso, o plano inclui oferecer também fundos de ativos alternativos, ligados ao mercado de crédito privado e com prazo mais longo (e menor liquidez).

“Ao fim de 2025, vamos completar um ano com a plataforma bem consolidada e servindo o que os clientes procuram mais frequentemente em termos de alocação de ativo. Nós hoje conseguimos entregar uma experiência bem profunda para os clientes”, disse Moritz.

Transferências internacionais instantâneas

Um novo recurso que entrou no ar recentemente é a possibilidade de realizar transferências entre contas no Brasil para as contas internacionais nos Estados Unidos instantaneamente, em um serviço disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.

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Segundo executivos, o desenvolvimento da funcionalidade exigiu um esforço e um investimento da área de tecnologia para lidar com as complexidades do mercado de câmbio.

Com a nova ferramentas, mesmo as transferências das contas globais para as contas no Brasil agora podem ocorrer de forma instantânea, a qualquer dia ou hora.

“Todo cliente brasileiro que está viajando e quer reabastecer sua conta nos EUA pode fazer isso a qualquer momento, tanto em dias úteis quanto em dias não úteis”, disse Renato Moritz.

“O que implementamos é gerar essa instantaneidade no retorno também, para atender o cliente que, por alguma razão, realizou um investimento no exterior e quer fazer uso imediato desse recurso no Brasil. Antes ela acontecia em D+1”, explicou.

Nessas operações, o BTG atua como broker dealer nos Estados Unidos, sendo responsável pelo relacionamento com os clientes, e trabalha com bancos e parceiros locais que fazem o clearing e a custódia.

Parte dessas operações poderá ser realizada diretamente pelo BTG após a conclusão da aquisição do M.Y. Safra, segundo Marcelo Flora.

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“O foco do broker dealer é o cliente não residente americano, que quer operar no mercado americano. Com o banco é o contrário. O banco vai focar no cliente residente fiscal americano”, disse.

A expectativa é que a operação possa ser usada, inclusive, para oferecer crédito a empresas baseadas nos Estados Unidos. “A ideia é montar uma operação de aquisição de cliente online nos Estados Unidos.”

Expansão internacional

Para servir os clientes nos Estados Unidos, o BTG Pactual tem expandido a equipe fora do país e fortalecido sua operação internacional.

O escritório em Miami passou de 30 pessoas, quando foi inaugurado em 2015, para cerca de 120, que também servem os clientes de wealth.

Além disso, em julho, o head de B2C do BTG Pactual digital, Rogério Karp, se mudou para Miami, para reforçar a estratégia.

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No momento, os serviços nos Estados Unidos voltados para não residentes estão disponíveis para os clientes brasileiros. Mas o BTG Pactual trabalha atualmente para integrar sua infraestrutura da broker dealer para atender também clientes do Chile.

Uma possibilidade no futuro, segundo Marcelo Flora, é expandir o serviço de contas internacionais para clientes do Uruguai, depois da recente aquisição da operação uruguaia do HSBC pelo BTG Pactual.

Na América Latina, o grupo também tem operações bancárias na Colômbia e está em processo para abrir um banco no Peru. Há ainda um escritório no México, que não opera como banco.

“Nós estamos o tempo inteiro analisando oportunidades, como foi o caso do HSBC no Uruguai. É mais uma questão de ter o fit e o preço adequados”, disse Flora.

O executivo ressaltou que, em muitos países da América Latina, é comum as pessoas manterem uma parte significativa de seus investimentos fora de seu país e pensarem em dólar quando tratam dos valores de imóveis ou bens mais valiosos, como carros.

Já no Brasil, por razões históricas do mercado, o investimento no exterior é menos comum entre os clientes tradicionais de banking.

É algo que começou a mudar nos últimos anos, com o surgimento de plataformas como a Avenue e a Nomad e serviços de bancos que permitiram abrir contas no exterior e investir diretamente nos Estados Unidos.

Para o executivo, crescer nesse mercado é um movimento natural para o BTG Pactual depois que o banco de investimento passou por um processo de transformação para oferecer também serviços de banking e de plataforma de investimento.

“Temos o cliente investindo em Tesouro Direto, renda fixa, renda variável, vida, previdência. Ele abre a conta no Brasil, ele faz Pix, ele tem cartão de crédito no Brasil e ele conta com a possibilidade de ter uma conta nos Estados Unidos e ter investimento nos Estados Unidos”, afirmou.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.