Bloomberg Línea, de Washington DC — Árbitro da final da Copa do Mundo de 2002, em que o Brasil derrotou a Alemanha para conquistar o pentacampeonato, o italiano Pierluigi Collina lidera o Comitê de Arbitragem da Federação Internacional de Futebol, a FIFA, desde 2017.
Considerado um dos melhores homens do apito da história do futebol, Collina participou nesta quinta-feira (4) de um painel sobre a evolução da arbitragem ao lado de Johannes Holzmüller, diretor de Tecnologia e Inovação da FIFA, e confirmou algumas novidades que farão parte dos jogos da próxima Copa, cujo sorteio dos grupos será realizado nesta sexta-feira (5) em Washington DC.
“Quando você é um árbitro jovem, mesmo hoje, dizem que você deve defender suas decisões no campo contra tudo e todos. Mas a tecnologia muda completamente a abordagem”, afirmou o ex-árbitro italiano, que comparou, de forma bem-humorada, o juiz de futebol do presente com um Robocop.
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“Isso porque você, como juiz, não tem mais que defender sua decisão, mas tem que ir para a frente do VAR com a mente aberta. Porque se for para o monitor para tentar defender sua decisão inicial, você vai encontrar uma maneira de confirmá-la. Portanto não é fácil”, completou o hoje dirigente de arbitragem.
A FIFA prepara uma revolução tecnológica para a Copa do Mundo de 2026, que será sediada nos Estados Unidos, México e Canadá.
Collina confirmou a intenção da entidade em implementar a “RefCam” (câmera acoplada ao corpo do árbitro), além de ampliar o uso do VAR para confirmar marcações de escanteio - essas mudanças precisam ser aprovadas pela International Football Association Board (IFAB), entidade sediada no País de Gales e que define as regras do jogo desde praticamente sua criação.
Fim do ‘delay’ no impedimento
Uma das principais novidades confirmadas é o uso do impedimento semiautomático, que foi introduzido de forma experimental durante o Mundial de Clubes, realizado no meio deste ano também nos Estado Unidos.
“Não tivemos nenhum atraso longo para impedimento durante o Mundial de Clubes”, afirmou Holzmüller, o diretor de Inovação da FIFA, que destacou o que classificou como eficiência do sistema.
Ele apresentou uma novidade para o ano que vem: agora, a decisão de impedimento será transmitida via alerta de áudio para o árbitro assistente, eliminando a necessidade de checagem demorada no monitor pelo VAR.
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Além disso, a FIFA planeja atrair a Geração Z com transmissões alternativas baseadas em dados e inteligência artificial.
A tecnologia permitirá a recriação virtual do jogo em 3D e o uso de avatares digitais em tempo real, em uma parceria estratégica com a Lenovo, empresa que será patrocinadora da Copa e detalhará a novidade na próxima Consumer Electronics Show (CES), feira do setor de tecnologia que começa em 6 de janeiro.
Visão do árbitro e combate à ‘cera’
Collina confirmou o sucesso dos testes com a RefCam, que permite ao público assistir ao jogo sob a perspectiva do juiz em campo - e previu sua aprovação pela IFAB para 2026.
“Foi um grande sucesso, bem recebido pelos telespectadores e com benefícios para os árbitros”, afirmou o italiano.
O painel também destacou medidas disciplinares para aumentar o tempo de bola em jogo. Collina citou o sucesso dos testes na Copa Árabe de seleções com a regra que obriga jogadores atendidos por médicos a permanecerem dois minutos fora de campo.
Segundo ele, em oito partidas do torneio, houve “zero intervenção médica”, o que sugere que a regra funcionou como um poderoso dissuasor contra a simulação de lesões para quebrar o ritmo do jogo.
Outra medida prevista é a aplicação rigorosa da regra de limitação de segundos com a bola em mãos para goleiros. A FIFA estendeu a tolerância para 8 segundos, mas com a garantia de punição se o tempo for excedido. “Em oito jogos na Copa Árabe, a regra foi desrespeitada zero vez”, afirmou Collina.
VAR em escanteios
Durante a sessão de perguntas e respostas com jornalistas, Collina abordou relatos da imprensa britânica sobre o uso do VAR para revisar lances em que o juiz pune um atleta com um segundo cartão amarelo - o que resulta na automática expulsão com cartão vermelho - e en cobranças de escanteio.
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Trata-se de uma proposta que enfrenta resistência em ligas europeias pelo temor de paralisações excessivas.
Collina defendeu a possibilidade de revisão sob a premissa de “limpar o jogo”, com o argumento de que há um “atraso fisiológico” natural de 10 a 15 segundos antes de um escanteio - segundo ele, tempo suficiente para uma revisão silenciosa sem adicionar atrasos extras.
“Se eles têm a possibilidade de ver isso [revisar o escanteio sem prejuízo de tempo], por que temos que enfiar a ‘cabeça na areia’ e não tomar nenhuma ação?”, questionou Collina, reforçando que o critério principal para qualquer nova implementação será não causar “nenhum atraso” adicional ao jogo.
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