Bebidas alternativas sem álcool criam mercado de US$ 10 bilhões e atraem capital

Mercado global de adaptógenos se expande com pesquisas e startups com oferta de café, cerveja e destilados produzidos com vegetais como ginseng e fungos com maior busca por sobriedade e vida saudável

Gavin Yeung, co-founder of Kinsman bar, prepares a cocktail in Hong Kong, China, on Thursday, Dec. 7, 2023. Kinsman, Hong Kong's first Cantonese-focused cocktail den, aims to introduce locals and thirsty tourists alike to traditional tastes before they’re lost to history. Photographer: Lam Yik/Bloomberg
Por Nicole Sy
14 de Janeiro, 2024 | 07:47 AM

Bloomberg — Se você quiser entender a crescente dicotomia nos hábitos de consumo de bebidas do Reino Unido, comece com o primeiro mês do ano. O país pode ser sinônimo de pubs e martinis, mas Londres também é o local onde a campanha do Janeiro Seco foi lançada, em 2013. E agora, o país está se tornando um líder global na produção de bebidas adaptogênicas — bebidas não alcoólicas que procuram imitar o sabor, a sensação na boca e, mais importante, o efeito de uma bebida alcoólica.

Bebidas adaptogênicas, adotadas tanto pelo movimento dos curiosos sobre a sobriedade quanto pelo da saúde e bem-estar, são enriquecidas com vegetais naturais como ginseng e ashwagandha, que proporcionam benefícios como redução dos níveis de estresse e melhoria das capacidades cognitivas, segundo estudos.

E o mercado global de adaptógenos está em expansão. Ele foi avaliado em mais de US$ 10 bilhões em 2022 e tem previsão de quase dobrar para US$ 19 bilhões até 2032, segundo a empresa de pesquisa Global Market Insights (GMI).

Marcas de bebidas adaptogênicas dos EUA são os grandes nomes da indústria, com produtos apoiados por celebridades como a modelo Bella Hadid, que tem patrocínio da Kin Euphorics. O país teve uma participação de mercado de 35% do espaço mundial de bebidas adaptogênicas em 2022, segundo a GMI.

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Mas as empresas britânicas crescem agressivamente suas próprias marcas, com produtos como Sentia e Three Spirit Drinks ganhando atenção internacional. A varejista britânica Dry Drinker exporta produtos para a Europa, América do Norte e Oriente Médio; as marcas do Reino Unido estão vendendo “muito bem” em relação aos seus equivalentes dos EUA nesses mercados, diz o fundador Stuart Elkington.

A inovação no mercado de bebidas de baixo teor alcoólico ou sem álcool do Reino Unido não é surpreendente, acrescenta Elkington; afinal, é um país que está repleto de álcool há séculos. “Parece que nós fazemos a maioria das coisas primeiro aqui em termos de bebidas”, ele diz.

O número de pessoas que consomem álcool caiu nas últimas duas décadas, segundo um relatório da Alcohol Change UK, a instituição filantrópica que lançou o Dry January (Janeiro Seco), o agora onipresente conceito que desafia as pessoas a fazer uma pausa no consumo de bebida durante um mês.

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No entanto, metade dos britânicos em idade legal para beber ainda consome álcool semanalmente, segundo o Serviço Nacional de Saúde do país (NHS) em uma pesquisa de 2022, deixando espaço para inovação no mercado não alcoólico.

Alternativas ao álcool

“Fomos a primeira bebida destilada funcional não alcoólica a ser lançada no Reino Unido”, diz Dash Lilley, chefe de produto da Three Spirit Drinks, baseada em Londres. A empresa vendeu sua primeira garrafa em novembro de 2018 e lançou mais dois produtos no ano seguinte. (A Kin Euphorics estreou nos EUA em dezembro de 2018.)

“Se eu não vou consumir álcool em um momento tradicional de consumo de álcool, sejamos honestos, eu quero uma bebida que possa fazer algo por mim”, diz Lilley.

Como funciona? “O álcool é muito bom em estimular alguns desses receptores, dopamina, serotonina, GABA [ácido gama-aminobutírico, um neurotransmissor inibitório], que são essencialmente seus receptores de recompensa”, ele explica. “Então começamos a procurar por plantas — compostos ativos dentro de plantas — que pudessem estimular ou acionar esses neurotransmissores.”

