Novo barão do petróleo: Slim se torna o maior parceiro de projetos da Pemex

Empresário que construiu fortuna nas telecomunicações tem ganhado proeminência no segmento e se tornou um dos principais aliados da petroleira estatal mexicana

Carlos Slim
Por Amy Stillman - Scott Squires - Andrea Navarro
03 de Junho, 2025 | 03:22 PM

Bloomberg — De forma quase despercebida, o mexicano Carlos Slim, a pessoa mais rica da América da Latina e um dos maiores bilionários do mundo, tem se tornado o mais importante barão do petróleo no país.

Primeiro, Slim construiu aos poucos uma participação na petroleira americana Talos Energy e depois trocou sua fatia pela unidade mexicana da empresa. Em seguida, o empresário fez um negócio em 2023 de US$ 530 milhões para comprar dois campos petrolíferos da PetroBal. Depois veio um plano de US$ 1,2 bilhão para desenvolver uma jazida de gás no Golfo do México.

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Somando tudo, Slim gastou mais de US$ 2 bilhões para se tornar o parceiro privado mais proeminente da estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) — e, na verdade, um dos únicos investidores dispostos a fazer negócios com o monopólio petrolífero que está altamente endividado e enfrenta desafios operacionais.

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Slim construiu seu império de US$ 94 bilhões com base em uma empresa de telecomunicações que foi privatizada, e há uma certa ironia poética na ideia de que aos 85 anos, no final de sua carreira, ele esteja seguindo um caminho similar ao que o catapultou para o topo da riqueza mundial.

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Assim como no leilão governamental da Telmex em 1990, Slim tem uma presidente que conta com sua ajuda, uma empresa que dá prejuízo e precisa de uma injeção de eficiência, e uma indústria com pouca concorrência.

“Ele é um monopolista nato, e quem não gosta de um bom monopólio?”, disse John Padilla, diretor-executivo da consultoria energética IPD Latin America. “Ele joga um jogo completamente diferente de qualquer outro porque tem muitos bolsos dos quais pode tirar dinheiro.”

Carlos Slim Grows His Stake in Oil and Gas | Mexico’s richest person invests more than $2 billion in offshore projects

Por meio de sua empresa, o Grupo Carso SAB, Slim detém uma participação minoritária no campo offshore de Zama, que deverá representar 10% da produção de petróleo do México, e firmou parceria com a Pemex para explorar o projeto de gás em águas profundas de Lakach.

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E, embora a exploração de combustíveis fósseis seja uma operação relativamente nova para ele, Slim herdou executivos e engenheiros experientes por meio de suas aquisições.

No entanto, os recursos financeiros do magnata das telecomunicações podem não ser suficientes para que a Pemex se recupere de uma dívida de US$ 100 bilhões e retome a produção de petróleo, que caiu para uma mínima de 40 anos.

Os problemas financeiros da empresa estão chegando a um ponto crítico após quatro prejuízos trimestrais consecutivos, e mesmo com o apoio de Slim, a exploração dos depósitos de Zama e Lakach pode levar anos.

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O porta-voz e o genro de Slim não comentaram sobre esta reportagem. A Pemex não respondeu a um pedido de comentário.

Investidores têm fugido da Pemex, como o fundo soberano da Noruega, que excluiu a estatal de seu portfólio no mês passado devido a preocupações com corrupção.

Outros grandes players venderam seus ativos mexicanos ou pararam de investir depois que o governo de Andrés Manuel López Obrador encerrou leilões de petróleo e acordos de cessão de participação com a Pemex.

Enquanto isso, uma série de vazamentos de petróleo, incêndios e acidentes fatais deixaram os investidores apreensivos nos últimos anos, apesar das promessas do governo de apoio financeiro contínuo.

A parceria com a Pemex “é um pesadelo para qualquer um agora, a menos que haja algum tipo de garantia do governo de que as coisas vão correr bem”, disse Alejandro Schtulmann, presidente da Emerging Markets Political Risk Analysis, empresa de consultoria com foco na América Latina.

No entanto, Slim “decidiu que, se vai entrar nesse negócio, vai fazê-lo corretamente e tentar montar algo grande”.

Até agora, Slim, que sempre cultivou boas relações de trabalho com os ocupantes do Palácio Nacional, está impressionado com a sucessora de López Obrador, a presidente Claudia Sheinbaum.

Eles se falam a cada poucos meses e ocasionalmente trocam mensagens de texto. “A presidente é boa. Ela é muito trabalhadora”, disse Slim em uma entrevista à Bloomberg News em fevereiro. “Ela entendeu que precisa de investimento do setor privado”, acrescentou Slim.

As reformas de Sheinbaum no setor energético são uma tentativa de trazer capital estrangeiro de volta ao México, incentivando empresas privadas a se associarem em acordos de participação minoritária com a gigante do petróleo.

Mas Padilla, da IPD Latin America, alertou que a nova estrutura pode não ser suficiente para atrair companhias internacionais para projetos de upstream e reverter a produção em declínio nos campos maduros de petróleo e gás do México.

O Ministério da Energia do México e o gabinete de Sheinbaum não responderam a pedidos de comentário.

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- Matéria atualizada com novo título às 17h30 de 3 de junho de 2025 para explicitar que Slim é parceiro de negócios, mas não há sociedade no capital da Pemex.

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