Países bálticos alertam sobre viagens após Putin mirar primeira-ministra da Estônia

Governos de países que declararam independência há três décadas alertaram funcionários a ponderar planos de viagem depois que o governo russo incluiu seus políticos em lista criminal

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estônia: alvo do governo de Vladimir Putin (Foto: Ksenia Kuleshova/Bloomberg)
Por Milda Seputyte - Ott Tammik - Aaron Eglitis
17 de Fevereiro, 2024 | 09:30 AM

As nações bálticas alertaram seus funcionários a ponderarem seus planos de viagem depois que o governo russo de Vladimir Putin adicionou a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, e outros altos funcionários da região a um banco de dados criminal.

Estônia, Letônia e Lituânia reagiram a uma decisão do Ministério do Interior da Rússia de incluir Kallas e outros em sua lista de procurados como parte de acusações contra indivíduos envolvidos nas decisões das nações bálticas de desmontar monumentos da era soviética. A Rússia chamou o ato de “desecração”, de desonra.

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“Temos que levar isso a sério e considerar também antes de viajar”, disse o ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, a jornalistas na última terça-feira (13). O principal diplomata e seus dois colegas bálticos convocaram os embaixadores russos para protestar.

Kallas, a primeira líder europeia a ser incluída na lista do Ministério do Interior russo, rejeitou a decisão na terça-feira, chamando-a de “familiar tática de assustar” que não teria efeito. Mas, na quarta-feira (14), o principal procurador da Estônia, Andres Parmas, disse que a primeira-ministra teria que levar em consideração o risco de alguns países estarem prontos para entregá-la à Rússia.

A lista do ministério russo tem pouca validade internacional com órgãos como a Interpol. Ainda assim, o governo letão disse que os viajantes devem considerar viagens fora da União Europeia e de países da OTAN e avaliar a relação legal de certos países com a Rússia.

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Os três estados bálticos - todos membros da União Europeia e da OTAN - intensificaram a remoção de monumentos soviéticos nos últimos dois anos em resposta à invasão da Ucrânia por Moscou. A Rússia criticou o que chamou de tentativa das nações bálticas de fomentar hostilidade, inclusive com grandes minorias russas na Estônia e na Letônia.

O governo letão supervisionou a queda de um monumento soviético de 80 metros na capital Riga em agosto de 2022, desencadeando uma reação de Moscou.

Fuga do Quirguistão

A porta-voz do Ministério do Exterior da Rússia, Maria Zakharova, disse em um post do Telegram que a lista "é apenas o começo".

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Desde a invasão russa de seu vizinho dois anos atrás, os estados bálticos, que foram absorvidos pela União Soviética antes de recuperarem sua independência no começo da década de 1990, têm sido vocais em alertar sobre a agressão do Kremlin e pedir sanções contra a Rússia e ajuda à Ucrânia.

A agência de inteligência da Estônia alertou que a Rússia poderia dobrar suas forças terrestres e aéreas perto de sua fronteira nos próximos anos, segundo um relatório divulgado nesta semana.

O principal espião da nação, Kaupo Rosin, foi cético sobre a ação russa, afirmando que, se algo, ela provou que as táticas enérgicas dos estados bálticos estavam tendo efeito.

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“A Rússia pode colocar avisos de ‘procurado de pessoas em todo tipo de banco de dados, mas não vejo como isso realmente mudará nossa vida”, disse Rosin em uma entrevista em Tallinn na terça-feira.

A lista do governo russo inclui um grupo maior de ministros e membros do parlamento, todos os quais podem ser afetados.

Vjacelsavs Dombrovskis, ex-membro do parlamento da Letônia que votou a favor da derrubada do monumento de Riga, disse que foi obrigado a fugir do Quirguistão com a ajuda de diplomatas letões em setembro. A polícia local havia procurado sua detenção e extradição para a Rússia com base em um pedido de Moscou, disse o ex-legislador.

Kallas invocou sua história familiar ao se referir à decisão. “Minha avó e minha mãe foram deportadas para a Sibéria, e foi a KGB que emitiu os mandados de prisão fabricados”, disse ela em comunicado.

- Com a colaboração de Gina Turner.

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