Redução de imposto sobre grãos atrai US$ 7 bi para a Argentina e repõe reservas

Governo de Javier Milei aproveita para reconstruir seu estoque de reservas de moeda forte depois de vender mais de US$ 1 bilhão para tentar proteger o peso após derrota eleitoral

Governo de Javier Milei aproveita para reconstruir seu estoque de reservas de moeda forte depois de vender mais de US$ 1 bilhão para tentar proteger o peso
Por Ignacio Olivera Doll
25 de Setembro, 2025 | 12:46 PM

Bloomberg — O mercado cambial da Argentina está sendo inundado com dólares provenientes da compra de grãos, o que levou o governo buscar começar a reconstruir seu estoque de reservas de moeda forte depois de vender mais de US$ 1 bilhão na semana passada.

Os exportadores correram para aproveitar uma redução temporária de impostos anunciada na segunda-feira (22) pelo governo do presidente Javier Milei e uma taxa de câmbio que se tornou ainda mais favorável depois de promessas vigorosas de apoio dos EUA à sua agenda econômica.

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Na noite de quarta-feira (24), a agência fiscal informou que o limite de US$ 7 bilhões estabelecido pelo governo havia sido atingido. Para se beneficiar da isenção fiscal, 90% desses dólares devem ser vendidos no mercado de câmbio em 72 horas.

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O aumento das reservas tem sido uma demanda antiga dos analistas e do Fundo Monetário Internacional, mas até agora Milei tem resistido. Isso provavelmente mudará agora que o peso, uma moeda que foi devastada por repetidas crises, se estabilizou.

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O súbito influxo representa “um valor enorme para um mercado de moedas que normalmente negocia cerca de US$ 500 milhões por dia”, disse Regina Martinez Riekes, diretora da Amauta Inversiones.

“As autoridades não devem apenas acumular reservas, elas também precisam evitar a valorização excessiva do peso.”

O peso, que atingiu 1.475 por dólar na sexta-feira, seu ponto mais fraco de todos os tempos, desde então se recuperou em mais de 12%.

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As apostas de desvalorização caíram drasticamente depois que o governo dos Estados Unidos disse que está discutindo uma linha de swap de US$ 20 bilhões com a Argentina.

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A moeda se fortaleceu novamente na quinta-feira, com ganho de 1,3%, negociado a 1.320 por dólar após a abertura dos mercados locais.

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O governo esclareceu que, uma vez atingido o limite de US$ 7 bilhões, os impostos sobre grãos voltariam ao seu nível anterior.

No entanto, o alívio continuará até 31 de outubro para as exportações de carne, o que poderá atrair ainda mais dólares para o mercado cambial

Para muitos, o momento para Milei agir é agora.

“É necessário que o banco central use esses choques temporários de oferta para comprar dólares e ter reservas suficientes para lidar com uma possível reversão”, disse Daniel Marx, ex-secretário de finanças da Argentina e diretor da Quantum Finanzas, uma consultoria.

As reservas do banco central caíram US$ 4 bilhões para US$ 39 bilhões desde o pico em 4 de agosto, depois que a autoridade monetária vendeu mais de US$ 1 bilhão em apenas três dias na semana passada para defender a banda de negociação acordada com o FMI.

Analistas dizem que a necessidade de recompor as reservas é o motivo pelo qual os mercados esperam um piso para a taxa de câmbio.

Qualquer reposição de reservas marcaria uma virada para Milei, que anteriormente evitava emitir pesos que pudessem prejudicar suas metas de desinflação.

“Não haverá intervenção até que o peso atinja o piso da banda - ou seja, nenhuma compra acima de 1.000 por dólar”, publicou o presidente no X em 16 de abril.

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No meio do ano, o governo até optou por emitir dívida em peso pagável em dólares em vez de intervir no mercado cambial.

Banqueiros e analistas dizem que uma mudança é iminente.

“Calculo que eles começarão a comprar a 1.300 ou 1.350, e então poderemos dizer que a banda cambial se estreitou”, disse Carolina Schuartzman, diretora do Banco de Valores.

O piso da banda está atualmente em 947 pesos por dólar, enquanto o teto está em 1.478 por dólar.

“Se eles deixarem escapar muitos dólares e não reconstruírem as reservas, as perspectivas não serão boas. Os spreads de risco não serão reduzidos e eles serão forçados a fazer uma gestão de ativos e passivos”, disse Schuartzman.

Alguns investidores viram um primeiro sinal do banco central na quarta-feira, quando ele cortou a taxa de recompra do peso de um dia em 10 pontos percentuais, para 25%.

A decisão foi tomada quando o peso estava sendo negociado em torno de 1.330 por dólar, levando muitos a interpretar esse nível como o novo piso implícito da banda.

“O governo deve usar o momento atual para reconstruir reservas genuínas, deixando claro que os fundos dos EUA serão reservados para o serviço da dívida, e não para a defesa cambial”, disse Juan Manuel Pazos, economista-chefe da corretora One618, em um relatório para investidores.

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