Azul avança no Chapter 11 com pedido de suspensão de contrato de aeronaves

A empresa apresentou pedido a uma corte americana para suspender a entrega de parte dos aviões; negociações com a Gol estão em segundo plano, diz VP

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30 de Maio, 2025 | 05:08 PM

Bloomberg Línea — A Azul (AZUL4) deu os primeiros passos para avançar no processo de Chapter 11 nos Estados Unidos (equivalente à recuperação judicial no Brasil).

A companhia aérea realizou sua primeira audiência em uma corte norte-americana e um dos principais pedidos, entre mais de 20, foi a suspensão do contrato de parte das aeronaves de sua frota, segundo o vice-presidente institucional e corporativo da Azul, Fábio Campos.

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“A primeira audiência teve o efeito de apresentar o caso, mostrar como a companhia funciona e quais acordos fechamos, além de fazer os pedidos mais voltados para o dia a dia da empresa. Não tivemos nenhuma objeção”, disse Campos em conversa com jornalistas nesta sexta-feira (30).

O pedido para recusar algumas aeronaves refere-se a modelos de geração antiga, explicou o executivo, como por exemplo o Embraer 195 (E1). “Essas aeronaves já não estavam voando devido à crise da cadeia global de fornecedores, seja por falta de motor ou de peças.”

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A companhia havia divulgado em comunicado que pretendia reduzir até 35% da sua frota. No entanto, Campos afirma que esse percentual refere-se ao último plano da companhia, de cerca de cinco anos atrás.

“Isso não quer dizer que haverá uma redução de 35% da frota atual da empresa. Muitos dos aviões que estão incluídos nessa redução são aeronaves que já não estão voando devido ao problema da cadeia de suprimentos”, afirmou.

Uma parte da redução, acrescentou, será de pedidos futuros de recusa que a Azul pretende renegociar durante o processo de reestruturação financeira.

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“A companhia faz o pedido ao juiz e, sendo autorizado, vamos conversar com os arrendadores”, disse o executivo.

Neste primeiro momento, o pedido de recusa refere-se a nove aeronaves.

Campos acrescentou ainda que, em termos gerais, a frota da companhia já está toda mapeada. “Buscamos obviamente ficar com aeronaves de nova geração. Quando falamos de otimização de frota, é não manter aviões que não fazem mais sentido.”

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A Azul entrou com pedido de Chapter 11 já acordada com sua principal lessora, a AerCap, responsável por cerca de 60% dos arrendamentos de aeronaves da companhia.

“Fechamos acordo com AerCap e abrimos frente para negociação com todos os nossos lessores”, disse Campos.

Sobre a malha, o vice-presidente disse que o processo não deve impactar o dia a dia da Azul, embora mudanças sejam algo natural. “A empresa olha todo dia para isso.”

Negociações com a Gol

Questionado sobre as negociações com o grupo Abra, holding que controla a Gol (GOLL4) para uma possível fusão com a rival brasileira, Campos afirmou que agora o foco da Azul é “100% em seu processo de reestruturação”.

Ele acrescentou que o memorando de entendimento (MOU, na sigla em inglês) para a fusão segue existente e não possui validade, mas reforçou que o foco é o Chapter 11 da Azul.

A expectativa é que a companhia conclua o processo ao final deste ano, ou no início de 2026.

Campos esclareceu que, durante a primeira fase do processo, uma parte do financiamento obtido pela companhia na modalidade “debtor-in-possession” (DIP) será destinada ao caixa da companhia.

A injeção do capital, de US$ 250 milhões, foi aprovada ontem pelo juiz, informou o executivo.

Em uma segunda etapa, uma outra parcela do DIP será usada para pagar uma dívida da companhia e fazer uma nova injeção no caixa.

Na reta final do processo, uma terceira parte do DIP será novamente para injeção de recursos na aérea.

A expectativa é que, na saída do Chapter 11, a alavancagem medida pela relação dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) alcance três vezes.

“A empresa não entrou no processo por necessidade de proteção, mas para formalização de acordos”, disse Campos.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.