Bloomberg Línea — Para o UBS, o forte desempenho dos ativos latino-americanos em 2025 não é um fenômeno isolado. O banco identifica um ambiente internacional excepcional, que favorece a região, impulsionado por uma desvalorização do dólar, tensões comerciais globais e um realinhamento da liderança nos mercados de ações.
Alejo Czerwonko, Managing Director e Chief Investment Officer (CIO) para mercados emergentes nas Américas do UBS, acredita que essa mudança de contexto abre uma janela estratégica para investimentos na América Latina. Em sua opinião, o reequilíbrio global do capital pode dar destaque aos mercados emergentes e, especialmente, aos mercados latino-americanos, cujas avaliações permanecem atraentes em comparação com outras regiões.
“Os Estados Unidos não serão o líder indiscutível daqui para frente, mas mercados como a América Latina terão espaço para ultrapassá-los”, disse Czerwonko em uma entrevista à Bloomberg Línea, referindo-se à rotação de liderança que o UBS projeta para os próximos anos.
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Novo mapa global
Para o UBS, a recuperação dos mercados regionais faz parte de um ambiente internacional marcado pelas “tarifas mais altas dos EUA em 100 anos”, grandes conflitos militares e uma desvalorização do dólar, com sua maior queda para o início do ano desde 1973. Nesse cenário, o debate sobre o “excepcionalismo dos EUA” foi reavivado e os investidores globais reconsideraram sua exposição geográfica.
O CIO do UBS explica que “um dólar fraco é um vento favorável fenomenal para os ativos emergentes e latino-americanos, porque as regiões e os países que têm muitas dívidas denominadas em dólares podem pagá-las com muito mais facilidade se a moeda estiver fraca”. Isso, acrescenta ele, facilita as condições financeiras e dá “mais espaço para respirar” às economias da região.
Czerwonko argumenta que a América Latina tem se destacado como “um porto relativamente mais seguro do que outros na tempestade” em meio à turbulência do comércio global. Entre os motivos, ele menciona que muitos países da região têm déficits comerciais com os Estados Unidos, o que implica tarifas efetivas mais baixas em comparação com outras economias. Além disso, ele destaca a ausência de conflitos armados e a abundância de recursos estratégicos, como petróleo, gás, lítio, cobre e terras raras.
A opinião do UBS é que, em um horizonte de três a cinco anos, haverá “uma rotação mais ativa da liderança do mercado acionário”, com espaço para que os mercados acionários latino-americanos superem o desempenho dos EUA, apoiados por avaliações atraentes tanto das ações quanto das moedas.
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Brasil e México, motores diferentes
O Brasil enfrenta as maiores tensões com os Estados Unidos após a imposição de tarifas de 50% sobre determinados produtos. No entanto, o UBS acredita que “o impacto econômico direto desse conflito no Brasil é limitado”, uma vez que as exportações para o mercado americano representam apenas 2% do PIB e que vários setores foram isentos das tarifas.
Czerwonko prevê que o Banco Central está próximo de iniciar um ciclo de cortes nas taxas de juros, o que historicamente tem impulsionado o mercado de ações. Ele também lembra que, em períodos de dólar fraco, o mercado acionário brasileiro tende a reagir positivamente.
Com as ações sendo negociadas a “8,5 vezes os lucros, abaixo de sua média histórica”, e uma eventual mudança política para o centro ou para a direita, o UBS mantém uma posição construtiva em relação ao país.
No caso do México, a tese do UBS baseia-se em sua profunda integração econômica com os Estados Unidos, protegida pelo acordo T-MEC. “O México é parte da solução para os problemas dos EUA e não contribui materialmente para os problemas“, explica Czerwonko.
O analista ressalta que a economia mexicana é fundamental para que os EUA se desvinculem da China sem desestabilizar suas cadeias de suprimentos e para manter os preços de bens e serviços sob controle.
Com relação à política monetária, o UBS estima que o mercado já descontou “entre dois e três cortes nas taxas de juros pelo Banco do México” neste ciclo de baixa e que um dólar mais fraco favoreceria o peso, mesmo que a autoridade monetária continue com a normalização.
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Entretanto, ele reconhece que 2025 é “um ano complicado para o México” devido à incerteza comercial e à queda nos investimentos. O novo governo, acrescenta ele, busca “limpar as contas fiscais” após uma deterioração em 2024, o que implica custos econômicos de curto prazo, mas benefícios estruturais de médio prazo.
Colômbia e Argentina: riscos e expectativas
Na Colômbia, o banco suíço identifica a deterioração das finanças públicas como a principal vulnerabilidade. " Esse completo desrespeito à regra fiscal é realmente preocupante", adverte Czerwonko, que observa que o problema é anterior à atual administração de Gustavo Petro, mas se acelerou nos últimos anos.
Embora parte desse risco já esteja refletido nos preços, com o país “sendo negociado com uma classificação implícita inferior à sua classificação atual", o especialista acredita que uma mudança de governo com um plano econômico confiável poderia criar espaço para uma melhoria nos ativos.
Na Argentina, o UBS vê o acesso aos mercados internacionais como “praticamente já uma realidade”, embora gradual. “Não acho que seja uma coisa do tipo ‘zero ou um’, mas um processo gradual de continuar a aumentar a confiança”, diz Czerwonko.
Recentemente, o país colocou dívidas denominadas em pesos com investidores globais, mas o analista acredita que o governo de Milei parece estar esperando para consolidar as reformas e os resultados econômicos antes de recorrer aos mercados em maior volume.
O especialista considera que a liberalização da taxa de câmbio foi “magistral” e “uma das mais limpas da história dos mercados emergentes”.
No médio prazo, o futuro da Argentina é “binário e altamente correlacionado com o resultado político”: se Milei consolidar o poder e aprofundar as reformas estruturais, o investimento estrangeiro direto e a exploração de setores como Vaca Muerta e mineração poderão se acelerar; caso contrário, o país correrá o risco de voltar a ciclos de volatilidade.