Bloomberg Línea — Com o aperto nos recursos da poupança e o patamar elevado da taxa Selic, incorporadoras enfrentam um cenário de crédito mais restrito e competitivo. Para contornar o aperto, muitas têm buscado alternativas no mercado financeiro, recorrendo a CRIs, fundos imobiliários e investidores privados. A estratégia, porém, exige trânsito no mercado financeiro — um desafio adicional para pequenas e médias construtoras que operam longe dos holofotes da Faria Lima.
O Sienge, do grupo Starian (do ecossistema Softplan), tem a ambição de intermediar os dois mundos. O core business da plataforma é um software de gestão empresarial voltado para a construção civil, mas o Sienge acaba de lançar uma nova frente de negócios com uma assessoria de crédito. O objetivo, portanto, é atuar como ponte entre construtoras e incorporadoras e o mercado financeiro.
“Novas formas de funding são necessárias e há muitos players querendo oferecer esse produto, mas não ocorre o match. Existem construtoras no interior do Brasil com apenas três canteiros de obra que precisam de financiamento do mercado de capitais mas não têm acesso à Faria Lima”, afirmou Cristiano Gregorius, diretor executivo do Sienge, em entrevista à Bloomberg Línea.
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A meta do Sienge é fazer a conexão entre mercado e construtoras por meio da base de 9.000 clientes que faz uso de seu software.
O foco da companhia são clientes pequenos e médios, que faturam de R$ 20 milhões a R$ 100 milhões ao ano, mas o Sienge também tem alguns players maiores na carteira, como a Cury (CURY3) e a Patriani.

Na outra ponta do novo “marketplace do crédito” estão 29 players financeiros, em sua maioria fintechs. Entre eles, estão o Santander Brasil e a startup Makasi, voltada para o financiamento à construção.
A expectativa é que o banco de dados do Sienge possibilite condições mais vantajosas tanto para construtoras quanto para quem concede o crédito.
Isso porque, mesmo com relacionamento estabelecido, muitas vezes os bancos operam no escuro quanto ao potencial financeiro de uma incorporadora por não ter acesso a informações operacionais como visibilidade sobre contas a receber ou ativos vinculados a contratos.
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“À medida que entregamos essas informações de forma consolidada para o agente financeiro, o crédito que ele vai ofertar para o nosso cliente tende a ser muito melhor. O agente vai estar mais disposto a tomar riscos, porque vai ter mais informações, mais contexto”, disse Gregorius.
O Sienge estima em R$ 16 bilhões o potencial de crédito entre os 5.000 clientes do Sienge Plataforma – versão completa de gestão do software.
A projeção é que ao menos R$ 370 milhões sejam contratados já nos próximos seis meses. Em cinco anos, a estimativa é que R$ 4 bilhões em crédito sejam captados juntos à assessoria.
O lançamento da vertical de assessoria aconteceu no início do ano para a base do Sienge - e começou a ser aberto para outros clientes a partir de junho.
O Sienge lançou ainda uma conta digital empresarial desenvolvida via Banking as a Service (BaaS) pelo Banco Arbi e com integração nativa à plataforma.
“O Sienge Conta é uma alavanca da conexão do cliente com a Faria Lima. No momento que ele opera essa conta que está embedada no Sienge, podemos ver o fluxo de caixa diário dele. Consigo ter mais segurança e passo a ter mais informações, para que os agentes financeiros consigam fazer uma análise de crédito melhor da construtora”, explicou.
A plataforma tem expectativa de faturamento de R$ 300 milhões para 2025, um crescimento 25% acima do registrado no último ano. O Sienge não abre expectativa de números para os próximos anos, mas estima que a frente financeira deve representar 20% da receita da plataforma até 2029.
Gregorius afirmou que o grupo não pretende ter uma fintech dentro de casa para conceder crédito – ao menos não por enquanto.
“Preferimos começar como originadores. Entrar no mercado de crédito naturalmente é muito atrativo. Mas ainda precisamos avaliar a capacidade de execução e entender se funciona para nós.”
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