BlackRock e MGX compram Aligned Data Centers, dona da Odata no Brasil, por US$ 40 bi

Consórcio liderado pela Global Infrastructure Partners (GIP), da BlackRock, acertou a aquisição da empresa controlada pela Macquarie; Aligned tem 78 data centers em operação ou em desenvolvimento

Aligned Data Centers
Por Ryan Gould - Michelle F. Davis - Matthew Monks - Manuel Baigorri
15 de Outubro, 2025 | 04:44 PM

Bloomberg — Um grupo de investidores liderado pela Global Infrastructure Partners (GIP), da BlackRock, concordou em comprar a Aligned Data Centers (ALGN) em um negócio avaliado em US$ 40 bilhões — um dos maiores investimentos em infraestrutura já realizados pela gestora —, em meio à corrida de Wall Street para garantir participação no boom da inteligência artificial.

A MGX, empresa de investimentos em IA criada pelo fundo soberano Mubadala, participará do investimento ao lado da GIP, segundo comunicado divulgado nesta quarta-feira (15) que confirmou uma reportagem anterior da Bloomberg News.

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Os compradores estão adquirindo a empresa da Macquarie Asset Management, que fez seu primeiro aporte na Aligned em abril de 2018.

A Aligned Data Centers é proprietária da Odata, empresa que opera data centers no Brasil e na América Latina e que foi comprada do Pátria em 2023 em um negócio de US$ 2 bilhões.

Leia também: Odata aposta em data center ‘AI Ready’ para crescer em LatAm, diz CEO

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A GIP e seus parceiros — entre eles Microsoft e Nvidia — miram um dos principais beneficiários dos gastos com IA, no que se torna a maior transação de data centers já registrada. Com sede no Texas e operações nos Estados Unidos e na América do Sul, a Aligned possui 50 campi e 78 data centers em operação ou em desenvolvimento, segundo seu site.

Em janeiro, a empresa obteve mais de US$ 12 bilhões em compromissos de capital e dívida de investidores, incluindo fundos administrados pela Macquarie Asset Management.

O acordo se soma a uma série de grandes transações desde o surgimento do ChatGPT, enquanto investidores buscam exposição aos líderes de uma tecnologia com potencial para transformar indústrias e economias.

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Data center da Odata em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo

Eles têm investido pesado em fornecedores de infraestrutura como Nvidia e SK Hynix, inflado as avaliações de startups como OpenAI e Anthropic e direcionado capital a toda a cadeia de suprimentos que alimenta o avanço da IA.

Segundo relatório do Goldman Sachs divulgado neste mês, empresas relacionadas à IA já respondem por US$ 141 bilhões em emissões de crédito corporativo neste ano, superando os US$ 127 bilhões em todo o ano passado.

Acordo da BlackRock

A compra da Aligned é o primeiro grande movimento de uma parceria criada há um ano entre a BlackRock, sua unidade GIP, a Microsoft e a MGX, voltada a investimentos robustos em IA, data centers e geração de energia para alimentar a tecnologia.

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O CEO da BlackRock, Larry Fink, adquiriu a GIP, de Bayo Ogunlesi, por US$ 12,5 bilhões em 2024, com o objetivo de realizar investimentos de infraestrutura de grande porte, buscados por fundos de pensão, fundos soberanos e outros grandes investidores. A parceria de IA estabeleceu a meta de levantar US$ 30 bilhões em capital próprio, para financiar até US$ 100 bilhões em investimentos.

A infraestrutura se tornou um tema central para investidores que buscam lucrar com o crescimento da IA, desencadeando uma disputa entre as maiores gestoras de ativos alternativos do mundo para adquirir a expertise necessária para construir e operar ativos complexos como data centers. A Blackstone, por exemplo, comprou a QTS Realty Trust por cerca de US$ 10 bilhões em 2021 e, no fim do ano passado, adquiriu a AirTrunk.

Desde então, a Blackstone tem injetado capital nessas empresas, permitindo ampliar significativamente seus projetos e acelerar novas construções para aproveitar a forte demanda das maiores companhias de tecnologia do mundo por capacidade de processamento.

Centros de ‘hyperscalers’

A Aligned atua principalmente com data centers de hyperscalers nas Américas, o que a posiciona bem para atender essa demanda num momento em que o governo Trump tem pressionado as empresas de tecnologia a concentrarem seus investimentos no mercado doméstico.

