Tesla perde US$ 150 bilhões em valor de mercado após embate entre Musk e Trump

Ações da montadora recuaram 14,3% nesta quinta, na esteira da troca pública de acusações dos ex-aliados; presidente americano chegou a ameaçar a retirada de contratos federais e subsídios concedidos às empresas do bilionário

Fim de créditos e incentivos federais pode custar metade do lucro projetado para a Tesla neste ano, segundo analistas (Foto: David Paul Morris/Bloomberg)
Por Richard Clough - Ari Natter
05 de Junho, 2025 | 06:12 PM

Bloomberg — As ações da Tesla afundaram 14,26% nesta quinta-feira (5), à medida que a desavença entre Elon Musk e o presidente Donald Trump “escalou” para se tornar uma guerra pública de palavras entre duas das pessoas mais poderosas do mundo.

Trump disse na quinta-feira mais cedo que estava “muito decepcionado” com as críticas do CEO da Tesla ao projeto de lei de política fiscal assinado pelo presidente.

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Musk rebateu em vários posts nas redes sociais, dizendo em uma delas que, “sem mim, Trump teria perdido a eleição”.

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Posteriormente, o presidente ameaçou rescindir contratos federais e subsídios concedidos às empresas de Musk e disse que havia pedido ao líder da Tesla e da SpaceX para deixar seu governo, o que Musk disse ser uma “mentira”.

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As ações da Tesla (TSLA) tiveram a maior queda em termos percentuais desde 10 de março. A desvalorização “apagou” cerca de US$ 150 bilhões do valor de mercado da fabricante de veículos elétricos, para cerca de US$ 890 bilhões.

Ações da Tesla aceleram as perdas na tarde desta quinta-feira (5) após bate-boca de Elon Musk com o presidente dos EUA, Donald Trump

O espetáculo da pessoa mais rica do mundo e do líder da maior potência global lançando insultos um contra o outro nas mídias sociais marca uma ruptura impressionante de uma aliança política que já foi considerada formidável até poucas semanas atrás.

Musk gastou mais de US$ 250 milhões para ajudar a garantir o retorno de Trump à Casa Branca durante a campanha de 2024.

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Trump, por sua vez, encarregou Musk de liderar um amplo esforço para reduzir os gastos do governo - por meio do DOGE - e remodelar a burocracia federal antes que o bilionário se afastasse dessa função na semana passada.

Ao mesmo tempo, as políticas tributárias de Trump e de legisladores republicanos colocam bilhões de dólares em risco para a Tesla, de longe o maior negócio de Musk.

A enorme lei tributária de Trump eliminaria em grande parte um crédito no valor de até US$ 7.500 para os consumidores de alguns modelos da Tesla e outros veículos elétricos até o final de 2025, sete anos antes do previsto.

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Isso se traduziria em uma perda de aproximadamente US$ 1,2 bilhão para o lucro da Tesla no ano inteiro, de acordo com analistas do JPMorgan.

Depois de deixar seu cargo de consultor formal na Casa Branca na semana passada, Musk assumiu a missão pessoal de bloquear a lei tributária assinada pelo presidente, que ele descreveu como uma “abominação nojenta”.

A pessoa mais rica do mundo tem feito lobby junto aos legisladores republicanos - inclusive fazendo um apelo direto ao presidente da Câmara, Mike Johnson - para preservar em lei os valiosos créditos fiscais para veículos elétricos.

Uma legislação separada aprovada pelo Senado, que ataca os mandatos de vendas de veículos elétricos da Califórnia, representa outro obstáculo de US$ 2 bilhões para as vendas de créditos regulatórios da Tesla, de acordo com o JPMorgan.

Juntas, essas medidas ameaçam cerca de metade dos mais de US$ 6 bilhões em lucros antes de juros e impostos que Wall Street espera que a Tesla alcance este ano, disseram analistas liderados por Ryan Brinkman em um relatório de 30 de maio.

A Tesla não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Bloomberg News.

O projeto de lei fiscal aprovado pela Câmara eliminaria agressivamente os créditos fiscais para a produção de eletricidade limpa e outras fontes anos antes do previsto.

Também inclui restrições rigorosas sobre o uso de componentes e materiais chineses que, segundo analistas, tornariam os créditos fiscais inúteis e limitariam a capacidade das empresas de vendê-los a terceiros.

A divisão da Tesla focada em sistemas solares e baterias criticou separadamente o projeto de lei republicano por eliminar os créditos fiscais de energia limpa, dizendo que “acabar abruptamente” com os incentivos ameaçaria a independência energética dos EUA e a confiabilidade da rede elétrica.

As políticas de energia limpa e de veículos elétricos ameaçadas foram, em grande parte, promulgadas como parte da Lei de Redução da Inflação do ex-presidente Joe Biden.

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A lei foi projetada para incentivar as empresas a construir uma cadeia de suprimentos doméstica para energia limpa e veículos elétricos, concedendo às empresas mais dinheiro se elas produzirem mais baterias e veículos elétricos nos EUA.

A Tesla tem uma ampla presença doméstica, incluindo fábricas de automóveis no Texas e na Califórnia, uma refinaria de lítio e fábricas de baterias.

Com essas políticas da era Biden em vigor, as vendas de veículos elétricos nos EUA aumentaram 7,3%, para um patamar um recorde de 1,3 milhão de veículos no ano passado, de acordo com dados da Cox Automotive.

-- Com a colaboração de Kara Carlson, Keith Laing, Josh Wingrove, Kate Sullivan e Elena Popina.

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