Genoa vê Banco Central cauteloso apreciar o real e eleva aposta em bolsa

Gestora com R$ 18,5 bilhões de ativos avalia que o dólar ainda pode se desvalorizar mais frente ao real e que o BC fechou a porta para acelerar os cortes da Selic

Vista de São Paulo
Por Rachel Gamarski - Felipe Saturnino
27 de Dezembro, 2023 | 12:59 PM

Bloomberg — A Genoa Capital, uma das principais gestoras independentes do Brasil com R$ 18,5 bilhões em ativos sob gestão, aposta na valorização do real ante o dólar e na continuidade do rali da bolsa, com a avaliação de que o Banco Central fechou a porta para acelerar os cortes da Selic, o que reduz o apelo do mercado de juros.

Mesmo que o dólar tenha caído mais de 9% no acumulado do ano, com o real com o segundo melhor desempenho este ano entre as principais divisas, o preço justo da moeda está “mais próximo de R$ 4,50 do que de R$ 5″, disse Igor Velecico, sócio e economista-chefe da Genoa. Isso representaria um recuo de 6,8% em relação ao patamar de R$ 4,83 no qual a moeda está sendo negociada.

“Estamos otimistas com o Brasil e achamos que um BC conservador tende a apreciar a moeda e, no limite, gerar uma taxa terminal mais baixa”, disse ele em entrevista no escritório da gestora, em São Paulo. “O melhor instrumento para operar esse cenário é o câmbio.”

A atual postura do Copom deve implicar em uma queda nas expectativas de inflação e permitir um juro ao final do ciclo de cortes mais baixo do que o hoje embutido nos preços e nas projeções de mercado, disse Velecico.

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O BC iniciou os cortes em agosto e, apesar da ampla pressão do mercado e do governo para acelerar o passo, diminuiu a Selic em 0,50 ponto percentual por quatro reuniões consecutivas, se comprometendo a manter o ritmo para as reuniões seguintes.

Isso contribui para manter a moeda brasileira atrativa para as chamadas operações de “carry trade” – em que os investidores tomam recursos em moedas onde as taxas de juros são baixas e investem em ativos locais de países onde os juros são maiores. “Também tem o vento favorável da balança comercial e da desinflação americana, que deve enfraquecer o dólar lá fora”, disse Velecico.

Dado que os juros no Brasil não devem cair a um ritmo mais acelerado, isso garante que o diferencial com os juros dos EUA não diminuirá muito rapidamente, acrescentou. A Genoa projeta que a Selic caia dos atuais 11,75% para 8,5% no quarto trimestre de 2024, com cortes de 0,50pp e uma desaceleração do ritmo no fim do ciclo.

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Para Velecico, não há fundamentos econômicos suficientes que exijam uma aceleração dos cortes, já que, apesar do alívio na inflação, a atividade segue forte com o país no pleno emprego.

O fundo está apenas “modestamente aplicado” em juros no Brasil, disse Velecico, e com posições otimistas mais relevantes em bolsa e no real.

Ações

O fundo também aumentou recentemente as suas posições no mercado doméstico de ações, que atingiu a máxima histórica na esteira dos cortes recentes de juros e os fortes dados de atividade interna, e a uma ampla recuperação do risco a nível mundial. As principais posições de Genoa são em ações de bancos, saúde, bens de consumo básico e utilities.

A situação fiscal doméstica continua a ser um risco importante que os mercados deixam de lado no momento, disse Velecico. A Genoa espera que o governo não cumpra as metas fiscais para 2024 e 2025, com expectativas de déficits de R$ 70 bilhões e R$ 110 bilhões para os próximos dois anos, respectivamente.

O Genoa Capital Radar sobe 1,2% em dezembro após taxas, acima do ganho de 0,8% da taxa de referência do CDI. O avanço de 12,3% no acumulado do ano do fundo, no entanto, ainda fica atrás da alta de 13% do CDI. A gestora foi fundada em 2020 por ex-gestores da Itaú Asset e conta com uma equipe de 63 pessoas.

-- Matéria atualizada com a posição em juros da Genoa.

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