Barbie pode salvar o varejo? Como o filme deve impactar o setor no Brasil

Redes como Renner, C&A e Riachuelo lançam coleções com foco na boneca mais famosa do mundo, enquanto shoppings se beneficiam do aumento do fluxo de clientes

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Bloomberg Línea — O filme “Barbie”, lançado há menos de uma semana, tem garantido não só recordes de bilheterias como gerado negócios: cerca de US$ 472* milhões para a Mattel (MAT) e a Warner Bros Discovery até aqui. E também começa a impulsionar as vendas de empresas do varejo de moda e shoppings brasileiros.

Companhias como Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Riachuelo (GUAR3) lançaram coleções com foco na boneca mais famosa do mundo, que enfatizam os tons de rosa e os desenhos. Em outros países, varejistas como a Zara apostaram em looks parecidos com o da Barbie.

A expectativa das marcas é pegar carona no sucesso do filme, algo que vai além onda de roupas pink que caracterizam as filas dos cinemas. Em alguns casos no Brasil, é uma aposta em um momento de consumo em desaceleração para empresas.

A Renner, por exemplo, passa por momento assim: no primeiro trimestre, teve uma queda de quase 76% no lucro trimestral na base em 12 meses, para R$ 46,8 milhões. A geração de caixa - de R$ 35 milhões - veio abaixo do esperado por analistas, que citaram uma dinâmica pior de receita por causa do cenário macroeconômico, de remarcações e do fechamento de lojas.

Para o segundo trimestre, o resultado esperado por analistas do mercado é de demanda desaquecida, maiores níveis de remarcação e com efeitos ainda de uma forte base de comparação. Para a Genial Investimentos, melhoras nos lucros devem ser vistas nos próximos trimestres, “mas a volta de demanda não deve ser imediata e a recomposição de margens deve ser algo gradual”.

Em relatório, a XP Investimentos (XP) afirmou que as coleções relacionadas à Barbie ”podem contribuir para a melhora de fluxo dos varejistas”, mas não o suficiente para ter um efeito material nos resultados, “uma vez que essas coleções tendem a ser pouco representativas dentro do sortimento”.

“Entendemos que o consumidor ainda está fragilizado e as colaborações dentro do tema não são tão representativas do todo. Isso ajuda em termos de visibilidade da marca, mas não achamos que vamos ver uma grande mudança em termos de resultado”, diz Danniela Eiger, head de varejo e co-head de equity research da XP. “Na nossa visão, o macro continua sendo um dos principais ofensores em termos de resultados para os clientes — a inflação continua alta e eles continuam endividados.”

Ainda segundo Eiger, é preciso levar em conta também a presença de players asiáticos do e-commerce, como a Shein e a AliExpress, que se tornaram grandes concorrentes das varejistas de moda brasileira. Uma nova regra do governo federal que altera a regra de alíquota de importação para compras do exterior, com isenção para valores até US$ 50, começará a valer a partir do dia 1º de agosto.

“Isso ainda vai evoluir e é algo que deve ser monitorado nos próximos meses, mas achamos que não vai mudar tanto o jogo já nos próximos resultados”, disse a head de research para o varejo.

Mas, ainda que para grandes varejistas as vendas relacionadas ao filme não sejam tão significativas, a situação pode ser outra para pequenas e médias empresas. De acordo com um levantamento realizado pela Nuvemshop, uma plataforma para a criação de lojas, PMEs venderam 39% mais produtos com a cor rosa em julho do que no mesmo período do ano passado. Foram vendidos mais de 120 mil itens.

“Estamos observando o rosa como uma grande tendência a partir de um fenômeno cultural, com o lançamento de um filme muito relacionado a essa cor. Tudo isso é refletido nas redes sociais, com o crescimento de publicações com estética cor-de-rosa. Atentos à tendência, os empreendedores online embarcaram na ‘onda rosa’ para vender produtos relacionados à cor, como acessórios e roupas”, afirmou Marcela Orlandi, head de Sucesso do Cliente na Nuvemshop.

Efeitos nos shoppings

Um setor que deve realmente se beneficiar de lançamentos do cinema como “Barbie” e “Oppenheimer”, este da Universal Studios, é o de shoppings.

Com um fluxo de clientes maior em busca de ingressos para assistir aos dois longas mais buscados do segundo semestre até aqui - e do ano em alguns casos -, grupos como Multiplan (MULT3) e Iguatemi (IGTI11) devem sentir um impacto positivo, especialmente no que se refere ao aumento da receita com estacionamento, que representa cerca de 30% do total, em média, para shoppings.

Segundo a XP, “esse fluxo mais robusto também deve ajudar na dinâmica positiva de vendas do lojista”, em especial para o Iguatemi, que também oferece o evento Barbie Dreamhouse no shopping JK, em São Paulo, o que deve aumentar ainda mais a quantidade de pessoas que visita o local.

--*Número atualizado para os valores globais de bilheteria segundo o site BoxOffice Mojo, que monitora o setor

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