Bloomberg — Com receio de ficar de fora de um rali semelhante ao que ocorreu na Argentina antes mesmo da eleição de Javier Milei, investidores têm comprado ativos no Brasil em uma aposta que as eleições presidenciais de 2026 resultem em um governo mais pró-mercado.
“Uma coisa é você ser gestor de um fundo internacional que perdeu aquele rali na Argentina”, disse Ronaldo Patah, estrategista de investimentos para o Brasil no UBS Global Wealth Management. “Mas não o Brasil. O Brasil é gigante, e um gestor de fundo de mercados emergentes que perde um rali de Brasil está fora”.
A UBS Wealth Management elevou a recomendação do mercado de ações do país em junho e citou valuations descontados e a perspectiva de um ciclo de corte de juros pelo Banco Central. Desde então, o Ibovespa teve valorização de 5% e atingiu máximas históricas.
Estrangeiros, em particular, gastaram R$ 1,2 bilhão comprando ações em agosto, enquanto os locais retiraram a mesma quantia. Este é o sexto mês deste ano até agora em que eles colocam dinheiro no Brasil, em comparação com apenas três meses de entradas em 2024.
Embora essa tendência tenha se invertido nos últimos dias, Patah disse que o fato de o Ibovespa ter atingido máximas geralmente desencadeia alguma realização de lucros.
As expectativas de flexibilização monetária, tanto no Brasil quanto nos EUA, também ajudam a impulsionar os ativos de mercados emergentes.
Leia também: Para gestores, ‘trade eleitoral’ começa já em 2025, segundo pesquisa do BofA

‘FOMO’
Pode levar mais de um ano para os brasileiros irem às urnas, mas os investidores não querem perder uma oportunidade que pode se tornar tão promissora quanto a Argentina.
Cerca de 18 meses antes da eleição, os operadores apostavam que os argentinos abandonariam os candidatos peronistas de esquerda em favor de alguém mais favorável ao mercado.
Isso foi antes mesmo de o atual presidente Javier Milei ser um forte concorrente na disputa.
O Índice Merval do país registrou uma alta de 142% em 2022, e o rali se intensificou durante o ano eleitoral, com impressionantes ganhos de 360% em 2023.
Leia também: Morgan Stanley melhora recomendação para o Brasil e vê sinais de ‘trade eleitoral’

Portanto, investidores motivados pelo medo de ficar de fora — expressão americana conhecida pela sigla “FOMO”, “fear of missing out” — observam atentamente o Brasil entrar em seu próprio ciclo eleitoral.
Pesquisas recentes mostraram a popularidade em declínio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e impulsionaram os ativos, enquanto as esperanças de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, entrasse na corrida, serviram como um gatilho positivo para os ativos locais.
“As pessoas estão de olho na próxima Argentina. Se tanto a política quanto a política monetária caminharem na direção certa, poderemos ver um rali histórico no Brasil”, disse Malcolm Dorson, gestor da Global X Management. “Mas esses dois fatores ainda são grandes incertezas.”
Leia também: Argentina segue atrativa, mas eleições pedem cautela, dizem analistas do BTG Pactual
Embora Lula tenha sido revitalizado pela ameaça de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, uma pesquisa recente da AtlasIntel publicada em 28 de agosto mostrou que sua aprovação caiu para 48%, dois pontos abaixo de julho. A pesquisa também mostrou Lula atrás de Tarcísio por 48,4% a 46,6% em um hipotético segundo turno.
Enquanto isso, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado em 2022.
Seu clã político mergulhou no caos e ele não tem um sucessor definido. Tarcísio insiste que não pretende disputar a presidência nas eleições de 2026.
“Não dá para dizer ainda que algo já está precificado ou definido sobre as eleições porque todos sabem que será uma eleição muito acirrada e ainda está muito longe”, disse Patah.
Mas as recentes oscilações na popularidade de Lula “criaram um pouco dessa ansiedade no mercado”.
Veja mais em bloomberg.com
©2025 Bloomberg L.P.