Bloomberg — Um título híbrido emitido durante a pandemia se tornou a maior vítima na crise que envolve a Braskem (BRKM5), a “joia da coroa” do conglomerado Novonor e a mais recente empresa brasileira em dificuldades.
A Braskem, uma das maiores empresas petroquímicas do mundo, passou por alguns anos difíceis: um desastre ambiental em uma de suas minas de sal a obrigou a reservar cerca de US$ 3,4 bilhões para multas e reparações; o excesso de oferta no mercado global de petroquímicos derrubou os preços; e a Novonor, precisando de caixa, tentou e fracassou repetidamente em vender sua participação, frustrando o otimismo de que uma empresa com maior poder financeiro assumiria o controle.
Os últimos resultados da Braskem revelaram uma queima constante de caixa e um aumento da dívida, sendo classificados por analistas como “sombrios”.
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Os problemas vinham pesando lentamente nos preços de seus títulos, mês após mês, até que, na sexta-feira (26), tudo chegou ao ápice: a empresa surpreendeu os credores ao anunciar que havia contratado assessores para “otimizar” suas finanças.
Para muitos, isso foi um prelúdio a uma reestruturação da dívida, e eles passaram a se desfazer dos chamados bonds.
A maioria dos títulos em dólares da Braskem, com valor nominal de pouco mais de US$ 9 bilhões, agora é negociada a menos de 45 centavos de dólar.
Os rendimentos das notas denominadas em dólar com vencimento em 2030, uma das mais negociadas, dispararam para acima de 33%, à medida que os credores começaram a avaliar quanto conseguiriam recuperar em caso de default.
A derrocada tem sido particularmente brutal para os detentores das notas da Braskem com vencimento em 2081. Os títulos — emitidos em Nova York há cinco anos, quando a empresa ainda possuía classificação de grau de investimento — ocupam posição inferior à da dívida sênior na hierarquia de credores.
Eles estão sendo negociados a cerca de 18 centavos por dólar, acumulando uma perda de 80% para os investidores apenas neste mês.
“Os ‘81’ receberão um tratamento inferior em qualquer reorganização”, disse Omar Zeolla, analista da Oppenheimer. Os títulos, acrescentou, “basicamente não valem nada”.
A empresa não respondeu aos pedidos de comentários sobre seus títulos 2081. Ela se recusou a comentar uma reportagem do Valor Econômico de segunda-feira (29) que dizia que estava considerando uma reestruturação extrajudicial.

Estimativas de mesas de operações compiladas pela Bloomberg sugerem recuperações de 40 a 60 centavos para os títulos em dólares da Braskem, excluindo os instrumentos subordinados.
Foi uma reviravolta surpreendente para a empresa, antes chamada de “campeã nacional” do Brasil e a joia da coroa da Novonor — o conglomerado anteriormente conhecido como Odebrecht, que foi tragado pelo escândalo de corrupção da Lava Jato, responsável por derrubar elites políticas e empresariais em toda a América Latina há uma década.
A Braskem era considerada tão sólida que suas ações foram dadas como garantia a bancos por cerca de R$ 15 bilhões da dívida da Novonor.
As expectativas de que a Novonor venderia sua participação — para a Adnoc, o Apollo, a Unipar e, mais recentemente, o empresário brasileiro Nelson Tanure — foram todas frustradas, depois que as tentativas enfrentaram obstáculo após obstáculo.
Entre eles, estavam as crescentes multas pelo desastre ambiental em Alagoas, que custou à Braskem o grau de investimento e pelo qual a empresa já havia desembolsado cerca de R$ 4,2 bilhões em indenizações e auxílios financeiros até junho.
A decisão da Braskem de contratar assessores foi ainda mais surpreendente, dado que não há sinais de um aperto de liquidez no curto prazo. Embora venha queimando caixa, a empresa ainda dispunha de US$ 1,7 bilhão ao final de junho.
“Uma opção para a Braskem é levantar uma nova dívida com garantias para atravessar os próximos dois anos”, disse Roger Horn, estrategista sênior de crédito em mercados emergentes da Mariva Capital Markets. Isso “não resolveria o problema da dívida por enquanto, mas daria fôlego para que o ciclo petroquímico se revertesse.”
A Petrobras (PETR3; PETR4), que divide o controle com a Novonor, afirmou que avalia opções para a empresa petroquímica.
A Braskem também já havia iniciado conversas com um sindicato de bancos para renovar uma linha de crédito sem garantia de US$ 1 bilhão que vence no final do próximo ano, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg News neste mês. A empresa não possui vencimentos em dólar antes de 2028.
‘Distress’
O colapso dos bonds da Braskem também ocorre em meio a uma série de más notícias para as empresas brasileiras, que enfrentam as taxas de juros mais altas em uma década.
Na semana passada, a crise da Ambipar se agravou, quando a companhia obteve proteção emergencial contra credores.
As dificuldades crescentes no Banco Master estão gerando preocupações, com riscos que ameaçam se espalhar para empresas e fundos de pensão que detêm os instrumentos de dívida do banco.
“As pessoas estão com medo do próximo dominó no Brasil”, disse Horn. “Por isso estão observando qualquer ativo com estresse de crédito.”
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