Bloomberg — Uma coalizão de grupos empresariais alertou o presidente Donald Trump de que a recém-anunciada taxa de US$ 100.000 para pedidos de visto H-1B corre o risco de prejudicar a economia dos EUA e pediu ao governo que evite mudanças no programa de trabalhadores qualificados que imponham encargos adicionais às empresas.
Em uma carta enviada na sexta-feira (3) a Trump, cerca de uma dúzia de organizações do setor que representam fabricantes de chips, empresas de software e varejistas afirmaram que a nova taxa ameaça prejudicar um canal crucial de talentos de trabalhadores estrangeiros qualificados e deixar empregos essenciais vagos.
“Pedimos ao governo que trabalhe com o setor nas reformas necessárias para o programa de visto H-1B sem aumentar os desafios significativos que os empregadores dos EUA enfrentam para recrutar, treinar e reter os melhores talentos”, escreveram os grupos.
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A carta, enviada duas semanas após a proclamação do presidente sobre o H-1B, teve o cuidado de elogiar os esforços de Trump para trazer investimentos para os EUA.
Entre os signatários estavam a Business Software Alliance, a SEMI do setor de semicondutores, a National Retail Federation, a Entertainment Software Association e o Information Technology Industry Council, de acordo com uma cópia vista pela Bloomberg News.
As objeções dos grupos do setor marcaram uma rara repreensão da comunidade empresarial às políticas dos EUA sob a nova administração.
Trump anunciou as mudanças no H-1B na Casa Branca no mês passado e disse que a taxa de US$ 100 mil seria como uma forma de controlar o que chamou de abusos no programa de trabalhadores qualificados; e, ao mesmo tempo, pressionar empresas a recorrer mais aos talentos nacionais para preencher os postos de trabalho.
Um porta-voz da Casa Branca defendeu a nova política do H-1B, dizendo que ela ajudaria as empresas dos EUA a ter acesso aos melhores talentos e, ao mesmo tempo, reduziria as consequências de “práticas fraudulentas de pessoas de má-fé”.
“O abuso generalizado de vistos não só prejudica os trabalhadores americanos mas também as empresas” que precisam recrutar talentos de primeira classe, disse o porta-voz da Casa Branca Kush Desai em um comunicado.
Os custos mais altos das novas taxas do H-1B ameaçam afetar uma ampla gama de setores, desde tecnologia até saúde e finanças.
Empresas como Microsoft, Amazon e Walmart contam há anos com o programa de trabalhadores qualificados para reforçar seus quadros, e as mudanças no programa colocam em risco seus canais de atração de talentos.
Setores de ponta como inteligência artificial e engenharia biomédica precisarão de uma força de trabalho altamente qualificada para sustentar seu ritmo de crescimento nos EUA, escreveram os grupos.
As mudanças no H-1B correm o risco de prejudicar o progresso nessas áreas importantes, disseram os grupos. A Intel, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co., a Samsung Electronics, a Applied Materials e a KLA têm membros na diretoria da SEMI.
“A nova abordagem dos vistos H-1B, da forma como está, prejudicará as metas do governo para garantir que os EUA continuem sendo líderes em IA, revitalizem o crescimento da manufatura e impulsionem a energia desenvolvida nos EUA”, escreveram os grupos.
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Representantes de Walmart, Target e Macy’s fazem parte do comitê executivo e da diretoria da NRF. A federação não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O Walmart está entre os principais usuários de vistos H-1B nos EUA, juntamente com gigantes da tecnologia e empresas de consultoria. Depois que Trump anunciou a taxa de US$ 100 mil, várias empresas importantes pediram aos funcionários que possuem o visto que não deixassem os EUA sob temor de problemas para voltar ao país posteriormente.
A carta enfatiza que cada um dos setores representados “está pronto para trabalhar com a administração” para mudar o programa H-1B.
Cópias da carta também foram compartilhadas com a Secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, e o Secretário de Estado, Marco Rubio.
As mudanças no visto H-1B de Trump enfrentaram seu primeiro grande desafio judicial na sexta-feira. Uma agência de enfermeiros e vários sindicatos processaram o governo em um tribunal federal, buscando bloquear a taxa.
Para os hospitais, o programa H-1B é crucial para o recrutamento de médicos em áreas rurais atingidas pela escassez de profissionais de saúde. O governo disse em 22 de setembro que os médicos poderiam se qualificar para isenções da nova taxa.
-- Com a colaboração de Lily Meier.
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