Banco do Brasil entra com denúncia na AGU e diz ser alvo de aliados de Bolsonaro

Banco estatal vê ação de Eduardo Bolsonaro e outros apoiadores em distribuir mensagens nas redes sociais contra o banco; filho de ex-presidente diz que denúncia ‘irá piorar a imagem internacional da instituição’

Banco do Brasil
Por Matheus Piovesana
25 de Agosto, 2025 | 02:18 PM

Bloomberg — O Banco do Brasil acusou aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro de tentarem desestabilizar o banco estatal publicando falsas alegações sobre as finanças e incitando clientes a sacar dinheiro de suas contas.

Em denúncia apresentada à Advocacia Geral da União (AGU), o Banco do Brasil afirmou que o filho de Bolsonaro, Eduardo, e outros estavam alegando nas redes sociais que o banco será banido do sistema global de pagamentos SWIFT, enquanto outros disseram que houve uma corrida bancária no Banco do Brasil Américas, banco americano controlado pelo BB.

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Em comunicado, Eduardo Bolsonaro diz que a denúncia “só irá piorar a imagem internacional da instituição” (leia mais abaixo).

Leia também: Banco do Brasil muda foco para pessoa física após agro derrubar rentabilidade

O Banco do Brasil disse em um comunicado na sexta-feira que buscará “medidas legais adequadas” para proteger sua reputação, sem mencionar diretamente as postagens nas redes sociais ou sua queixa à AGU.

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“O Banco do Brasil atua em plena conformidade à legislação brasileira, às normas dos mais de 20 países onde está presente e aos padrões internacionais que regem o sistema financeiro”, afirmou o banco.

A denúncia do Banco do Brasil também destacou um vídeo postado por Eduardo Bolsonaro em seu canal no YouTube, que alegava que o banco seria isolado dos mercados internacionais por causa das sanções da Lei Magnitsky, que permite aos EUA sancionar autoridades estrangeiras acusadas de corrupção e abusos de direitos humanos.

Segundo o banco, o deputado federal de direita Gustavo Gayer e outros estão entre os que têm usado suas contas em redes sociais para espalhar informações falsas, de acordo com uma cópia da denúncia vista pela Bloomberg News.

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A assessoria de Gayer disse que o deputado fez um comentário sem citar o nome do banco. “Gayer fez um comentário acerta das consequências de falas de Moraes que poderiam, essas sim, levar a um colapso nos bancos do brasileiros”, disse em comunicado.

Os clientes têm pedido esclarecimentos após verem postagens nas redes sociais, de acordo com a denúncia do banco, que afirmou que as falsas alegações têm o potencial de desestabilizar o sistema financeiro brasileiro, prejudicando a reputação dos bancos locais.

A reclamação inclui exemplos de postagens no X, na rede social Threads, de propriedade da Meta, e no YouTube.

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O Banco do Brasil não quis comentar nesta segunda-feira. As ações do banco (BBAS3) caíram 0,9% às 11h20 em São Paulo, para R$ 20,32.

A maioria das postagens se refere a uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino, que decidiu na semana passada que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros devem ser aprovadas no Brasil para terem efeito no país.

A decisão ocorreu após sanções do governo americano contra outro ministro do STF, Alexandre de Moraes, sob a Lei Magnitsky, por causa de suas decisões contra Bolsonaro em um julgamento centrado na suposta tentativa de golpe de estado de 2023.

O Banco do Brasil administra a folha de pagamento do Supremo Tribunal Federal, e Eduardo Bolsonaro disse que manter a conta de Moraes aberta poderia tornar o banco alvo do governo Trump.

“Se já achava que os clientes do Banco deveriam tomar cuidado, agora isso fica ainda mais evidente”, disse Eduardo Bolsonaro em um comunicado na segunda-feira, em referência às acusações do banco contra ele. “Essa denúncia só irá piorar a imagem internacional da instituição.”

O filho do ex-presidente também disse que não tinha “nenhum foco no Banco”, mas após a acusação de tentativa de desestabilização da instituição financeira, “não há como deixar a atuação do banco de fora dos relatórios que tenho produzido” para as autoridades americanas em relação às sanções contra o Brasil.

Ao longo do fim de semana, os executivos do banco publicaram o comunicado divulgado na sexta-feira em suas redes sociais, incluindo o LinkedIn.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse no sábado (23) que o Banco do Brasil está sob ataque de aliados de Bolsonaro, segundo o jornal Valor Econômico.

Ele também disse que a inadimplência na carteira de agronegócio do banco está aumentando por causa de ações políticas coordenadas, sem apresentar provas.

-- Reportagem atualizada às 16h56 para incluir as respostas de Eduardo Bolsonaro e Gustavo Gayer.

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