IPCA: alta da inflação de serviços reforça a cautela do Copom, dizem economistas

Pressão de indicadores da chamada inflação subjacente reforça a preocupação levantada na ata da última reunião do comitê e sua postura mais cautelosa

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Bloomberg Línea — Para economistas e analistas de mercado, o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, acima do esperado, indica uma reaceleração da inflação de serviços.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (8) mostraram que o IPCA subiu 0,42% no mês passado. O consenso de economistas consultados pela Bloomberg era de um aumento de 0,34% no mês.

Segundo Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, esse aumento de preços faz a inflação voltar para patamares próximos à média de 2010 a 2019, período em que o IPCA teve variação média de 6,5% no acumulado em 12 meses.

“Mesmo com a surpresa no número de hoje, não alteramos o cenário de IPCA de 2024, que é de 3,90% e de 3,50% em 2025. Reiteramos que vemos riscos de alta para a inflação de serviços subjacente no ano, no entanto, a dinâmica recente mais favorável de alimentação no domicílio pode contrabalançar este efeito”, afirmou. No curto prazo, para a Warren, o IPCA de fevereiro deve ficar em 0,77%, e o de março, em 0,12%.

Além da alta do setor de alimentos, que pressionou a leitura geral, outro item que teve alta foram os serviços intensivos em mão de obra, que aceleraram para 6,0% no acumulado em 12 meses, o que, para a XP Investimentos, reforça as preocupações apresentadas pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e da última ata do Copom em relação à meta da inflação.

“Consideramos que os resultados de janeiro apresentaram outra deterioração na dinâmica da inflação na margem [...] o atual processo de desinflação reflete um choque positivo de oferta, devido a fatores externos e eventos não cíclicos. No entanto, a inflação de serviços segue preocupante”, dizem os analistas da corretora, mantendo a previsão de 3,7% para o IPCA em 2024.

Em relação à Selic, a XP Investimentos disse acreditar que o BC deve “reforçar sua abordagem cautelosa e continuar a cortar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual por reunião”, atingindo 9% ao ano no final do ano.

Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, “a composição do IPCA de janeiro não foi benigna”, e a inflação deve continuar acima do centro da meta, o que deve levá-la a terminar o ano em uma alta de 5%.

“Na nossa visão, a resiliência na inflação de serviços corrobora a estratégia de cautela na condução de política monetária do Banco Central. Nossa projeção é que a Selic fique em 9,25% [ao ano] ao final de 2024 e em 8,5% ao final de 2025″, disse.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, afirmou que o resultado reforça a cautela do BC, “que segue cortando os juros lentamente”. “A pressão, já mapeada pelo BC, ainda é presente no setor de serviços, que tem variação não condizente com a meta do BC, fato reforçado pela divulgação de hoje em que os serviços subjacentes apresentaram alta de 0,76%. Os núcleos de inflação, que vinham tendo resultados melhores, voltaram acelerar no mês, com alta de 0,48%”, afirmou.

“Os pontos de atenção com a inflação fazem com que nossas perspectivas para a política monetária não se alterem. O BC terá de seguir cauteloso e cortará a um ritmo de 0,50 ponto percentual até atingir a marca de 9,25% [ao ano].”

Igor Cadilhac, economista do PicPay, ressaltou que o IPCA em 12 meses de janeiro [4,51%] voltou para um patamar acima do teto da meta de inflação do BC e afirma que houve piora “quase que generalizada” dos núcleos. “Há um sinal de alerta para a política monetária, que conversa bem com o balanço de riscos que o Banco Central descreveu na ata”, disse o economista.

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