Bloomberg — Uma possível demissão do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, pelo presidente Donald Trump é um risco importante e subestimado que pode desencadear uma venda do dólar americano e dos títulos do Tesouro, disse um estrategista do Deutsche Bank.
Trump disse nesta semana que Powell deveria “renunciar imediatamente”, se as alegações de um funcionário do governo de que o banqueiro central enganou os legisladores sobre as reformas na sede do Fed forem verdadeiras.
A observação se somou às crescentes críticas de Trump ao presidente do Fed, depois de ter exigido cortes agressivos nas taxas de juros e sinalizado que pode nomear um sucessor antes do fim do mandato de Powell, em maio de 2026.
Leia mais: Trump revela critério para escolher próximo chefe do Fed: ‘alguém que corte os juros’
Powell tem resistido à pressão para flexibilizar a política monetária e disse que não renunciará ao cargo mesmo se o presidente pedir, dada a independência do Fed.
Embora reconheça os custos excessivos relacionados ao trabalho de renovação, Powell contestou partes dos relatórios sobre o assunto e os chamou de “totalmente enganosos”.
George Saravelos, chefe global de estratégia cambial do Deutsche, disse em um relatório para clientes que o mercado está “precificando uma probabilidade muito baixa” de Powell ser removido do cargo.
Ele apontou para o Polymarket, uma plataforma de apostas, que atribuiu menos de 20% de chance de isso acontecer, e observou que o dólar tem estado amplamente estável recentemente.
Se Trump forçasse a saída de Powell, nas 24 horas seguintes provavelmente haveria uma queda de pelo menos 3% a 4% no dólar ponderado pelo trade, bem como uma venda de renda fixa com impacto de 30 a 40 pontos-base, disse Saravelos.
O dólar e os títulos teriam um prêmio de risco “persistente”, disse ele, acrescentando que os investidores também podem ficar preocupados com a possível politização das linhas de swap do Fed com outros bancos centrais.
Leia também: O impacto das tarifas de Trump ao Brasil por setores e empresas, na visão do mercado
“Os investidores provavelmente interpretariam tal evento como uma afronta direta à independência do Fed, colocando o banco central sob extrema pressão institucional”, disse Saravelos.
“Com o Fed no auge do sistema monetário global do dólar, também é óbvio que as consequências repercutiriam muito além das fronteiras dos EUA.”
A forma como os mercados continuariam a reagir após essa eventual notícia inicial dependeria do fato de outras autoridades do Fed se unirem publicamente em torno da independência do banco central, da indicação de Trump para o sucessor de Powell e da situação da economia, disse Saravelos.
“Além disso, estamos preocupados com a posição de financiamento externo muito vulnerável em que a economia dos EUA se encontra atualmente”, disse ele.
“Isso aumenta o risco de movimentos de preços muito maiores e mais perturbadores do que os que descrevemos.”
Leia mais: Scott Bessent ganha força como sucessor de Powell no comando do Fed, dizem fontes
Em outro relatório, os estrategistas do ING Groep, incluindo Padhraic Garvey, disseram que uma saída antecipada de Powell era “improvável”, mas levaria a uma inclinação da curva de rendimentos do Tesouro, já que os investidores precificariam taxas mais baixas, inflação mais rápida e menor independência do Fed.
Eles disseram que isso também criaria uma “combinação tóxica” para o dólar, sendo que o euro, o iene e o franco suíço seriam os mais beneficiados.
-- Com a colaboração de Esteban Duarte.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Trump anuncia tarifas de 30% sobre União Europeia e México a partir de agosto
©2025 Bloomberg L.P.