Bilhões em jogo: taxas de transferência no futebol movimentam mercado de dívida

Clubes europeus recorrem a dívidas lastreadas em vendas de jogadores; Apollo e Blackstone avaliam entrada no setor que movimenta mais de US$ 5 bilhões por temporada

Os gastos com jogadores ultrapassam US$ 5 bilhões nesta temporada no hemisfério Norte
Por Abhinav Ramnarayan - David Hellier
15 de Agosto, 2025 | 04:40 PM

Boomberg — Uma disputa por talentos entre os principais times de futebol da Europa impulsiona um mercado de dívida que usa as taxas de transferência dos jogadores como garantia.

Os gastos com jogadores ultrapassam US$ 5 bilhões nesta temporada no hemisfério Norte. Este modelo de negócio cresce tanto que vai além de financiadores de nicho e começa a atrair os maiores nomes do mundo do crédito privado. A Apollo Global Management e a Blackstone são os mais recentes a considerar acordos de financiamento, de acordo com fontes a par do assunto.

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“Certamente é uma área em que estamos envolvidos e que consideramos interessante — acreditamos que representa uma relação risco-retorno convincente”, disse Tristram Leach, chefe de crédito da Apollo para a Europa, em entrevista à Bloomberg Radio nesta sexta-feira (15). “O mundo dos esportes parece estar atraindo cada vez mais dinheiro o tempo todo.”

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As instituições estão envolvidas porque as taxas de transferência — que agora ultrapassam regularmente US$ 100 milhões para um único jogador — dispararam em toda a Europa. Algumas delas também começam a se envolver mais profundamente no financiamento esportivo. A Apollo emprestou dinheiro ao clube inglês Nottingham Forest em julho, e a Oaktree Capital Management assumiu o controle do Inter de Milão no ano passado.

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“Tradicionalmente, as transferências de jogadores eram feitas por um pequeno grupo de credores especializados, mas nos últimos dois anos, várias grandes instituições financeiras demonstraram interesse”, disse Sebastian Witte, associado sênior da Linklaters.

A Blackstone não comentou sobre o assunto.

As taxas cobradas pelos jogadores se tornam um dos principais itens nos balanços dos clubes de futebol. Enquanto os principais times têm acesso mais fácil a empréstimos tradicionais, apoiados por grandes vendas de ingressos em estádios, direitos de transmissão e merchandising global, o uso de transferências se transforma em uma tábua de salvação para clubes menores, já que muitos operam com prejuízo.

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Os clubes europeus relataram perdas líquidas de € 1,2 bilhão (US$ 1,4 bilhão) em 2023, e as primeiras indicações são de que 2024 também teria sido um ano deficitário, de acordo com um relatório da União das Associações Europeias de Futebol (UEFA).

As vendas de jogadores nas seis principais ligas europeias totalizaram mais de € 5,1 bilhões até agora, de acordo com dados do transfermarkt.com. As transferências costumam ser pagas em parcelas ao longo de vários anos, o que gera fluxos de caixa futuros que os clubes podem monetizar. Estes chamados “recebíveis de transferência” podem ser uma fonte de captação de dívida de custo relativamente baixo.

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Fonte vital de financiamento

A dispersão dos pagamentos ajuda a aumentar o volume de transações e até a elevar as taxas de transferência, de acordo com Francesco Filia, fundador e CEO da Fasanara Capital, gestora de ativos alternativos sediada em Londres. Isso também ajuda a reduzir a enorme lacuna de financiamento entre clubes grandes e pequenos, observou ele.

“O mercado de recebíveis existe para suprir este descompasso, viabilizando negócios sem restrições de liquidez”, disse Filia. A Fasanara emprestou mais de US$ 300 milhões ao longo de três anos para times europeus, embora não tenha revelado os nomes dos clubes.

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A potencial entrada de empresas de crédito privado nesta área ocorre após uma desaceleração dos negócios tradicionais de empréstimos diretos, após anos de crescimento vertiginoso. As empresas intensificam os investimentos em financiamento lastreado em ativos, uma forma de dívida tradicionalmente lastreada por ativos como empréstimos ao consumidor, hipotecas e recebíveis.

A Apollo vê a dívida baseada em transferências de jogadores como parte de seu negócio lastreado em ativos.

“Emprestar contra recebíveis de contrapartes de alta qualidade é algo que fazemos com prazer e acreditamos que podemos fazer de forma competitiva”, acrescentou Leach.

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