No Rio, líderes dos Brics criticam ações militares e tarifas unilaterais

Declaração faz parte de um apelo mais amplo para que as instituições multilaterais globais promovam resoluções pacíficas para os conflitos militares em andamento no Oriente Médio, na África e na Europa

Declaração conjunta condena ataques dos EUA e de Israel contra o Irã e conclamaram o governo israelense a retirar as tropas da Faixa de Gaza
Por Simone Iglesias - S'thembile Cele - Mirette Magdy
06 de Julho, 2025 | 04:25 PM

Bloomberg — Os líderes dos Brics condenaram os ataques dos EUA e de Israel contra o Irã e conclamaram o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a retirar as tropas da Faixa de Gaza, pedindo soluções “justas e duradouras” para os conflitos no Oriente Médio.

Em uma declaração conjunta divulgada no domingo (6), os líderes reunidos no Brasil concordaram em denunciar os ataques militares contra o Irã, membro dos Brics, desde 13 de junho, quando Israel iniciou as ações que culminaram com os ataques aéreos dos EUA nove dias depois.

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Os ataques “constituem uma violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas”, de acordo com a declaração. O bloco de 10 membros das nações emergentes também expressou “grave preocupação com a situação no Território Palestino Ocupado” - citando os ataques israelenses e a obstrução da entrada de ajuda humanitária em Gaza, algo que Israel nega - ao mesmo tempo em que pediu um cessar-fogo permanente e incondicional, juntamente com a libertação de todos os reféns.

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A linguagem faz parte de um apelo mais amplo para que as instituições multilaterais globais, incluindo o Conselho de Segurança das Nações Unidas, promovam resoluções pacíficas para os conflitos militares em andamento no Oriente Médio, na África e na Europa. Embora não destaque os EUA, é provável que seja vista como uma intervenção indesejada nos assuntos israelenses, já que Netanyahu se prepara para encontrar o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca na segunda-feira.

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“A África do Sul continua seriamente preocupada com a deterioração da situação de paz e segurança no Oriente Médio”, disse o presidente Cyril Ramaphosa aos outros líderes durante seu discurso de abertura no domingo no Rio de Janeiro. “Os recentes ataques de Israel e dos Estados Unidos contra a República Islâmica do Irã levantam sérias preocupações quanto ao direito internacional, incluindo os princípios de soberania, integridade territorial e proteção de civis”.

Além disso, os líderes dos Brics “expressam alarme” com a tendência atual de “um aumento crítico nos gastos militares globais”.

Isso é outro choque com a exigência de Trump de que os países da Otan aumentem os gastos com defesa para 5% do produto interno bruto, uma solicitação que foi atendida na cúpula do mês passado dos membros da aliança em Haia, com um foco especial em enfrentar a agressão da Rússia, um membro fundador dos Brics.

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Os líderes dos Brics também expressaram “sérias preocupações” sobre o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais “que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da OMC”, novamente sem mencionar os EUA.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião da cúpula de dois dias, abriu a sessão de domingo reiterando os apelos de longa data do grupo para reformar o Conselho de Segurança a fim de torná-lo mais representativo do Sul Global.

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O bloco dos Brics, nome dado ao Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, expandiu-se recentemente para incluir a Indonésia, a Etiópia, os Emirados Árabes Unidos, o Irã e o Egito como membros, um esforço para aumentar sua influência nos assuntos globais há muito dominados por Washington e pelo Ocidente.

“Os Brics estão cada vez mais moldando os debates globais sobre desenvolvimento, governança multipolar e questões de segurança”, disse Ramaphosa em seu discurso. “Devemos continuar a defender a intensificação urgente dos esforços diplomáticos para diminuir as tensões e garantir uma paz sustentável e duradoura.”

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