A empresa também possui um portfólio de oportunidades de desenvolvimento, com terrenos que têm acesso a “fornecimento de energia em larga escala e de curto prazo em mercados centrais”, segundo o comunicado.

Fundada em 2013 — quase uma década antes do boom da IA generativa —, a Aligned sempre teve foco em oferecer data centers personalizados para empresas, com ênfase em eficiência e sustentabilidade.

Construir data centers — e toda a infraestrutura elétrica necessária para sustentá-los — leva tempo. Atualmente, a Aligned tem pouco mais de 600 megawatts de capacidade em operação e outros 700 megawatts em construção, segundo a DC Byte, empresa de inteligência de mercado que monitora o setor. Essa capacidade combinada faz da Aligned uma “operação de porte considerável”, afirmou o fundador da DC Byte, Edward Galvin.

Para comparação, a CoreWeave, provedora de nuvem que firmou acordos com a OpenAI e a Nvidia, tem 470 megawatts em operação, segundo registros públicos, com planos de expansão.

A Aligned não divulga seus números de receita, mas, se cobrasse cerca de US$ 210 por quilowatt ao mês — preço de referência do setor, segundo a consultoria imobiliária CBRE —, teria uma receita anual próxima de US$ 1,6 bilhão. Incluindo a capacidade em construção, esse número poderia chegar a US$ 3,4 bilhões.

Em seu site, a Aligned informa que já atendeu clientes como a empresa de software em nuvem Nutanix, a provedora de TI Datto, além de uma agência governamental não identificada e uma multinacional de tecnologia financeira, entre outros.

A empresa também está construindo um novo data center no Texas para a Lambda, companhia de infraestrutura em nuvem apoiada pela Nvidia. O local ainda está em obras.

Desafio energético

A BlackRock e a Aligned precisarão garantir fornecimento suficiente de energia para todos os novos data centers que planejam construir. A demanda de eletricidade nos Estados Unidos vem disparando após décadas de estabilidade, e os data centers devem consumir mais de 4% da eletricidade mundial até 2035, segundo a BloombergNEF.

Empresas de tecnologia e incorporadoras correm para assegurar conexões à rede elétrica, disputando contratos com concessionárias e geradoras independentes. A BlackRock deu um grande passo nesse setor neste mês, ao obter aprovação dos reguladores de Minnesota para adquirir, por US$ 6 bilhões, a concessionária Allete.

A gestora também estuda a compra da companhia de energia AES, segundo pessoas a par do assunto que falaram com a Bloomberg News.

O acordo da GIP deve ser concluído no primeiro semestre do próximo ano, conforme o comunicado. O consórcio de compra — batizado de Artificial Intelligence Infrastructure Partnership — inclui ainda a Kuwait Investment Authority e a Temasek Holdings, de Singapura, segundo nota separada divulgada na quarta-feira.

A disparada nos valuations tem causado preocupação entre alguns analistas, que argumentam que, embora os gastos e a construção de data centers estejam acelerando, os serviços de IA ainda não se tornaram suficientemente rentáveis para justificar tamanha expansão de capital.

A GIP já é dona da empresa de data centers CyrusOne, com sede em Dallas, em parceria com a KKR. As duas compraram a companhia em 2022, em um negócio avaliado em cerca de US$ 15 bilhões.

“A AIP está posicionada para atender à crescente demanda por infraestrutura necessária à medida que a IA continua a transformar a economia global”, disse Larry Fink, da BlackRock.

A Macquarie vem investindo há anos em infraestrutura digital, incluindo operadoras de data centers, torres e redes de fibra óptica. Ela vendeu outra empresa do setor, a AirTrunk, para a Blackstone em 2024, por 24 bilhões de dólares australianos (US$ 15,6 bilhões).

Outros negócios recentes incluem a Meta Platforms, que levantou US$ 29 bilhões em financiamento para construir um data center na Louisiana, e a Oracle, que captou US$ 18 bilhões em títulos para expandir sua infraestrutura em nuvem.

A Guggenheim Securities atuou como assessora financeira principal dos vendedores, enquanto o Morgan Stanley assessorou os compradores.

-- Com a colaboração de Edwin Chan, Silla Brush, Jack Sidders, Dinesh Nair, Josh Saul, Dana Wollman e Emily Forgash. E com informações adicionais da Bloomberg Línea sobre a operação da empresa no Brasil.

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