Mais IA e menos petróleo: a estratégia da Kinea para o segundo semestre de 2025

Gestora com R$ 130 bilhões sob gestão em sociedade com o Itaú pretende aumentar gradualmente a participação de ações ligadas ao tema da inteligência artificial em seus portfólios, segundo a sua mais recente carta mensal a investidores

Painel eletrônico da Nasdaq em Nova York: ações de tecnologia devem seguir em alta, segundo gestores da Kinea (Foto: Michael Nagle/Bloomberg)
01 de Julho, 2025 | 06:00 AM

Bloomberg Línea — A Kinea Investimentos, uma das maiores gestoras do país, reforçou a aposta em ações americanas, em especial no setor de tecnologia e de inteligência artificial.

A gestora com R$ 130 bilhões em ativos, que opera em sociedade com o Itaú, disse manter a convicção de permanecer investida em IA – e aumentar “gradualmente” a participação do tema nos portfólios.

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“Embora seja saudável diversificar globalmente, a liderança do mercado de ações permanece com o setor de tecnologia dos EUA no que tange à capacidade de entrega de resultados”, escreveu a equipe de research da gestora em carta enviada aos cotistas de seus fundos multimercados nesta terça-feira (1).

A tese de diversificação ganhou os holofotes no primeiro semestre em meio à volatilidade provocada pela política tarifária do presidente americano Donald Trump.

Os ataques comerciais dos EUA a parceiros estratégicos e aliados criou um clima de insegurança que reequilibrou o fluxo global de investimentos.

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O clima de apreensão derrubou o S&P 500 para o menor patamar do ano em abril, aos 4.983 pontos. De lá para cá, a recuperação não só apagou as perdas como levou o índice a novos patamares de máxima.

No fechamento do semestre, o índice bateu seu recorde histórico, superando a marca dos 6.200 pontos.

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A recuperação veio ancorada nas ações das líderes de tecnologia – conhecidas no mercado como sete magníficas: Apple (AAPL), Microsoft (MSFT), Alphabet (GOOGL), Amazon (AMZN), Meta (META), Nvidia (NVDA) e Tesla (TSLA).

“São elas que mais se beneficiarão da monetização dessa tendência, seja via venda de hardware (chips), serviços de nuvem, publicidade inteligente ou novos produtos habilitados por IA”, escreveram analistas.

A Nvidia, por sinal, teve alta de 16,9% em suas ações apenas no último mês e já tem um valor de mercado de US$ 3,85 trilhões – o maior entre todas as companhias listadas do mundo.

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A Kinea lembrou ainda que quase 45% do crescimento de lucros do S&P 500 no ano veio das ações das sete magníficas. A gestora, no entanto, descarta a possibilidade de bolha.

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“A diferença em relação a episódios passados de concentração (como a bolha da internet no final dos anos 90) é que, hoje, esses valuations elevados se apoiam em fundamentos sólidos, com crescimento de lucros, alta rentabilidade e retornos sobre capital impressionantes”.

Em mercados emergentes, a Kinea destaca os setores de utilities, construção civil e discricionário como os preferidos: Embraer (EMBR3), Sabesp (SBSP3) e Localiza (RENT3) estão entre as principais apostas.

Commodities, menos petróleo

Para além de políticas tarifárias, outros conflitos geopolíticos também ficaram sob os holofotes do mercado. O conflito entre Israel e Irã, com intervenção dos EUA, chegou a estressar os mercados globais, especialmente com a alta do petróleo, mas a expectativa de contenção das tensões amenizou esse efeito.

Antes mesmo do alívio, a Kinea manteve posições vendidas na commodity ao entender que o prêmio geopolítico era excessivo. A gestora também considerou pouco provável a obstrução do Estreito de Ormuz – crucial para o transporte de petróleo e por onde passam 80% das importações do Irã.

“Com arrefecimento do conflito e a total dissipação do prêmio geopolítico, ainda esperamos uma trajetória decadente de preços de petróleo entre agora e o final do ano. Entendemos também que eventuais voltas ao conflito novamente não devem trazer impactos na oferta de petróleo”, afirmou a gestora em carta.

Nas commodities agrícolas e pecuárias, a Kinea mantém posição vendida em soja, café, açúcar; e comprada no boi gordo americano.

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.