Sobral, do Santander, vê queda de juros maior que o mercado com alívio na inflação

Sandro Sobral, diretor de mercados da tesouraria do Santander, avalia em entrevista à Bloomberg News que inflação está mais comportada do que o esperado

Escritório do Santander, em São Paulo
Por Felipe Saturnino
02 de Fevereiro, 2024 | 08:11 AM

Bloomberg — A taxa Selic pode cair abaixo do que os operadores brasileiros precificam atualmente, diante de um cenário benigno para a inflação com a perspectiva de alívio nos preços de alimentos e um câmbio comportado, diz Sandro Sobral, diretor de mercados da tesouraria do Santander (SANB11).

“O que mudei nos últimos 30 dias foi a minha visão para a inflação. É uma inflação ‘ok’ e estamos começando a achar que ela pode ser melhor do que as expectativas”, afirma Sobral, em entrevista à Bloomberg News.

A curva de juros embute uma taxa Selic de cerca de 9,25% ao fim de 2024, de acordo com precificação extraída dos contratos de juros negociados na B3.

O Banco Central realizou na quarta-feira (31) o quinto corte seguido de 0,50 ponto percentual do juro básico, para 11,25%. O Copom manteve o guidance no plural ao voltar a indicar a manutenção do ritmo de cortes para as “próximas reuniões”.

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Segundo Sobral, a atual dinâmica da inflação já permitiria que a Selic estivesse menor. No entanto, a “volatilidade do discurso” do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, sobre a trajetória dos juros e as incertezas fiscais domésticas, após os ruídos sobre a política industrial, fazem o BC manter o plano de seguir a mesma dose de cortes.

A inflação de alimentos deve ter alívio pelos preços menores do complexo de grãos, como soja e milho, que também têm efeito secundário na inflação via preços de proteínas, avalia.

A dinâmica de queda se relaciona a uma safra forte no Brasil, níveis de estoques locais ainda elevados e uma safra bastante positiva para a Argentina, após a quebra da safra do ano passado, segundo Sobral.

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“Tem um tema de oferta que se compara ao tema da demanda da China, que está fraca. A gente observa que a China não tem entrado comprando pesado este ano”, disse Sobral. “Tudo isso nos leva a acreditar que, do ponto de vista de preço de soja e de milho, não vai ter pressão.”

Com a inflação em declínio e o Banco Central com espaço para cortar mais do que o precificado, Sobral vê com bons olhos posições que se beneficiam de queda das taxas de juros negociadas no mercado. “A indústria de fundos locais como um todo está bem alocada no mercado de juros”, disse Sobral.

O câmbio também contribui com uma inflação mais baixa, para ele. Sobral diz que o dólar deve operar numa faixa de R$ 4,80 a R$ 5,00 ao longo do ano. Para ele, a dinâmica positiva do balanço de pagamentos brasileiro já “está no preço” do câmbio.

“Talvez seja uma razão para que o câmbio não deprecie ou que fique um pouquinho mais apreciado, mas nada muito dramático.”

Segundo ele, o ano deve ser “morno” para a bolsa, que segue barata. As empresas devem se beneficiar conforme a inflação e a Selic se reduzem, mas a taxa de juros média ainda deve seguir alta — o que não deve ser capaz de atrair grandes fluxos para a renda variável, afirma.

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