Do café à carne: Brasil segue com tarifas de 40% apesar de sinal de alívio de Trump

Flexibilização de Trump busca baratear importados, mas não altera a taxa extra de 40% aplicada ao Brasil, cujo café representa 18% das compras de produtos tropicais dos EUA

As compras americanas de cafés do Brasil caíram mais de 50% de agosto a outubro, com as tarifas em vigor, segundo dados da Cecafé (Foto: Patricia Monteiro)
Por Josh Wingrove - Hadriana Lowenkron
15 de Novembro, 2025 | 09:40 AM

Bloomberg — O presidente Donald Trump emitiu uma ordem na sexta-feira em que reduz as tarifas sobre carne bovina, tomates, café e bananas, uma medida que visa diminuir os custos dos alimentos em um momento em que o governo enfrenta pressão dos eleitores para reduzir os preços de produtos de uso diário.

As isenções reduziriam as taxas comerciais sobre as commodities, que, segundo a Casa Branca, não podem ser produzidas nos EUA em quantidade suficiente para atender à demanda interna.

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Centenas de produtos alimentícios, incluindo cocos, nozes, abacates e abacaxis estavam entre os produtos. listados pela administração para isenção de tarifas. As isenções têm efeito retroativo, entrando em vigor às 00h01, horário de Nova York, em 13 de novembro.

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A medida surge num momento em que Trump passou a focar em medidas que aumentem o acesso a bens, conforme os eleitores se tornam cada vez mais cautelosos com a economia sob a sua liderança.

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É também um reconhecimento tácito de que as políticas tarifárias do presidente aumentaram a pressão sobre os preços para os consumidores americanos.

Um funcionário da Casa Branca que pediu anonimato para falar sobre a ordem executiva disse na manhã de sexta-feira que o presidente está cumprindo sua promessa de negociar acordos comerciais e, em seguida, ajustar as tarifas conforme necessário.

O representante Comercial dos EUA Jamieson Greer apresentou o plano na sexta-feira, afirmando que se encaixa na estratégia mais ampla de Trump de criar isenções tarifárias para bens e setores-chave.

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“Agora é o momento certo para, você sabe, liberar alguns desses itens que o presidente disse que liberaria”, disse Greer.

“Isso é um desdobramento natural exatamente do que o presente sinalizou, e é isso que ele está fazendo hoje.”

Trump e funcionários do governo americano têm refutado as críticas de que suas políticas comerciais aumentaram o custo de vida, mas reconhecem a necessidade de fazer mais para reduzir os altos preços que frustram os eleitores há anos.

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Trump tem elogiado regularmente os méritos das tarifas, e disse acreditar que os impostos de importação são parcialmente compensados pela redução de preços por parte dos vendedores, o que em tese atenuaria o impacto sobre os consumidores.

Preços da carne bovina

A suspensão dos preços da carne bovina ocorre após Trump ter anunciado que os EUA aumentariam as compras da Argentina, o que gerou reações negativas de pecuaristas e republicanos de estados agrícolas.

Os preços ao consumidor dispararam para níveis recordes em meio à redução do rebanho bovino nacional.

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A demanda resiliente, no entanto, mantém o país cada vez mais dependente de importações para suprir a procura.

Os preços do café também dispararam, com o mercado futuro atingindo recentemente um novo recorde após as tarifas americanas sobre o Brasil terem paralisado o comércio desses produtos entre os dois países.

As compras americanas de cafés do Brasil caíram mais de 50% de agosto a outubro, com as tarifas em vigor, segundo dados da Cecafé, associação brasileira do setor.

A produção doméstica de café é insignificante, e os poucos produtores americanos também expressaram preocupação com o fato de os altos preços poderem reduzir a demanda por seus produtos.

Desde julho, as exportações brasileiras enfrentam tarifas de 50%, compostas por uma tarifa recíproca de 10% e uma taxa adicional de 40% destinada a punir o país pela suposta perseguição ao ex-presidente brasileiro e aliado de Trump Jair Bolsonaro.

As alterações de sexta-feira afetam apenas a tarifa de 10%, o que significa que os produtos agrícolas do Brasil ainda estarão sujeitos à taxa adicional de 40%, segundo um funcionário da Casa Branca que falou sob condição de anonimato.

Isso deixa em vigor taxas substanciais sobre as exportações de café e carne bovina.

As tarifas de Trump sobre a potência agrícola sul-americana exacerbaram a escassez já existente em ambos os mercados, o que levou os preços ao consumidor a níveis recordes.

Também estão incluídos nas isenções o cacau e o suco de laranja congelado, juntamente com algumas nozes e frutas tropicais.

A lista abrange ainda muitos tipos de fertilizantes, especiarias e sementes.

Os Estados Unidos têm importado cada vez mais produtos tropicais que não podem ser cultivados internamente, alargando o déficit comercial agrícola do país.

Prevê-se que as remessas desses produtos atinjam US$ 39,4 bilhões este ano, o que representa 18% do total das importações agrícolas dos EUA.

O café, sozinho, responde por um terço desse valor, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.

Na quinta-feira, o governo anunciou acordos com diversos países da América Latina — incluindo Argentina, Guatemala, El Salvador e Equador — que também visam ajudar a reduzir o custo de muitos itens que não são produzidos em quantidades significativas nos EUA.

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