Bloomberg Línea — O Federal Reserve reduziu a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira (10), em uma decisão que marca o terceiro corte consecutivo desde setembro, mas que expôs divisões incomuns dentro do banco central americano.
A medida leva o intervalo alvo da taxa de juros para 3,5% a 3,75% ao ano. Desde setembro de 2024, o Fed já acumulou cortes de 1,5 ponto percentual em sua taxa básica.
A decisão foi dividida. Em votação incomum, três membros do comitê discordaram: o diretor (governor) Stephen Miran, recém-nomeado por Donald Trump, votou a favor de um corte maior de 0,5 ponto percentual, enquanto Austan Goolsbee e Jeffrey Schmid preferiram manter os juros inalterados.
Os principais índices de inflação operavam mistos após a decisão. O S&P 500 avançava 0,26% por volta das 16h20 (horário de Brasília), enquanto o Nasdaq Composite tinha estabilidade, com queda de -0,05%. O Ibovespa subia 0,31% no mesmo horário.
No comunicado, o Fed reconheceu que “a incerteza sobre as perspectivas econômicas permanece elevada” e que “os riscos negativos para o emprego aumentaram nos últimos meses”.
O comitê destacou ainda que “a inflação subiu desde o início do ano e permanece um tanto elevada”, sinalizando a delicadeza do momento atual para a política monetária americana.
Projeções de corte em 2026
As novas projeções econômicas divulgadas pelo Fed indicam expectativas relativamente cautelosas para futuros cortes de juros. A mediana das projeções dos membros do comitê aponta para a taxa básica em 3,4% ao fim de 2026, sugerindo apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual ao longo do próximo ano.
Para 2027 e 2028, as projeções apontam a taxa em 3,1% em ambos os anos, sinalizando uma política monetária que permanecerá restritiva por período prolongado.
As projeções mostram ainda divisão significativa entre os membros: enquanto alguns esperam a taxa em 2,1% ao fim de 2026, outros projetam que permanecerá em 3,9%, refletindo visões divergentes sobre a trajetória adequada da política monetária.
As projeções do Fed mostram expectativa de declínio gradual da inflação, mas com o retorno à meta de 2% previsto apenas para 2028. O comitê projeta que a inflação medida pelo índice PCE termine 2025 em 2,9%, recuando para 2,4% em 2026 e 2,1% em 2027, antes de finalmente atingir a meta de 2% no ano seguinte.
O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, deve seguir trajetória similar: 3,0% em 2025, 2,5% em 2026, 2,1% em 2027 e 2,0% em 2028.
As projeções representam leve melhora em relação às estimativas de setembro, quando o Fed esperava inflação de 3,0% para 2025 e 2,6% para 2026, sugerindo algum progresso no combate às pressões de preços.
A decisão ocorre em momento delicado para o banco central, que tenta equilibrar sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho com uma inflação que continua acima da meta de 2%. O índice de inflação preferido pelo Fed ficou em 2,8% em setembro.
Economistas consultados pela Bloomberg antes da decisão esperavam que o Fed faça uma pausa após este corte, aguardando mais dados sobre a economia antes de realizar novos ajustes. A perspectiva é de apenas dois cortes adicionais em 2026, possivelmente em março e setembro.
A decisão desta quarta foi complicada pela ausência de dados econômicos recentes devido a uma paralisação governamental (shutdown) que se estendeu por outubro e novembro. Os números oficiais sobre o mercado de trabalho de novembro só serão divulgados em 16 de dezembro, seguidos pelos dados de inflação dois dias depois.
O Fed também anunciou que iniciará compras de títulos do Tesouro de curto prazo conforme necessário para manter uma oferta ampla de reservas no sistema bancário.
Com os cortes acumulados até agora, a taxa básica do Fed se aproxima do que diversos dirigentes consideram o nível neutro — aquele que nem estimula nem restringe o crescimento econômico. Essa proximidade reforça o argumento de que é hora de fazer uma pausa e avaliar os efeitos das reduções já implementadas sobre a economia.
-- Com informações da Bloomberg News. Atualizada às 16h38 para corrigir a informação de que as projeções do Fed indicam um corte, e não dois, para 2026.
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