UE negocia para tentar acordo tarifário com EUA, mas também se prepara para impasse

Autoridades em Bruxelas dizem que podem aceitar um acordo desequilibrado que favoreça os EUA, mas também intensificam os preparativos para retaliar em caso de fracasso no acordo

European Central Bank President Christine Lagarde Rates Decision News Conference
Por Alberto Nardelli
21 de Julho, 2025 | 12:33 PM

Bloomberg — Negociadores da União Europeia e dos Estados Unidos começam mais uma semana de conversas intensas na busca de um acordo comercial até 1º de agosto, quando o presidente americano Donald Trump ameaça impor tarifas de 30% à maioria das exportações da UE.

Autoridades em Bruxelas estão preparadas para aceitar um acordo desequilibrado que favoreça os EUA, caso isso seja necessário para romper o impasse antes do prazo final. Mas os dois lados ainda não chegaram a um avanço decisivo, apesar de uma rodada anterior de negociações em Washington na semana passada, de acordo com fontes familiarizadas com o assunto.

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Por isso, a UE também intensifica os preparativos para retaliar em caso de fracasso no acordo. Representantes da UE devem se reunir ainda esta semana para formular um plano de medidas em resposta a um possível cenário sem acordo com Trump, cuja posição de negociação tarifária parece ter se endurecido com a aproximação do prazo.

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“Estas negociações são difíceis”, disse o Ministro das Finanças francês Eric Lombard antes de uma reunião com federações empresariais em Paris. “Se não chegarmos a um acordo equilibrado com os Estados Unidos, reservamo-nos o direito de tomar contramedidas equilibradas, é claro, mas que visem defender os interesses da União Europeia.”

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Os EUA agora pressionam por uma tarifa quase universal sobre produtos da UE superior a 10%, com cada vez menos isenções.

As isenções estariam limitadas à aviação, alguns dispositivos médicos e medicamentos genéricos, várias bebidas destiladas e um conjunto específico de equipamentos de fabricação de que os EUA necessitam, disseram as fontes, que falaram sob condição de anonimato para discutir deliberações privadas.

Um porta-voz da Comissão Europeia, que lida com assuntos comerciais para o bloco, não comentou sobre as negociações em andamento.

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Os dois lados também discutiram um possível teto para alguns setores, bem como cotas para aço e alumínio e uma maneira de proteger as cadeias de suprimentos vindas de fontes que fornecem excedente destes metais. As fontes alertaram que, mesmo que um acordo fosse alcançado, seria necessária a aprovação de Trump – e a posição dele não é clara.

“Estou confiante de que chegaremos a um acordo”, disse o secretário de comércio americano, Howard Lutnick, ao programa Face the Nation, no domingo. “Acho que todos estes países importantes descobrirão que é melhor abrir seus mercados para os Estados Unidos do que pagar uma tarifa significativa.” Lutnick acrescentou que conversou com negociadores comerciais europeus na manhã de domingo.

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À CNBC na segunda-feira (21), o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, disse que a UE começou “em ritmo lento” nas negociações comerciais antes de se envolver mais. Ele disse que, dado o “gigantesco” déficit comercial dos EUA com a UE e o nível das tarifas, “imaginaria que eles gostariam de negociar mais rápido”.

“Não precisa ficar feio” com os europeus, disse Bessent. “É a natureza de uma negociação, há muitas idas e vindas”. 

Ele acrescentou que “o importante aqui é a qualidade do acordo, não o timing dos acordos” com os parceiros comerciais americanos.

Carta de Trump

O presidente dos EUA escreveu à UE neste mês, e alertou que o bloco enfrentaria uma tarifa de 30% sobre a maioria das exportações a partir de 1º de agosto.

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Além de uma taxa universal, Trump aplicou uma alíquota de 25% sobre carros e autopeças, e o dobro disso sobre aço e alumínio. Ele também ameaçou aplicar novas tarifas sobre produtos farmacêuticos e semicondutores já no mês que vem, e anunciou recentemente uma alíquota de 50% sobre o cobre. No total, a UE estima que as tarifas dos EUA já cobrem € 380 bilhões (US$ 442 bilhões), ou cerca de 70%, das exportações do bloco para os EUA.

Antes da carta de Trump, a UE tinha esperanças de que se aproximava de uma estrutura inicial que permitiria a continuidade de discussões detalhadas com base em uma alíquota universal de 10% sobre muitas das exportações do bloco.

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A UE busca isenções mais amplas do que as oferecidas pelos EUA, além de proteger o bloco de futuras tarifas setoriais. Embora seja aceito há muito tempo que qualquer acordo seja assimétrico em favor dos EUA, a UE avaliará o desequilíbrio geral de qualquer pacto antes de decidir se adotará medidas de reequilíbrio, informou a Bloomberg anteriormente. O nível de impacto que os Estados-membros estão dispostos a aceitar varia, e alguns estão abertos a tarifas mais altas se isenções suficientes forem garantidas, segundo as fontes.

Qualquer acordo também abordaria barreiras não-tarifárias, cooperação em questões de segurança econômica, consultas sobre comércio digital e compras estratégicas.

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