Próximo presidente da Bolívia busca saída pragmática da crise, sem divisão ideológica

Rodrigo Paz, eleito no domingo, se prepara para lidar com a delicada situação econômica do país, que enfrenta falta de dólares e de combustíveis; ele toma posse em 8 de novembro

Rodrigo Paz
Por Sergio Mendoza
22 de Outubro, 2025 | 12:40 PM

Bloomberg — Logo após vencer as eleições no domingo (19), o próximo presidente da Bolívia, Rodrigo Paz, trilha um raro caminho centrista para tirar o país da crise econômica, e se concentra em políticas práticas em vez das divisões ideológicas que envolvem seus vizinhos.

O popular presidente eleito mantém relações amistosas com diversos políticos cujo apoio precisará para resgatar a nação da ruína econômica. E não hesita em reatar laços com os Estados Unidos e outros países rejeitados por seus antecessores.

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Em meio à escassez de combustível e dólares, as apostas são altas para o primeiro líder centrista da Bolívia em uma geração.

A vitória de Paz atraiu uma série de reações, em casa, notavelmente, um reconhecimento relutante do ex-presidente agitador Evo Morales, e fora do país, calorosas felicitações da líder conservadora da oposição da Venezuela, Maria Corina Machado.

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À medida que se aproxima de sua posse em 8 de novembro, o primeiro teste de Paz será reabastecer o fornecimento de combustível que a administração do atual presidente Luis Arce ficou sem dinheiro para pagar.

Ele planeja ampliar a oferta combustível por meio de pagamentos diferidos, enquanto aguarda injeções de dólares de credores multilaterais e outras fontes estrangeiras, disse José Gabriel Espinoza, assessor econômico de seu Partido Democrata Cristão (PDC).

“Você não precisa de dólares quando faz um pagamento adiado”, disse Espinoza a repórteres na segunda-feira (20). “O problema de esperar pelos dólares é que o combustível não chega.”

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Bolivia

A equipe de Paz está em negociações com Estados Unidos, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai para garantir suprimentos de emergência, disse Espinoza.

“Os Estados Unidos estão trabalhando conosco para facilitar as rotas de abastecimento. O compromisso foi reafirmado no domingo pelo secretário de Estado adjunto, Christopher Landau”, disse.

O PDC desenvolve planos para criar um “fundo de estabilização” e permitir que o setor privado importe combustível. Enquanto isso, a tarefa será supervisionada pela empresa estatal de energia YPFB.

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O Departamento de Estado dos EUA não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. No entanto, o gabinete divulgou um comunicado parabenizando Paz pela vitória “após duas décadas de má gestão”.

A Bolívia normalmente importa combustível do vizinho Chile, com o qual rompeu relações diplomáticas em 1978 devido a uma longa disputa sobre acesso soberano ao Pacífico.

Paz venceu o segundo turno de domingo com 54,4% dos votos, derrotando o rival de direita Jorge “Tuto” Quiroga, do Alianza Libre, que admitiu a derrota.

“A Bolívia respira ventos de mudança”, disse Paz em seu discurso de vitória na noite de domingo.

Ele proclamou o apoio de três outros partidos no Congresso — Libre, Unidad e Súmate —, o que lhe permitirá aprovar leis para acessar crédito internacional e reformar os setores de energia e mineração para atrair investimentos estrangeiros.

Paz não descartou a possibilidade de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), uma opção delicada na América Latina devido às exigências de políticas ortodoxas.

Em entrevista coletiva na segunda-feira, ele disse que sua equipe já preparava uma linha de crédito inicial com os bancos regionais de desenvolvimento CAF e Fonplata.

“O gradualismo exige tempo. Tempo exige financiamento. O financiamento exige credibilidade. E nada disso é garantido”, escreveu Jonathan Fortun, economista sênior do Instituto de Finanças Internacionais.

“A questão não é se Paz recorrerá ao FMI, mas por quanto tempo ele poderá fingir que não o fará”, acrescentou Fortun.

A Bolívia pode adotar uma taxa de câmbio única do dólar, determinada pelo mercado, até janeiro, disse Espinoza. Ele também mencionou planos para reestruturar os gastos do governo e reduzir pela metade, em 2026, o déficit fiscal estimado em 10% neste ano.

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