Bank of America prevê alta de 2,2% para economias latinas em 2026, apesar da política

Banco mantém uma visão favorável para os ativos da América Latina, aponta perspectiva de alta no Brasil com a expectativa de corte das taxas de juros, mas diz que ‘a política será mais relevante do que nunca’

O portfólio de ações regionais do Bank of America mantém uma posição neutra no Brasil e no México, com um overweight na Argentina
18 de Dezembro, 2025 | 11:18 AM

Leia esta notícia em

Espanhol

Bloomberg Línea — O Bank of America projeta um ambiente favorável para os ativos da América Latina em 2026, apesar da desaceleração econômica. O crescimento regional seria moderado para 2,2%, em comparação com os 2,3% estimados para 2025, mas o banco vê os principais impulsionadores.

Isso inclui uma combinação de cortes nas taxas, reformas estruturais e oportunidades seletivas em ações, títulos e moedas. Além disso, a região terá um calendário eleitoral movimentado que será decisivo para o comportamento do mercado.

PUBLICIDADE

A estratégia de investimento do banco faz distinção entre os países com maior potencial para gerar retornos ajustados ao risco.

O Brasil, o México e a Argentina estão posicionados como os principais focos, enquanto o Chile e o Peru apresentam oportunidades específicas. A Colômbia, por outro lado, tem uma recomendação mais baixa devido aos riscos políticos percebidos e às avaliações menos atraentes.

“As fortes tendências políticas consolidam uma tendência de alta nos ativos, com o Brasil e o México cortando as taxas de juros de forma mais agressiva”, diz o relatório. “A política será mais relevante do que nunca.”

PUBLICIDADE

Leia também: Bolsa brasileira sobe mais em 2026, mas fôlego extra depende do fiscal, diz BofA

O banco também destaca um ambiente global favorável, com o Federal Reserve em um ciclo de flexibilização monetária, queda da inflação e um dólar mais fraco, o que abriria espaço para os bancos centrais da região manterem ou aprofundarem os cortes nas taxas.

Recomendações

O portfólio de ações regionais do Bank of America mantém uma posição neutra no Brasil e no México, com um overweight na Argentina. A seleção favorece empresas com forte geração de caixa, sensibilidade positiva a taxas mais baixas e exposição a setores com catalisadores estruturais.

PUBLICIDADE

No Brasil, o portfólio inclui empresas como Hypera (HYPE3), Localiza (RENT3), Yduqs (YDUQ3) e Rede D’Or (RDOR3). Outros destaques incluem a B3 (B3SA3), Assaí (ASAI3), BTG Pactual (BPAC11), Itaú Unibanco (ITUB4) e Petrobras (PETR4).

“Damos preferência a nomes que possam se beneficiar de um ciclo de flexibilização (devido à alavancagem de custos de financiamento mais baixos para os financiadores), mas que sejam fortes geradores de caixa, mesmo em um cenário em que o ciclo de flexibilização possa levar mais tempo do que esperamos“, disse o relatório.

No caso do México, o portfólio está inclinado para empresas defensivas com forte fluxo de caixa livre e exposição ao dólar, como Arca (AC*), Coca-Cola Femsa (KOF), Alfa (ALFAA), Banco Regional (RA) e Funo (FUNO11). “Adicionamos o Banco Regional, que se beneficiaria de uma revisão positiva do T-MEC no próximo ano, nosso cenário base”, disseram os analistas.

PUBLICIDADE

Leia também: Apostas esportivas e mercados de previsões criam novos riscos de crédito, alerta BofA

Na Argentina, o banco prefere o Banco Macro (BMA), pois considera que ele oferece uma melhor relação risco-recompensa no médio prazo. A empresa continua a não ter exposição à Colômbia e mantém posições no Chile e no Peru por meio da Mallplaza (MALLPLAZA) e Intercorp (IFS), respectivamente.

Em termos de setores, o portfólio está acima do peso em bancos, neutro em energia e materiais e abaixo do peso em imóveis, telecomunicações e indústrias, com algumas exceções.

A Petrobras (PETR4) e a Vale (VALE3) estão em uma posição de mercado. “Mantemos uma posição de mercado na Petrobras, no entanto, espera-se que os preços do petróleo permaneçam baixos, o que pode ser um obstáculo para o setor de energia do Brasil“, escreveram os analistas.

Brasil e México

O Brasil e o México se destacam como mercados com potencial de valorização até 2026, impulsionados por cortes nas taxas e fatores internos.

O Bank of America estabelece uma meta de 180.000 pontos para o Ibovespa até o final do ano, o que implica um retorno total de 14%, incluindo dividendos.

