Bloomberg — Alguns dos maiores gestores de fundos de crédito do Brasil estão correndo para aproveitar a crescente demanda por debêntures incentivadas, apostando que o “medo de ficar de fora” (FOMO, na sigla em inglês) dos investidores impulsionará uma enxurrada de emissões antes que os benefícios fiscais do setor sejam potencialmente reduzidos.
Gestoras como a Sparta Fundos de Investimento e a Absolute Investimentos estão retomando captações por meio de títulos isentos, especialmente os ligados à infraestrutura.
A JGP Asset Management também está acelerando os planos para lançar dois novos fundos atrelados à infraestrutura até o final do ano, antecipando que a demanda continuará a crescer e os spreads seguirão apertados.
O governo propôs um imposto de 5% sobre os rendimentos a partir do próximo ano, como parte de um movimento mais amplo para reduzir o déficit orçamentário.
Até agora, os títulos vendidos para financiar setores-chave como agricultura, imobiliário e infraestrutura estavam isentos de impostos para pessoas físicas.
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A medida ainda precisa ser analisada pelo Congresso, que está em meio a turbulências após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“A gente ainda está num ambiente especulativo, mas o mercado reagiu como se ela já fosse passar,” disse Fayga Delbem, chefe de crédito privado da Itaú Asset Management, que administra R$ 1,1 trilhão, onde R$ 500 bilhões ficam na área administrada por Delbem. “A gente observa um aumento do fluxo que já estava forte e um fechamento dos spreads.”
Os rendimentos dos títulos vinculados à infraestrutura caíram cerca de 15 pontos, para cerca de 20 pontos-base acima da NTN-B, após o anúncio da medida no início de junho, segundo dados da JGP até 30 de julho.
Infraestrutura
Investidores no Brasil têm recorrido cada vez mais para instrumentos de renda fixa, atraídos por retornos de dois dígitos impulsionados por altas taxas de juros.
Autoridades do Banco Central, que aumentaram a Selic para 15% ao ano, têm defendido a manutenção de uma postura cautelosa em relação à política monetária em meio à crescente incerteza, já que o país se encontra no centro da guerra comercial de Donald Trump, enfrentando tarifas de 50% sobre algumas de suas exportações.
O mercado para dívida local, incluindo as isentas, segue com uma grande participação de players locais, principalmente investidores institucionais e gestoras de ativos.
Títulos isentos de impostos também são populares para pessoas físicas, enquanto o apetite estrangeiro permanece em grande parte contido.
Enquanto a medida anunciada pelo governo também afeta outros investimentos até então isentos, o Brasil já havia restringido a emissão de alguns desses produtos.
Além disso, setores como agricultura e imobiliário viram o entusiasmo dos investidores diminuir neste ano após uma série de inadimplências, deixando a atenção voltada para as chamadas debêntures de infraestrutura antes da possível mudança nas regras.
“No último mês, vimos um aumento na procura para fazer emissões, inclusive de títulos incentivados”, disse Bruno Massis, sócio no Lefosse Advogados, que assessora companhias no mercado de capitais. “A medida provisória se convertida em lei, é um fator que tem uma relevância para fazer com que os emissores procurem fazer as emissões dentro de 2025.”
Mesmo antes do anúncio da medida provisória, as vendas de títulos já estavam em alta. O primeiro semestre de 2025 registrou um recorde de R$ 74,5 bilhões em emissões de debêntures incentivadas, um aumento de 15,7% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Anbima.
Gestores de fundos de crédito esperam, em geral, um aumento nas emissões no segundo semestre, embora não tenham fornecido estimativas específicas.
O estoque de todos os títulos locais incentivados estava ao redor de R$ 1,4 trilhão até maio, segundo a Anbima. A regra, se alterada, passará a valer apenas para títulos emitidos depois de 31 de dezembro.
Movimentações dos investidores
Antonio Pedro Teixeira, gestor de portfólio da JGP, disse que sua gestora já estava estruturando dois fundos mesmo antes do anúncio da medida provisória, mas agora está acelerando o cronograma. Um deles terá capacidade de R$ 600 milhões e o outro será uma nova alocação em um fundo existente.
A JGP também adquiriu mais de R$ 250 milhões em títulos de infraestrutura no mercado secundário logo após a MP, apostando que os spreads vão se estreitar ainda mais, segundo Teixeira.
“Fomos agressivos,” disse ele. “A gente tinha as nossas metas até de captação para 2025. Após MP, a gente está achando que vai conseguir uma captação maior.” A JGP administra cerca de R$ 35 bilhões, dos quais R$ 21 bilhões em crédito.
Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, espera que os ativos sob gestão da empresa cresçam de R$ 17 bilhões para mais de R$ 20 bilhões até o final do ano, impulsionados exclusivamente pela demanda por títulos incentivados ligados à infraestrutura.
Daniela Gamboa, chefe de crédito privado e imobiliário da SulAmerica Investimentos, alongou as suas carteiras de infraestrutura, apostando no fechamento dos spreads. A empresa administra R$ 27 bilhões em crédito.
Enquanto isso, a Absolute reabriu todos os seus fundos para permitir acesso a diferentes clientes, disse Paulo Bokel, sócio e chefe de crédito da empresa, que administra R$ 58 bilhões — cerca da metade em crédito.
“A gente acredita que tem uma boa chance de ser aprovado e, para o cliente, a melhor chance é entrar esse ano,” afirmou Bokel. “Estamos vendo uma oportunidade.”
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