Por que esta gestora global está otimista para investir no Brasil

Em entrevista à Bloomberg Línea, Malcolm Dorson, head da estratégia de mercados emergentes da americana Global X, que tem foco em ETFs, destacou os motivos para a alocação no país

A gestora Global X tem cerca de US$ 51 bilhões em ativos (AuM) e é uma das maiores do mercado de ETFs
09 de Abril, 2024 | 04:55 AM

Bloomberg Línea — Valuations “interessantes” e um ambiente doméstico benigno de reformas e de cortes de juros fazem do Brasil um dos mercados emergentes mais atrativos – e baratos – para se investir no momento.

A avaliação é de Malcolm Dorson, head da estratégia de mercados emergentes da Global X, gestora americana focada em fundos de índice (ETFs). Com cerca de US$ 51 bilhões em ativos sob gestão, a casa faz parte do grupo sul coreano Mirae Asset, um dos maiores da Ásia.

“O Brasil está parecendo cada vez mais atraente sob vários ângulos”, afirmou Dorson em entrevista à Bloomberg Línea.

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Além de valuations “incrivelmente atrativos” na bolsa brasileira – com o Ibovespa (IBOV) sendo negociado a um múltiplo preço sobre lucro (P/E) abaixo da média histórica –, reformas como a do Banco Central e a tributária contribuem, segundo o gestor, para um cenário “melhor do que o pensado inicialmente” para o Brasil.

“Vimos no ano passado o upgrade de agências de rating e acho que veremos mais no próximo ano – não necessariamente para investment grade, mas com certeza isso vai abrir espaço para melhorias, reduzindo os níveis dos CDS [Credit Default Swap, derivativos que refletem o risco de crédito], a volatilidade e os riscos associados ao mercado, o que pode atrair mais investidores estrangeiros”.

Na avaliação do gestor, que tem passagens ainda por Deutsche Bank, Citigroup e Ashmore, o Brasil oferece uma “ótima” oportunidade de investimento para os próximos 12 a 18 meses.

Malcolm Dorson, head da estratégia de mercados emergentes da Global X

“Preferimos nos posicionar agora em meio a valuations atrativos do que esperar o mercado entrar no rali”, completou. Ele ressaltou, contudo, que se trata de um mercado muito cíclico e dependente do ambiente político.

Em visita a São Paulo em março, Dorson destacou que, embora um atraso no ciclo de flexibilização monetária do Federal Reserve possa retardar um eventual rali da bolsa brasileira, “vale a pena esperar e ainda receber 7% de dividend yield”.

Potencial para investimento estrangeiro

Apesar do momento favorável para a estratégia em Brasil, Dorson lembrou que o país ainda recebe pouca alocação de investidores estrangeiros.

“Os investidores não estão olhando direito para o mercado brasileiro. O Brasil só representa 5% [em carteiras] de emergentes [EM] e a maior parte dos alocadores só tem 5% de EM como um todo, então a posição em Brasil é muito pequena”, disse.

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Uma saída de investidores do mercado chinês, dadas as perspectivas mais desafiadoras para a potência asiática, tem levado, contudo, a uma preferência por fundos de emergentes ex-China, o que tende a permitir maior exposição a países como o Brasil, além de México, Arábia Saudita e Índia, disse ele.

Impulso com Selic mais baixa

Para o gestor da Global X, que fica baseado em Nova York, a queda da Selic é o principal driver para a bolsa brasileira no curto prazo.

Mais de 90% das empresas brasileiras estão alavancadas e devem se beneficiar de um cenário de juros mais baixos, disse. “Com a queda dos juros, as despesas líquidas caem e antes de vermos melhorias operacionais de aumento do consumo, por exemplo, veremos uma melhora nos balanços e nos earnings.”

Além de uma recuperação da economia diante de um custo mais baixo dos empréstimos, Dorson chamou a atenção para a atuação de fundos multimercados que, assim como o mercado no geral, tem alocado mais recentemente em renda fixa dados os retornos de 1% ao mês sem volatilidade. Com juros mais baixos, contudo, a expectativa da Global X é que haja um maior fluxo para o mercado de ações.

O executivo citou ainda o potencial do Brasil para estar entre os maiores produtores de energia do mundo até 2028. “É algo em que estamos animados do ponto de vista estrutural.”

ETF ativo de Brasil

Desde agosto do ano passado, a Global X administra um ETF de Brasil que tem US$ 3,4 milhões em AuM (Asset Under Management). Negociado em Nova York, tem entre suas maiores posições as ações de Itaú Unibanco (ITUB4), Vale (VALE3) e PetroRio (PRIO3).

Dorson, que é responsável pelo fundo, destacou a gestão ativa do produto em detrimento dos tradicionais ETFs de gestão passiva, que buscam entregar retorno equivalente ao benchmark, o que permite, segundo ele, maior flexibilidade e diversificação em diferentes momentos de mercado.

No momento, por exemplo, o fundo está “significativamente underweight” (abaixo da média do mercado) em Petrobras (PETR4) e Vale devido às turbulências recentes envolvendo as companhias.

Enquanto a Vale enfrenta um processo sucessório para o seu comando, especulações em torno de uma possível saída do CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, têm pressionado para baixo os papéis da petroleira.

Além das blue chips, o ETF da Global X de Brasil conta ainda com nomes como Nubank (NU), 3R Petroleum (RRRP3) e Vivara (VIVA3), que entrou na carteira recentemente diante da queda dos papéis.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.