Para o Mexbol, ele estabelece uma meta de 70.000 pontos, com um retorno estimado de 16% ao adicionar um dividendo de 5%.

Leia também: De BofA a Morgan Stanley: Wall St mantém visão otimista para emergentes em 2026

Com relação ao Brasil, o relatório destaca que “o ano eleitoral pode ampliar os movimentos do mercado, moldando narrativas de alta e de baixa para o Ibovespa”.

Em um cenário otimista, com uma administração orientada para o mercado, a taxa Selic poderia encerrar 2027 em 9% e o índice do mercado de ações poderia atingir 205.000 pontos. No cenário adverso, sem cortes nas taxas ou reformas, a projeção cai para 130.000 pontos.

Em nível setorial, o banco destaca o desempenho das empresas de construção civil focadas em habitação social, empresas de consumo resilientes e bancos com uma estrutura sólida.

Espera-se que setores como educação e serviços públicos também se beneficiem da flexibilização monetária. “As ações de serviços públicos têm uma das mais altas correlações com as taxas devido à sua duração relativamente longa e ao fluxo de caixa previsível”, diz o relatório.

No México, o foco está nas reformas constitucionais e na revisão do acordo comercial com os Estados Unidos e o Canadá, prevista para julho. “Aproximadamente 53% do PIB mexicano está ligado ao comércio com os Estados Unidos, seu maior parceiro comercial”, dizem os analistas. Nesse contexto, as empresas com exposição ao comércio exterior e operações em dólares ganham atratividade.

As reformas promovidas desde 2024, incluindo mudanças no judiciário e nos órgãos reguladores autônomos, aumentam a incerteza. “Essas reformas em andamento podem aumentar a incerteza para os investidores”, diz o BofA. Entretanto, um resultado favorável do T-MEC poderia desencadear um ciclo de investimento externo, o que daria suporte ao crescimento econômico.

Andinos

A estratégia para a região andina é seletiva.

O banco mantém posições no Chile e no Peru, mas recomenda subponderar a Colômbia. Em 2026, serão realizadas eleições presidenciais no Peru e na Colômbia, eventos que serão decisivos para o futuro das políticas econômicas em ambos os países.

No Chile, o IPSA aumentou 53% em 2025 e está acima da média pós-2019, com melhores projeções após a vitória de José Antonio Kast. " O resultado aumenta a probabilidade de nossos cenários otimistas, que pressupõem políticas favoráveis ao mercado e governança decente", diz o relatório.

O Peru, por sua vez, está se beneficiando dos fortes preços do cobre e de uma balança comercial positiva. “A economia do Peru está desfrutando do vento de cauda de um forte choque positivo nos termos de troca”, disse o banco. Embora também haja eleições presidenciais, espera-se que elas tenham menos impacto sobre os mercados do que no caso do Brasil.

A Colômbia está no caminho certo para encerrar 2025 com um excelente desempenho do mercado de ações, com o índice Colcap em dólares subindo 82%. Entretanto, as eleições de 2026 e a desaceleração do crescimento levam o banco a uma postura mais cautelosa. " Recomendamos uma postura underweight na Colômbia, dado o ajuste nas avaliações e os riscos eleitorais subvalorizados", dizem os analistas.

Argentina: recuperação e reformas

A Argentina se consolida como uma das apostas mais fortes para 2026 na visão do Bank of America. Após as eleições de meio de mandato em outubro de 2025, o banco elevou sua recomendação para overweight no país, considerando que o caminho para as reformas estruturais foi aberto.

“Vemos espaço para mais altas, pois já estamos vendo diálogos e negociações com províncias e legisladores para apoiar reformas estruturais”, dizem os analistas. No prazo imediato, o mercado espera que as medidas trabalhistas, tributárias e de desregulamentação sejam aprovadas no primeiro trimestre de 2026.

O setor bancário está emergindo como o principal beneficiário. Para o Banco Macro(BMA), que agora substitui o Galicia(GGAL) no portfólio, o relatório projeta um melhor equilíbrio entre risco e retorno. “Os bancos argentinos devem se tornar geradores de lucros à medida que os primeiros sinais de recuperação econômica e possíveis reformas estruturais se consolidam”, de acordo com os analistas do Bank of America.

Também se espera uma recuperação no setor de energia, e os especialistas veem “um bom crescimento dos lucros e mudanças regulatórias positivas nos próximos seis meses, o que daria suporte às empresas”. Em termos de múltiplos, a maioria das ações argentinas ainda é negociada abaixo de suas capitalizações máximas, o que sugere espaço para valorização se o cenário de reforma se concretizar.