Wells Fargo prevê onda conservadora no Brasil e em LatAm e efeito sobre o dólar

Estrategistas do banco americano projetam maior probabilidade de vitória de candidatos de direita nas eleições em 2026, incluindo Chile e Colômbia, o que redefiniria a estabilidade das moedas locais diante de agenda com atenção fiscal

Os estrategistas Brendan McKenna e Azhin Abdulkarim entendem que a América Latina passa por uma onda conservadora (Foto: Angus Mordant/Bloomberg)
10 de Novembro, 2025 | 07:24 AM

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Bloomberg Línea — A mudança política prevista pelo Wells Fargo na América Latina terá impactos relevantes sobre as economias da região.

O banco norte-americano apontou em relatório distribuído a clientes na última sexta-feira (7) que as tendências de governos de direita ou centro-direita no Brasil, no Chile e na Colômbia não apenas redefiniriam o cenário político regional mas também moldariam a trajetória das moedas locais nos próximos dois anos.

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Nesse sentido, as eleições de 2026 poderão determinar se os bancos centrais locais conseguirão manter seus ciclos de flexibilização monetária ou se terão que revertê-los diante de novas pressões fiscais e cambiais.

Brendan McKenna e Azhin Abdulkarim, estrategistas da Wells Fargo, argumentam que “sempre, mas especialmente nos próximos 12 meses, os acontecimentos políticos na América Latina serão fundamentais para os investidores e as empresas com exposição à região“.

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Ambos disseram acreditar que a região passa por “sua segunda ‘onda conservadora’, uma expressão que reflete nossa visão de que as plataformas políticas de direita vencerão todas as eleições até o final do próximo ano“.

O relatório enfatiza que os resultados das eleições influenciarão diretamente as expectativas do mercado de câmbio e a calibração dos ciclos de política monetária.

Em todos os casos, o Wells Fargo prevê volatilidade antes das eleições e ajustes graduais depois delas, a depender do grau de disciplina fiscal dos novos governos.

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Brasil: disciplina fiscal e alívio para o real

Para o Brasil, o banco atribui uma probabilidade de 55% a um cenário em que Lula seja derrotado, em comparação com uma chance de 45% de continuidade.

Os analistas acreditam que a inflação alta e a volatilidade local estão inclinando os eleitores para candidatos com ênfase na responsabilidade fiscal e na sustentabilidade da dívida pública.

“Consideramos que a plataforma geral de políticas conservadoras, e não um candidato específico, conduzirá o voto em 2026“, apontam no relatório.

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Um governo de direita reforçaria a confiança no real brasileiro, com uma “forte flexibilização” após as eleições e uma postura mais confiante do Banco Central.

De acordo com o documento, “a mudança para um governo fiscalmente conservador melhora o sentimento dos investidores em relação ao real brasileiro e o BRL experimenta um forte alívio após as eleições projetadas para 2026“.

Por outro lado, o Wells Fargo estima que um quarto mandato de Lula implicaria um estímulo fiscal significativo e uma desvalorização do real. “O real se enfraquece acentuadamente à medida que a cartilha eleitoral de Lula é totalmente implementada antes e depois da eleição”, apontaram no estudo.

Nesse cenário, o Banco Central seria forçado a interromper o ciclo de redução da taxa de juros à medida que a incerteza aumentasse no final de 2026 e em 2027.

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Chile: peso vulnerável ante fragmentação política

O relatório coloca José Antonio Kast como o favorito para a presidência do Chile, com 55% de chance de vitória, em comparação com 35% para Jeannette Jara e 10% para Matthei ou Kaiser.

O Wells Fargo enfatiza que o mercado de câmbio poderia reagir fortemente a uma eventual vitória da esquerda. “Uma vitória de Jara no primeiro turno seria um choque, e o CLP [peso chileno] e o BCCh [banco central] se enfraqueceriam acentuadamente”, alertaram os estrategistas na análise.

O texto apontou que um governo Jara, associado ao intervencionismo estatal, geraria vendas de pesos e um atraso no ciclo de corte de taxas do banco central.

Em contrapartida, uma vitória de Kast, com base nos temas de segurança, disciplina fiscal e menor intervenção estatal, poderia estabilizar os mercados após o primeiro turno. “A volatilidade do CLP pode aumentar após o primeiro turno, mas uma vitória de Kast estabiliza os mercados locais”, disse o Wells Fargo.

Em qualquer um dos cenários de vitória da direita, o banco americano projeta um enfraquecimento gradual do peso chileno no horizonte de 12 meses, com o banco central retomando os cortes nas taxas por volta de 2026. Os fluxos externos e o tom fiscal conservador definiriam a trajetória de médio prazo do peso.

Colômbia: peso da política fiscal

Na Colômbia, o Wells Fargo atribui 55% de probabilidade de um retorno da direita ou centro-direita contra 45% de continuidade da esquerda.

O banco americano ressaltou que o presidente Gustavo Petro não poderá se candidatar novamente, mas seu índice de aprovação e o desempenho do Pacto Histórico poderiam influenciar o candidato Iván Cepeda ou quem quer que ele nomeie como seu sucessor.

“Se o apoio a Petro melhorar, talvez devido às tensões com os Estados Unidos, juntamente com o reconhecimento da marca associada a Cepeda, a esquerda poderá obter duas vitórias consecutivas nas eleições presidenciais”, apontaram os analistas.

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“Uma vitória de Cepeda em 2026 manteria o risco político local elevado e os fundamentos adicionais do mercado cambial subjacente provavelmente não melhorariam”, afirmaram no relatório.

Nesse caso, o peso colombiano continuaria a ser classificado como uma moeda de mercado emergente de “alta vulnerabilidade”.

Por outro lado, um retorno do centro ou da direita, liderado por figuras como Sergio Fajardo ou Vicky Dávila, implicaria uma política mais ortodoxa e uma redução do risco-país.

“O peso colombiano tornou-se uma moeda de ‘alta vulnerabilidade’ durante o governo Petro, já que os riscos políticos permaneceram elevados e os fundamentos econômicos subjacentes se deterioraram”, disse o Wells Fargo.

“Em nossa opinião, uma mudança para o centro ou para a direita, mas especialmente com Fajardo ou Davila, reduzirá a vulnerabilidade geral da taxa de câmbio.”

A avaliação de McKenna e Abdulkarim, portanto, é que essa “segunda onda conservadora” não apenas definiria a orientação política da América Latina mas também a direção de suas moedas e políticas monetárias.

Para ambos, os mercados reagirão mais às mudanças na direção fiscal do que aos nomes em si.

Como resultado, 2026 poderia consolidar uma região com menos estímulo fiscal, moedas mais estáveis e bancos centrais retornando ao caminho da disciplina monetária.

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