Para gestores, bolsa em recorde tende a manter o ritmo até teste eleitoral em abril

De acordo com gestores ouvidos pela Bloomberg News, o cenário externo favorece o Ibovespa até meados do ano que vem, quando políticos precisam deixar seus cargos para concorrer à presidência nas eleições em outubro

Analistas apontam que o movimento positivo no ano está alinhado a um cenário global de dólar mais fraco e rotação de fluxos de investimentos para fora dos EUA. (Foto: Tuane Fernandes/Bloomberg)
Por Josue Leonel - Barbara Nascimento
28 de Novembro, 2025 | 05:25 PM

Bloomberg — A tendência de alta que levou a bolsa a inéditos 159.000 pontos no pregão desta sexta-feira (28) tem espaço para persistir diante do cenário externo favorável, com maior busca por ativos de risco realimentada pela perspectiva recente de um corte do Fed, e em função da expectativa de corte de juros no Brasil no início do próximo ano.

Em 2026, essa onda favorável será testada de maneira mais evidente a partir de abril, data-chave para os movimentos da eleição presidencial.

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Os retornos comprimidos nos últimos anos da bolsa brasileira em meio a juros altos deram em 2025 um sinal de alívio. O Ibovespa salta mais de 30% no ano — a caminho do maior avanço em seis anos — e volta a superar o CDI após ter perdido para a renda fixa no ano passado.

Nomes ligados à economia doméstica, como Cogna, C&A e Cury, que se beneficiam do corte da Selic que o mercado projeta para janeiro, estão entre os maiores ganhos do Ibovespa, com avanços acima de 100% no acumulado do ano.

Analistas apontam que o movimento positivo no ano está alinhado a um cenário global de dólar mais fraco e rotação de fluxos de investimentos para fora dos EUA, onde as políticas de Donald Trump trouxeram incertezas, mas que favoreceram os emergentes, sobretudo no início do ano.

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“As bolsas globais continuam reagindo a um ambiente de crescimento robusto e à tendência de enfraquecimento do dólar, fatores que têm favorecido tanto os mercados acionários quanto as moedas de países emergentes, incluindo o Brasil”, disse Luciano Telo, diretor de investimentos da gestora de fortunas UBS Wealth Management.

“Até o final do primeiro trimestre de 2026, projetamos um cenário semelhante aos dos últimos três meses, com viés positivo para os emergentes e participação do Brasil neste movimento”, completa.

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Internamente, o mês de abril é visto como chave para avaliar os efeitos mais claros da eleição sobre o mercado financeiro. Este é o prazo final para que os políticos que queiram se candidatar a presidente se afastem de seus cargos.

Os olhos estão voltados sobretudo para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visto como o preferido pelos investidores pela sua agenda liberal, em que se destacam as privatizações. Tarcísio é o nome do campo da direita com um dos melhores desempenhos nas pesquisas depois do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está preso e inelegível.

“O momentum deverá seguir pelo menos ate abril do ano que vem, quando o trade eleitoral deverá começar a impactar mais sobre os preços de mercado — ainda que haja correções intermediárias pelo caminho”, disse Raphael Figueredo, estrategista de ações na XP. “A qualidade da tendência atual é muito semelhante à de 2019 e assim deverá seguir”.

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Um dos fatores que mantêm vivas as esperanças do mercado em uma mudança política em 2026 é o fato de as recentes eleições na América Latina terem apontado para vitórias de candidatos mais alinhados à direita. O partido de Javier Milei venceu as eleições de meio de mandato para o congresso argentino e, mais recentemente, o candidato de ultradireita, José Antonio Kast, foi alçado ao segundo turno no Chile.

“Temos visto uma onda de viradas à direita em várias eleições nos últimos meses na América Latina, e temos outras eleições em países da relevantes em 2026 — Colômbia, Peru e Brasil”, diz Jennie Li, analista da Bloomberg Intelligence. “É difícil dizer o quanto está precificado no mercado, mas os investidores estarão de olho se essas mudanças irão continuar ocorrendo nesses próximos ciclos eleitorais na região.”

A prisão em regime fechado do ex-presidente Jair Bolsonaro, no entanto, adicionou incerteza a um possível anúncio do seu apoio a Tarcísio no curto prazo, segundo a consultoria política Eurasia.

“Uma decisão cedo de endossar Tarcísio ficou mais improvável”, segundo Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da empresa, que vê o endosso como fundamental para o governador de São Paulo. Por ora, Garman ainda vê um o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “ligeiro favorito” em 2026.

Alívio monetário

Ainda sem um quadro eleitoral definido, o mercado se beneficia dos cortes de juros nos Estados Unidos e da expectativa de alívio monetário também no Brasil, segundo Telo, da UBS Wealth Management. “O ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos segue em andamento, e o valuation da bolsa brasileira, apesar da alta recente, ainda está abaixo da média histórica”, disse Telo.

A temporada de balanços surpreendentemente positiva na visão dos analistas, também ajudou a impulsionar o índice local à maior sequência de altas em 30 anos.

Metade das empresas que reportaram resultados até 21 de novembro tiveram uma surpresa positiva no Ebitda, segundo a Bloomberg Intelligence.

Com isso, em novembro, a bolsa emplacou 15 altas consecutivas, o que não ocorria desde 1994, e nesta semana escalou os 159.000 pontos pela primeira vez na história.

O fluxo externo também contribuiu. No ano até agora, os estrangeiros compraram mais de R$ 28 bilhões em ações segundo dados da B3 compilados pela Bloomberg. No ano passado, houve uma saída de R$ 24 bilhões.

O movimento foi reforçado ontem, quando a perspectiva de corte de juros pelo Fed em dezembro alimentou o apetite a risco e causou altas robustas entre as bolsas emergentes. Em dólar, o Ibovespa sobe cerca de 50% no ano, enquanto o índice MSCI Emerging Markets avança 27%.

“Não é que o Brasil está tirando 10 na prova, estamos fazendo uma prova em grupo”, disse Rodrigo Koch, gestor de ações na Itaú Asset Management. Para ele, o fluxo estrangeiro na B3 é “só uma fração do que a gente poderia ver num cenário em que o Brasil fosse destaque”.

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