Previ amplia investimentos em títulos atrelados à inflação e mira ativos no exterior

Fundo vê NTN-B em “níveis sensacionais”, segundo Claudio Gonçalves, diretor de investimentos da Previ, e amplia posição no exterior com cautela

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Por Felipe Saturnino - Leda Alvim - Matheus Piovesana
23 de Outubro, 2025 | 10:34 AM

Bloomberg — A Previ avalia que as posições em NTN-B, os títulos públicos atrelados à inflação, oferecem uma alocação atraente no momento em que os juros reais superam 8%, ao mesmo tempo em que enxerga espaço para crescer a sua exposição a ativos internacionais.

“A taxa aberta das NTN-B é uma oportunidade”, disse Claudio Gonçalves, diretor de investimentos da Previ, o maior fundo de pensão da América Latina com R$ 289 bilhões sob gestão.

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A Previ vendeu recentemente participações em empresas como BRF e Neoenergia, em operações que levantaram R$ 19 bilhões, e utilizou cerca de R$ 7 bilhões do valor obtido nesses e outros negócios para ampliar suas posições em NTN-Bs.

A venda da participação na Neoenergia para a espanhola Iberdrola ainda aguarda conclusão.

Leia também: Iberdrola compra participação de 30% da Previ na Neoenergia por R$ 12 bilhões

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O posicionamento da Previ reflete a visão de investidores institucionais locais sobre a bolsa brasileira.

O fundo de pensão é um dos maiores investidores institucionais do país e, com os juros mais altos, tem vendido participações em companhias e elevado a alocação em renda fixa.

“De forma geral, continuamos aproveitando essas NTN-B em níveis sensacionais”, afirmou Gonçalves, acrescentando que a taxa real média dos títulos comprados foi de 7,4%.

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O fundo é o maior acionista da mineradora Vale, e também é um dos maiores detentores de ações de empresas como a Vibra Energia e a Tupy.

Segundo o executivo, a carteira de ações está voltada a empresas de “alta qualidade e que pagam bons dividendos”, em especial no Plano 1, o maior da Previ, com aposentados como a maior parte dos participantes e mais de R$ 249 bilhões em investimentos.

Juros reais avançam acima de 8% | Taxas das NTN-B para 2030 disparam em um ano

O Plano 1 detém R$ 20 bilhões de NTN-B marcadas a mercado, posição que gerou um resultado negativo da ordem de R$ 1 bilhão ao resultado do plano no ano passado, que fechou em déficit — revertido em agosto deste ano, quando o plano marcou um superávit de R$ 4,2 bilhões.

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O diretor de investimentos da Previ aponta que a curva de juros reais ainda não devolveu a pressão de alta observada em 2024, mas que o fundo está posicionado para uma queda das taxas reais e um rali da bolsa.

Já no plano Previ Futuro, em que o associado define o próprio perfil de risco e que tem quase R$ 40 bilhões sob gestão, a exposição a ativos internacionais, principalmente à bolsa americana, dobrou em relação ao que era no ano passado.

A fatia ainda é pequena, estando na faixa de 2% a 3% da alocação, e limitada a 10% pela regulação dos fundos de pensão, mas deve crescer, afirma.

“Todos os nossos modelos indicam o investimento no exterior com necessidade de crescimento”, disse Henrique Araújo, gerente executivo de mercado de capitais da Previ.

“Mas todos os movimentos de alterações de alocação que fazemos ao longo do tempo são com muito cuidado. Então, exterior aumentou, e deve aumentar mais pelo modelo de alocação, mas tudo depende do apetite ao risco.”

O crescimento da posição foi em investimentos passivos, com alocações em fundos que replicam o índice global MSCI de ações, o que possibilitou ganhos com apostas no rali das ações de inteligência artificial.

Novas vendas

Gonçalves pontuou que “não há motivo para pressa” para realizar outras vendas de fatias em empresas.

“Os desinvestimentos que fizemos há pouco nos trouxeram tranquilidade para poder planejar bastante os próximos movimentos de alienação. Estamos sem pressa, olhando o mercado.”

Segundo Gonçalves, não há planos de elevar, no Plano 1, a fatia em bolsa brasileira. Mas ele disse que espera uma valorização dos papéis dado o ambiente global inclinado a cortes de juros, citando o cenário dos EUA e o potencial ciclo de cortes no Brasil.

“Estamos confortáveis com as faixas dos investimentos em renda variável”, disse.

Para ele, até mesmo uma taxa Selic que caia a 9,5% dos atuais 15% ainda seria alta e não necessariamente traria o investidor institucional de volta à bolsa.

“Precisamos começar a dar esses passos para diminuir juros, as empresas consolidarem seus resultados e passarem a performar do ponto de vista de preço dos papéis”, disse ele.

“Nesse ponto, teremos uma noção um pouco melhor do que seria uma taxa de juros que começaria a fazer sentido para o investidor institucional começar a colocar o pé mais forte em ativos de maior volatilidade.”

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