Bloomberg Línea — Um cenário global de enfraquecimento do dólar favoreceu a diversificação de ativos por todo o mundo, beneficiando mercados emergentes, a América Latina e, consequentemente, o Brasil.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, caminha para encerrar o ano com sua maior alta desde 2019, com ganhos superiores a 30%.
“A bolsa subiu, mas esse não foi um movimento ligado ao local. O que vimos é que o cenário doméstico não atrapalhou, mas o que domina [o andamento dos mercados] é o global. E deve continuar assim em 2026”, afirmou David Beker, Head de Economia para o Brasil do Bank of America, em entrevista coletiva com jornalistas nesta quinta-feira (11).
Beker disse acreditar que a tendência de enfraquecimento do dólar deve continuar a beneficiar o cenário de inflação no Brasil, o que, por sua vez, abre espaço para cortes de juros e continuidade do movimento de alta na renda variável.
No entanto o chefe de economia do BofA para o país apontou que o próximo ano será marcado por volatilidade com as eleições presidenciais, que vão resultar em maior protagonismo do cenário local na influência sobre os mercados.
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“Como é ano eleitoral, a partir de certo ponto é isso o que vai guiar o comportamento dos mercados. Historicamente, o mercado começa a precificar as eleições entre abril e maio”, afirmou.
Houve tentativa de investidores em antecipar o chamado “trade eleitoral” já neste ano, mas Beker disse avaliar que é muito cedo para traçar cenários, especialmente dado que ainda não se sabe quem será o candidato da direita que enfrentará o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que buscará a reeleição.
Um exemplo foi a turbulência na bolsa na última semana após o anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro, que surpreendeu investidores e aliados ao anunciar que havia sido indicado pelo pai para o pleito de 2026.
O Ibovespa desabou 4,31% com a notícia na última sexta-feira (5), sua maior queda em um pregão desde fevereiro de 2021, diante da avaliação de investidores de que a eventual candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, será menos evidente na ala da direita do que se gostaria.
“O mercado gostaria de antecipar o trade eleitoral, mas para isso é preciso convicção, e acho que esse episódio mostrou que ainda não estamos nesse momento. Foi um ‘wake up call’ de que o processo eleitoral vai ser volátil”, disse.
Independentemente dos candidatos, Beker afirmou que o grande tema do ano no front doméstico será o cenário fiscal e que isso pode determinar uma valorização acima do esperado para a bolsa brasileira.
O cenário-base do BofA para o Ibovespa é de 180.000 pontos ao final de 2026, cerca de 9% acima dos 164.456 pontos que o índice alcançou na máxima deste ano. “Pode ser uma projeção mais conservadora, mas estou confortável com ela hoje”, afirmou.
“Podemos ter mais upside no mercado, mas vai depender da evolução fiscal. Para ficarmos mais otimistas com a bolsa, precisaríamos estar mais otimistas com a possibilidade de re-rating de múltiplos. E para isso é necessário que haja maior convicção na política econômica do próximo governo.”
Se o plano econômico para os próximos quatro anos, apresentado pelo candidato vencedor das eleições, conseguir convencer o mercado de que é capaz de estabilizar a trajetória da dívida pública, o BofA projeta o Ibovespa aos 210.000 pontos em 2026.
Por outro lado, no cenário mais pessimista, o índice encerraria o próximo ano aos 130.000 pontos – uma queda perto de 18% frente ao patamar atual, na casa dos 159.000 pontos.
Caso ocorra um aceno positivo para a condução fiscal a médio prazo (nos quatro anos do próximo mandato, por exemplo), a expectativa é que haja um benefício para todas as classes de ativos, inclusive para o real.
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Ainda assim, a fraqueza global do dólar deverá continuar a ser o principal aliado da moeda brasileira em 2026. A divisa americana já recuou 11,5% no acumulado de 2025 e é atualmente cotada na casa dos R$ 5,40.
Para o próximo ano, o BofA espera um dólar de R$ 5,25 – ainda em um cenário de desvalorização contra o real, mas de menor intensidade do que a observada neste ano.
“O cenário ainda é de dólar fraco, mas as convicções em parte diminuem porque já houve movimentação na moeda este ano”, disse Beker.
“O que percebemos é que antes o posicionamento dos investidores era de short [aposta na queda] no dólar contra todo o resto. Agora, retira o short no dólar contra moedas desenvolvidas e mantém contra as emergentes.”
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