Nvidia é sucessora da Tesla em NY, mas queda da ação de Musk é lição a investidor

Valorização da fabricante de chips que lidera as vendas para o boom de IA remete ao frenesi em torno dos veículos elétricos há poucos anos, mas a história destaca os riscos de uma desaceleração

Huang
Por Esha Dey - Jeran Wittenstein
03 de Março, 2024 | 01:00 PM

Bloomberg — A impressionante ascensão da Nvidia continua a cativar investidores e analistas do mercado de ações e a impulsionar o S&P 500 para novas máximas. Mas também levanta lembretes cautelosos de outro queridinho dos investidores que, não faz muito tempo, decolou com sonhos de uma transformação tecnológica, apenas para cair de volta à realidade quando essas esperanças se transformaram em decepção.

Essa ação pertence à Tesla (TSLA), que suscitou sua própria febre compradora em 2017, à medida que os investidores apostavam que os veículos elétricos iriam dominar o mundo.

Na época, a empresa de Elon Musk era um fenômeno, ultrapassando montadoras estabelecidas como General Motors e Ford em capitalização de mercado para se tornar a maior fabricante de automóveis dos Estados Unidos. Alguns analistas olhavam além dessa indústria e a chamavam de “a próxima Apple.”

Esses dias já são passado.

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As ações da Tesla caíram mais de 50% do pico alcançado em 2021, e outros papéis de empresas de veículos elétricos que subiram junto com ela são sombras de do que já foram. Tudo isso deve ser um alerta para os investidores da Nvidia que veem a ação como uma aposta ilimitada no futuro da IA.

“Vimos repetidamente que, quando os investidores se apaixonam pela ideia da inovação tecnológica do momento, a lógica é deixada de lado”, disse Adam Sarhan, fundador e CEO da 50 Park Investments, em entrevista à Bloomberg News. “E, quando a emoção assume, o céu é o limite.”

Preços de ações da Tesla e de concorrentes menores como Rivian e Lucid estão distantes de seus picos em 2021

Diferenças e semelhanças

Claro, existem muitas diferenças entre a Nvidia (NVDA) e a Tesla, desde os produtos que elas fabricam até a personalidade dos homens que comandam as empresas. Mas as semelhanças são impressionantes.

A ascensão da Nvidia, de fabricante de chips de nicho para uma das maiores empresas do mundo, é baseada na premissa de que seu crescimento fenomenal de vendas nos últimos anos tem poder duradouro.

O grande rali de sucesso da Tesla, por sua vez, que ocorreu em 2020 e colocou seu valor de mercado em mais de US$ 1,2 trilhão, foi baseado na suposição de que os veículos elétricos seriam amplamente e rapidamente adotados, e que a empresa seria a dominante nesse mercado.

No entanto a realidade interrompeu essa história.

A demanda por veículos elétricos desacelera à medida que a onda de primeiros adotantes entusiastas já passou, e os consumidores mais conscientes do preço e céticos sobre grandes mudanças estão demorando mais do que o esperado para aderir a uma nova tecnologia.

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Como resultado, a ação da Tesla caiu 31% em relação ao seu pico recente em julho passado e tem sido uma das maiores quedas em termos percentuais no índice Nasdaq 100 neste ano.

“Todo esse potencial sobre o carro autônomo, a Cybertruck e a ação está sendo prejudicado. Por quê? Eles [a Tesla] estão perdendo participação de mercado e margens. No mundo da tecnologia, isso é o ‘beijo da morte’”, disse Sameer Bhasin, da Value Point Capital.

Ritmo de crescimento das receitas da Tesla desacelera, enquanto o da Nvidia está em trajetória de alta nos anos recentes

Para a Nvidia, é cedo demais no ciclo de hype para vislumbrar qualquer sinal de desaceleração. A empresa com sede em Santa Clara, na Califórnia, entregou resultados impressionantes por quatro trimestres consecutivos, impulsionados pelo que parece ser uma demanda insaciável por seus chips usados para treinar modelos de linguagem que alimentam aplicativos de IA como o ChatGPT da OpenAI.

Após mais que triplicar de valor no ano passado, a ação da Nvidia, em 2024, tem novamente o melhor desempenho do índice S&P 500, com um avanço de 66% até aqui. Seu valor de mercado de mais de US$ 2 trilhões fica atrás apenas de duas empresas dos EUA: Apple (AAPL) e Microsoft.

A discussão sobre o uso generalizado da IA em diversas indústrias e empresas lembra a empolgação em torno da internet e os anos que antecederam a bolha das empresas “ponto-com no fim dos anos 1990.

Mas, diferentemente dessa época, em que as empresas de internet estavam sendo valorizadas com base em novas métricas como “cliques” enquanto perdiam (muito) dinheiro, a Nvidia tem gerado enormes lucros. O lucro líquido aumentou mais de 500%, para quase US$ 30 bilhões, no ano passado. E espera-se que dobre no ano atual, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Riscos adjacentes

Esses grandes lucros e a capacidade da empresa de superar constantemente as estimativas ajudaram a manter um limite na relação preço/lucro projetado por Wall Street, à medida que os analistas continuam aumentando suas estimativas. Ainda assim, com um preço de 18 vezes os lucros projetados, é a ação mais cara do índice S&P 500 - e com preço próximo ao da Tesla no seu auge.

Atualmente, a fabricante de semicondutores tem uma liderança significativa nos tipos de chips gráficos que se destacam no processamento de grandes quantidades de dados usados em modelos de IA. No entanto seus concorrentes estão ansiosos para conquistar uma fatia desse mercado.

A Advanced Micro Devices (AMD) lançou recentemente uma linha de aceleradores, e até mesmo os clientes da Nvidia, como a Microsoft (MSFT), estão correndo para desenvolver chips.

“Se você realmente acredita nessa febre da IA, pode visualizar um futuro daqui a dez anos em que a IA está incorporada em muitos lugares, e você precisa desses sistemas massivos que rodam chips que só podem ser entregues pela Nvidia”, disse Sameer Bhasin, da Value Point Capital.

Nada disso tem a intenção de descartar o poder disruptivo dos carros elétricos ou da IA. Mas isso levanta a questão sobre se os investidores estão pagando por um crescimento futuro que pode nunca chegar?

Assim como foi o caso da “queridinha” de mercado da era das empresas “ponto-com”, a Cisco Systems, que ainda é uma empresa de sucesso, mas em que os investidores que compraram a ação em seu auge e a mantiveram esperam até hoje para recuperar suas perdas - 24 anos depois.

“A bolha existe porque a ideia subjacente é real”, disse Cole Wilcox, CEO e portfolio manager na Longboard Asset Management. “Mas só porque a onda macrogeral é real, não significa que todos esses empreendimentos se tornarão bons investimentos. Você terá que ser capaz de separar os vencedores dos perdedores.”

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