Brasil domina vendas de soja para a China até no auge da exportação dos EUA

Compras feitas pelo país asiático para o mês de outubro têm principalmente o Brasil como fornecedor, diante de safra recorde e preços mais competitivos

produção de soja nos Estados Unidos
Por Tarso Veloso - Isis Almeida - Hallie Gu
24 de Julho, 2023 | 08:03 PM

Bloomberg — O mercado mundial de soja é dominado por um grande comprador: a China. Durante os últimos anos, o Brasil tem tirado uma parcela cada vez maior dessas vendas dos EUA. Agora, os produtores da América do Sul estão começando a dominar as vendas durante a típica calmaria da temporada.

Chineses estão comprando a soja brasileira para entrega em outubro, uma época do ano em que as exportações dos EUA normalmente estão no auge, de acordo com pessoas familiarizadas com os negócios. Mais negócios para o quarto trimestre ainda devem ser fechados, segundo pessoas, que pediram para não serem identificadas porque os negócios são privados.

As vendas ocorrem no momento em que o Brasil está colhendo uma safra recorde e oferecendo preços muito mais baixos do que os produtores rivais. Eles também refletem o plano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de buscar laços mais estreitos com a China como parte de seu plano de crescimento para a maior economia da América Latina.

Brasil aumenta vendas de soja |  agricultores americanos estão perdendo sua vantagem competitiva nos mercados agrícolas globais à medida que a produção brasileira se expandedfd

“Ainda temos prêmios competitivos por pelo menos mais um mês”, disse Thiago Milani, chefe de negociação e originação da 3Tentos, uma empresa familiar de agronegócio no Brasil, referindo-se aos preços de frete do país.

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Os agricultores americanos estão perdendo sua vantagem competitiva nos mercados agrícolas globais à medida que a produção brasileira se expande. As tensões geopolíticas também levaram a China a buscar laços mais profundos com a nação sul-americana e reduzir sua dependência histórica dos EUA.

O plano de Lula para aprofundar as relações com a China inclui obter mais recursos do país asiático e reduzir o papel do dólar nas transações de comércio exterior. A viagem de uma delegação brasileira à China no início deste ano rendeu mais de 15 acordos no valor de cerca de US$ 10 bilhões em promessas de investimentos chineses.

Atualmente, é lucrativo para a indústria de processamento chinesa esmagar grãos brasileiros para fazer óleo de cozinha e ração animal, enquanto as margens são negativas para os suprimentos dos EUA, mostram dados compilados pela Bloomberg. Como resultado, chineses estão comprando cargas brasileiras no início da temporada.

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De fato, as compras foram tão antecipadas que já há cinco navios programados para receber cargas no Brasil em setembro, segundo a agência marítima Alphamar. Esta é a primeira vez que um movimento deste tipo ocorre tão cedo na temporada, mostram dados de comércio.

“Existem grandes estoques nas fazendas agora que chegarão aos portos nos próximos meses, então veremos mais navios na programação em breve”, disse Arthur Neto, diretor comercial da Alphamar.

As compras também ocorrem no momento em que as safras dos EUA, que normalmente são colhidas a partir de setembro, estão sob pressão do clima quente e seco. Em junho, a safra de soja americana estava na pior condição em três décadas, antes do retorno das chuvas ao Meio-Oeste.

Ainda assim, o tempo está definido para ficar quente e seco novamente. Os contratos futuros de soja em Chicago subiram mais de 5% neste trimestre, para cerca de US$ 14,20 a saca.

“Do ponto de vista do clima, a chance de uma melhora nas condições da safra não é alta”, disse a corretora chinesa Huatai Futures em relatório na sexta-feira. “É improvável que a oferta da nova safra de soja dos EUA se expanda muito.”

- Com a colaboração de Jasmine Ng, Alfred Cang e Vanessa Dezem.

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