Bradesco colhe frutos de turnaround de Noronha, ação sobe 64% e supera alta de rivais

Dois anos após assumir o comando do banco, CEO lidera ajustes que melhoraram a rentabilidade e elevaram o lucro líquido em 28%. Em entrevista à Bloomberg News, ele disse esperar que essa tendência continue à medida que sua estratégia de redução de custos e foco em empréstimos menos arriscados começa a dar frutos

Bradesco colhe frutos de turnaround de Noronha, ação sobe 64% e supera alta de rivais
Por Cristiane Lucchesi - Vinícius Andrade - Matheus Piovesana
21 de Novembro, 2025 | 09:28 AM

Bloomberg — Dois anos após assumir o comando do Bradesco, Marcelo Noronha lidera ajustes que fizeram as ações do banco terem alta de 63,5% neste ano, o que superou o desempenho de todos os outros grandes bancos de varejo brasileiros.

A rentabilidade tem melhorado gradualmente, o lucro líquido subiu 28% em relação aos primeiros nove meses do ano passado, e Noronha disse que os investidores podem esperar que essa tendência continue, à medida que sua estratégia de redução de custos e foco em empréstimos menos arriscados começa a dar frutos.

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“A gente espera entregar um resultado dentro daquilo que era esperado, muito mais perto da banda de cima do guidance do que de baixo”, disse Noronha em entrevista à Bloomberg News. “Vamos continuar crescendo, mas em linhas de crédito seguras e com modelos de crédito bem azeitados.”

A carteira de empréstimos no cartão de crédito do Bradesco para clientes de baixa renda, que tendem a apresentar maiores taxas de inadimplência, caiu 4% no terceiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado.

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Ao mesmo tempo, o banco aumentou a carteira de empréstimos no cartão para clientes de alta renda em mais de 38%. A receita de juros com clientes cresceu 19% e a carteira de crédito renegociado do banco continuou a diminuir.

Embora espere que as eleições presidenciais brasileiras provoquem volatilidade no mercado no segundo semestre do próximo ano, o presidente do Bradesco afirmou que os cortes nas taxas de juros no início de 2026 provavelmente ajudarão a impulsionar o crédito e a reduzir as taxas de inadimplência.

Investidores aprovam ajustes de Marcelo Noronha

Noronha não quis comentar o escândalo envolvendo o Banco Master, que foi liquidado pelo Banco Central no início desta semana em meio a alegações de fraude.

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Cortes de custos e investimentos em inteligência artificial também têm impulsionado os lucros do Bradesco. O banco, com sede em Osasco, reduziu o número de agências, unidades de negócios e postos de atendimento em 1.603 desde setembro de 2024, totalizando 4.744.

“No ajuste do footprint, a gente está acima daquilo que a gente previa inicialmente, por isso vamos reduzir o ritmo nos próximos 12 meses”, disse Noronha.

A carteira de empréstimos do banco cresceu 9,6% nos primeiros nove meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2024, com mais crédito concedido a empresas de médio porte e pessoas físicas em transações com garantia.

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No entanto, a carteira de crédito para grandes empresas foi reduzida em 3,5% nos 12 meses até setembro, para R$ 341,5 bilhões, devido à compressão dos spreads de crédito que afetam a rentabilidade dessas linhas, disse Noronha.

“A gente tem colocado recursos apenas nas áreas que têm um bom retorno ajustado ao risco, e isso se aplica também à carteira de atacado”, disse Noronha.

Embora o banco tenha reduzido a carteira de crédito para grandes empresas, sua atuação na originação de títulos de dívida local e produtos de renda fixa para grandes empresas cresceu, o que contribuiu para o aumento da receita do banco de investimento, disse Noronha.

A participação de mercado do banco na originação de renda fixa local subiu para 19% nos primeiros três trimestres, ante 15% no ano passado, segundo Noronha.

O Bradesco também tem concedido empréstimos a clientes de alta renda de forma agressiva.

Em um exemplo, o banco deixou a concorrência com inveja ao conceder empréstimo-ponte de R$ 15 bilhões à J&F, holding da família Batista, para financiar a aquisição de uma participação de 49,4% na produtora de celulose Eldorado, segundo pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News no início deste ano. As ações da Eldorado foram usadas como garantia.

O Bradesco também emprestou até R$ 750 milhões ao acionista controlador da Cosan, Rubens Ometto, para que ele pudesse participar do aumento de capital da empresa e evitar uma diluição maior da participação de sua família, disseram outras pessoas familiarizadas com o assunto. O empréstimo à Aguassanta, o family office da família Ometto, teve ações da Cosan em garantia, disseram as pessoas.

Mesmo assim, “a qualidade do crédito precisa ser acompanhada de perto, visto que as tendências de atraso nos pagamentos e as provisões para perdas com empréstimos no atacado estão aumentando”, disse Gabriel Gusan, analista sênior do setor na Bloomberg Intelligence, em um relatório sobre o Bradesco.

“A eficiência está melhorando em meio a um ajuste mais rápido da presença física, mas os gastos com transformação e tecnologia ainda pesam sobre a base de custos”, disse Gusan.

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Os custos de crédito do Bradesco aumentaram 20% no terceiro trimestre, principalmente devido a um cliente corporativo específico, segundo o banco.

A despesa com provisões para perdas com empréstimos subiu para R$ 8,56 bilhões no terceiro trimestre, enquanto as provisões para clientes do banco de atacado quintuplicaram, chegando a cerca de R$ 500 milhões em comparação com o ano anterior.

O Bradesco está entre os principais credores da Ambipar, que entrou com pedido de recuperação judicial em outubro. O banco detém R$ 390 milhões em créditos da empresa.

Noronha disse não ver riscos vindos de empresas maiores no futuro próximo e disse estar confortável com o nível de provisões do banco.

Cenário da ação

As ações do Bradesco subiram tanto e tão rápido que agora os analistas especulam que os ganhos podem ter sido excessivos.

Dadas as altas expectativas e a força da valorização deste ano, comprar agora esperando mais ganhos “pode ser um problema”, disse Yuri R. Fernandes, analista do JPMorgan, que classifica as ações como “neutras”.

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“Observamos tendências sólidas no núcleo do negócio do Bradesco, apesar de uma abordagem cautelosa em relação ao crescimento do crédito”, disse Gustavo Schroden, analista do Citigroup, em um relatório. Embora o retorno sobre o patrimônio líquido do banco tenha melhorado por cinco trimestres consecutivos, as variações trimestrais estão “desacelerando e limitadas por um alto nível de despesas”.

O Bradesco reportou lucro líquido recorrente no terceiro trimestre em linha com a estimativa média dos analistas, atingindo R$ 6,21 bilhões, um aumento de 19% em relação ao ano anterior. O banco possui R$ 2,26 trilhões em ativos totais. O retorno sobre o patrimônio líquido médio foi de 14,7%, comparado a 12,4% no ano anterior.

“Continuaremos investindo e entregando resultados melhores a cada ano, mas sem nenhum soluço para não errar a mão”, disse Noronha.

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