Bloomberg — O Banco Central da Argentina e o Tesouro dos Estados Unidos assinaram uma linha de swap cambial de US$ 20 bilhões, em um gesto de confiança no presidente Javier Milei às vésperas de uma eleição legislativa crucial. Mas, com poucos detalhes disponíveis, os títulos argentinos perderam os ganhos iniciais e o peso voltou a enfraquecer.
O acordo, anunciado nesta segunda-feira (20) pela autoridade monetária argentina, é um dos pilares de um amplo pacote de resgate que o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, montou para Milei em uma estratégia de “fazer o que for preciso” para estabilizar a volátil economia sul-americana.
Além do swap, os Estados Unidos vêm comprando pesos argentinos nas últimas duas semanas, e Bessent afirmou que está coordenando outra linha de crédito, no mesmo valor do swap, que seria financiada por bancos e outras instituições privadas.
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Os termos e condições específicos não foram divulgados no anúncio inicial da Argentina. O Tesouro americano ainda não publicou um comunicado próprio. Também não está claro que concessões, se houver, a Argentina fez como parte do acordo, além de manter sua política fiscal austera, nem quando o swap entrará em vigor.
Os títulos em dólar da Argentina chegaram a subir após o comunicado do Banco Central, com os papéis com vencimento em 2035 avançando até um centavo antes de devolver os ganhos e voltar a operar estáveis, próximos de 56 centavos por dólar, segundo dados compilados pela Bloomberg. O peso chegou a cair 2,1% no dia, tocando a mínima intradiária, antes de recuperar parte das perdas.
A oscilação dos ativos argentinos reflete a decepção dos investidores com a falta de informações públicas sobre os detalhes do acordo. “O mercado já esperava por isso”, afirmou Pedro Quintanilla-Dieck, estrategista do UBS, sobre o anúncio desta segunda-feira. “Eles confirmaram o que os investidores já sabiam, mas sem apresentar detalhes.”
Milei se reuniu na semana passada com o presidente Donald Trump na Casa Branca, enquanto sua equipe, liderada pelo ministro da Economia, Luis Caputo, havia passado os dias anteriores em Washington negociando com assessores de Bessent, antes de participar das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional.
Na Casa Branca, Trump advertiu que a ajuda ao país sul-americano dependeria de um bom resultado nas eleições, o que preocupou investidores sobre a possibilidade de o apoio vir apenas depois da votação.
No fim de semana, Trump defendeu a decisão de socorrer Milei. “Eles não têm dinheiro, não têm nada, estão lutando para sobreviver”, disse o presidente americano a repórteres a bordo do Air Force One. “Gosto do presidente da Argentina, acho que ele está tentando fazer o melhor possível, mas não digam que eles estão indo bem — estão morrendo.”
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“Isso pode levar alguns investidores a precificar uma probabilidade um pouco maior de que o governo pretenda manter o atual regime cambial após a eleição, mas é improvável que mude a percepção generalizada — inclusive a nossa — de que esse modelo não deve durar muito.”
— Jimena Zuniga, analista de geoeconomia da América Latina e economista especializada em Argentina
Em abril, a Argentina recebeu a maior parte de um empréstimo de US$ 20 bilhões do FMI, condicionado à flexibilização de alguns controles cambiais e à adoção de um sistema de câmbio flutuante dentro de uma faixa.
No entanto, as autoridades argentinas têm sustentado o peso de várias formas — como por meio da venda de contratos futuros e de dólares —, alimentando a especulação de que a moeda segue sobrevalorizada.
A moeda argentina continuou se desvalorizando, apesar das compras de pesos pelo Tesouro americano e de repetidos sinais, ao longo do último mês, de que um acordo estava próximo.
Operadores de câmbio na Argentina estimaram que os EUA venderam mais de US$ 200 milhões em operações com pesos na sexta-feira, dando sequência a intervenções anteriores. O peso acumula queda de 6% em outubro e de mais de 40% no ano, o pior desempenho entre os mercados emergentes em ambos os períodos.
“Diante das declarações de Bessent e do impacto cada vez menor das vendas recentes, a confirmação de que a linha de swap já está disponível pode ser fundamental para evitar que o câmbio oficial teste o limite superior da faixa, em 1.490 pesos por dólar, nesta semana”, afirmou o estrategista da StoneX, Ramiro Blazquez, em relatório a investidores.
Os argentinos irão renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado em 26 de outubro. Com menos de 15% das cadeiras hoje, o partido libertário de Milei precisa de um bom resultado nas eleições de meio de mandato para aprovar sua ambiciosa agenda de austeridade e convencer investidores de que suas reformas pró-mercado vieram para ficar, apesar dos inúmeros falsos começos que marcaram a história econômica do país.
Uma derrota expressiva em uma eleição provincial em setembro fez os títulos e o câmbio despencarem, elevando a preocupação dos investidores com a votação nacional deste mês.
O ímpeto de Milei também foi abalado por dois escândalos de corrupção: um envolveu sua irmã, que é uma das principais assessoras do presidente, e o outro levou um aliado importante a retirar sua candidatura por supostos vínculos com um traficante de drogas acusado. Ambos negam qualquer irregularidade.
Milei também perdeu parte do apoio popular à medida que a inflação superou o crescimento dos salários durante todo o seu mandato, enquanto o corte de subsídios generosos nas tarifas de energia fez disparar o custo de vida.
A atividade econômica encolheu por três meses consecutivos até julho, à medida que os juros altos paralisaram os negócios.
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-- Com a colaboração de Nicolle Yapur e Daniel Flatley.
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