Os investidores estão prestando atenção. A empresa captou US$ 3 milhões em uma rodada de financiamento da Série A baseada nos EUA em 2021, liderada pela Circle Up Growth Partners.

Os recurrsos foram especificamente direcionados para “expandir a manufatura nos EUA e continuar a pesquisa científica”, segundo Tatiana Mercer, cofundadora da Three Spirit Drinks.

Sediada a cerca de uma hora de carro de Londres, a Gaba Labs, baseada em Hemel Hempstead e cofundada por David Orren e David Nutt, formulou a sua bebida exclusiva Sentia. A bebida tenta recriar os efeitos que muitas vezes vêm do álcool, como o relaxamento e a sociabilidade, mas sem os inconvenientes, como ressacas.

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Até agora, a Gaba Labs levantou 3 milhões de libras (US$ 3,81 milhões), com base numa avaliação de 50 milhões de libras, de acordo com Orren. Eles esperam triplicar esse investimento numa rodada de 2026 com a expansão da linha de produtos para incluir um ingrediente sintético a ser vendido para gigantes de bebidas, acrescenta ele.

Adaptogênicos em outros segmentos

À medida que estas empresas se expandem, elas também olham além do mercado alternativo ao álcool. O escritório da London Nootropics no moderno bairro de Angel tem prateleiras repletas de caixas coloridas em tons pastel, cada uma contendo sacos de café adaptogênico, prontas para serem embaladas e enviadas para os quase 4.000 assinantes e varejistas.

A bebida é formulada com café e adaptogênicos como o cogumelo juba de leão e a planta rhodiola rosea; os adaptogênicos suavizam alguns dos efeitos da cafeína, diz o cofundador Zain Peer. Em vez do típico pico e queda de energia e alerta que vem com uma xícara de café, o pico é mais longo, e a queda é mais suave, ele afirma.

Em vez de lutar por espaço nas prateleiras dos supermercados, o modelo de negócio da empresa é focado em assinaturas e parcerias corporativas. A empresa fornece às cozinhas da Meta (META) em Londres e tem contratos com o Standard Hotel. Mais tarde, este ano, o seu produto estará disponível em alguns hotéis Nobu pela Europa e no hotel e spa Beaverbrook em Surrey.

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A London Nootropics foi iniciada com um orçamento modesto, com 12.000 libras em 2019. “Somos uma startup com 100% dos recursos próprios”, diz Peer sobre seus esforços de captação de recursos.

Ele e o cofundador Shez Shaikh causaram impacto quando apresentaram o seu produto no reality show Dragon’s Den da BBC, recusando no final duas oportunidades de investimento dos investidores, ou “dragões”, Deborah Meaden e Sara Davies. (Eles não descartam um investimento externo no futuro; Peer diz, “levantar fundos pode ser uma opção no futuro.”) A receita cresceu 300% anualmente nos últimos 3 anos, segundo os cofundadores.

Para os bebedores de cerveja, a cerveja de cogumelos Fungtn, com sede na capital galesa de Cardiff, é feita com adaptogênicos como reishi e chaga.

Novas gerações

A geração Z e os millennials continuam a ser fortes impulsionadores da tendência adaptogênica, à medida que os jovens adultos optam por estilos de vida mais saudáveis ou mais acessíveis.

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Até 29% dos consumidores, millennials têm adquirido bebidas que potencializam a cognição, de acordo com a empresa de análise de mercado de bebidas IWSR.

“Não é impulsionado pela indústria, isso é impulsionado pela geração de consumidores que estão procurando maneiras melhores e mais saudáveis de viver”, diz Orren. “E eu acho que a indústria está respondendo ao risco de perder o bonde”.

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Embora nem todas as empresas sobrevivam uma vez que o burburinho em torno das bebidas adaptogênicas desapareça, a GMI prevê um mercado duradouro, com o aumento da consciência em relação a estilos de vida saudáveis pós-covid desempenhando “um papel importante no aumento do mercado para adaptógenos” na indústria de alimentos e bebidas, de acordo com seu relatório.

“Adaptógenos são muito maiores do que não-alcóolicos”, diz Lilley. Isso “conquistou a imaginação do consumidor”.

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