Itaú BBA vê alta demanda por títulos de dívida apesar dos juros, diz CEO

Portfólio do Itaú BBA cresceu 15% em relação ao ano passado, para quase R$ 600 bilhões, disse o CEO da banco de atacado do Itaú, Flavio Souza, em entrevista à Bloomberg News

Agência do Itaú com a nova marca apresentada no ano do seu centenário (Foto: Divulgação)
Por Giovanna Belotti Azevedo
22 de Maio, 2025 | 01:25 PM

Bloomberg — A demanda por serviços de mercado de capitais no Brasil se mantém firme, apesar das taxas de juros no maior nível em duas décadas, segundo o maior banco privado da América Latina.

O portfólio do Itaú BBA cresceu 15% em relação ao ano passado e chegou a quase R$ 600 bilhões, disse o CEO da instituição, Flavio Souza, em entrevista à Bloomberg News em Nova York. O setor do agronegócio se destaca, com crescimento superior a 20%.

PUBLICIDADE

Com a taxa básica de juros do Banco Central em 14,75% ao ano, muitas empresas brasileiras têm enfrentado condições de financiamento mais apertadas e níveis mais altos de endividamento.

Ao mesmo tempo, as ações seguem descontadas, e o país está no quarto ano consecutivo de seca no mercado de ofertas públicas iniciais (IPOs).

Ainda assim, companhias brasileiras emitiram volumes recordes de debêntures no mercado local no ano passado, e Souza — cuja instituição foi a líder em emissões em 2024 — disse estar otimista de que essa força continuará em 2025.

PUBLICIDADE

Leia também: Na disputa pelo cliente PJ e de alta renda, Itaú expande a fronteira até Miami

“Vamos terminar o ano melhor do que estamos”, afirmou. “Estamos tendo um bom ano no mercado de dívida, não na mesma intensidade do ano passado, mas um ano bastante forte.”

Há, no entanto, sinais de estresse.

PUBLICIDADE

Um dos maiores concorrentes do Itaú BBA, o Banco do Brasil (BBAS3), citou na semana passada o aumento da inadimplência em empréstimos agrícolas ao colocar partes de suas projeções - guidance - para 2025 em revisão.

As ações da empresa despencaram após o resultado, que também mostrou um lucro abaixo das estimativas dos analistas.

O controlador do Itaú BBA, o Itaú Unibanco, registrou em março uma carteira de crédito de R$ 1,38 trilhão, sendo R$ 425 bilhões atribuídos a grandes empresas, de acordo com os resultados mais recentes da instituição.

PUBLICIDADE

O banco projeta um crescimento entre 4,5% e 8,5% para sua carteira de crédito ao longo do ano.

Leia também: Na Brazil Week em Nova York, líderes celebram protagonismo tech, com olho em 2026

Para o setor como um todo, as empresas levantaram mais de R$ 152 bilhões no mercado de capitais nos três primeiros meses do ano — um recorde para o período desde o início da série histórica em 2012, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

O crescimento foi impulsionado principalmente pela emissão de títulos de renda fixa, que somaram mais de R$ 142 bilhões.

A continuidade desse ritmo poderá depender das decisões do Banco Central, que já indicou esperar que os juros permaneçam elevados, devido à persistência das expectativas de inflação “desancoradas”.

Apesar desse cenário, alguns investidores começam a questionar se os juros já atingiram o pico e discutem a possibilidade de cortes, à medida que a inflação dá sinais de desaceleração. Isso é um sinal positivo, segundo Souza.

Embora os investidores ainda não vejam o Brasil como um “destino obrigatório”, o CEO afirmou que isso pode mudar “assim que os juros no Brasil começarem a dar sinais de queda”.

Leia também: Itaú BBA corta estimativa do Ibovespa por custo de capital elevado e cenário macro

Souza também destacou que os prazos de vencimento das notas locais emitidas neste ano são mais longos do que os de 2024, e uma grande parte dos recursos está sendo direcionada a projetos de infraestrutura.

Segundo ele, a escassez de novas ofertas públicas de ações (IPOs) no Brasil não significa que o país não tenha “excelentes empresas”. Ele acredita que o setor de saneamento, por exemplo, crescerá em uma escala “muitas vezes maior do que vimos até agora nos próximos 20 anos”.

Na entrevista, Souza comentou ainda que a agenda tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, é “levemente positiva” para o ambiente de negócios no Brasil. “Há uma mudança que pode desencadear um reequilíbrio significativo nos fluxos de capital, e isso pode ser uma oportunidade para o Brasil”, afirmou.

COP30

Souza está à frente de algumas das iniciativas do Itaú na COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, em Belém.

O banco planeja direcionar R$ 1 trilhão para projetos com impacto positivo até 2030 e não alterou sua meta diante do recuo do governo Trump na agenda ESG dos Estados Unidos, segundo Souza.

“Embora os EUA sejam uma potência com grande influência, há outros stakeholders que continuam atentos e cobrando essa agenda”, disse Souza, acrescentando que o Itaú promoverá eventos relacionados em São Paulo ao longo de todo o ano.

“Essas discussões eventualmente caminham na direção de encontrar soluções e oportunidades de negócios.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Digitalização financeira no Brasil e em LatAm dá impulso ao Citi, diz CEO para região

Com foco no cliente tech, Itaú BBA chega a 1.500 startups e prevê onda de M&As