De Brasil a México: como a tarifa de 50% dos EUA sobre o aço afeta a América Latina

Desde 4 de junho, as tarifas sobre aço e alumínio aumentaram de 25% para 50%; relatório do Goldman Sachs indica os países da região mais afetados

Brasil é o mais afetado na região, enfrentando uma tarifa efetiva de 4,5%, dois pontos percentuais a mais que em março, segundo o Goldman Sachs. (Foto: Scott Dalton/Bloomberg)
23 de Junho, 2025 | 10:08 AM

Bloomberg Línea — O aumento das tarifas sobre as importações de aço e alumínio pelos Estados Unidos, de 25% para 50% no início do mês, tem impacto especialmente em mercados latino-americanos como Brasil e Argentina, pressionando ainda mais os custos de exportação da América Latina, segundo um relatório do Goldman Sachs.

No final de maio, o presidente americano Donald Trump ordenou elevar as tarifas sobre aço e alumínio para 50%, com efeito a partir 4 de junho. “Nossas indústrias de aço e alumínio estão voltando como nunca antes”, disse Trump na época do anúncio.

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O ajuste às tarifas sobre aço e alumínio provoca um aumento da tarifa efetiva média sobre as importações provenientes da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México e Peru) de 7,3% para 8,7%.

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A tarifa efetiva leva em conta não apenas o imposto que o produto paga ao entrar no país, mas também as taxas aplicadas aos insumos importados utilizados para produzir esse bem.

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Considerando o impacto por país, o Goldman Sachs assinala, com base nos números de abril, que o Brasil é o país mais afetado na região, enfrentando uma tarifa efetiva de 4,5%, dois pontos percentuais a mais que em março.

Em seguida vem o México, com uma tarifa efetiva estimada em 4,1% (um incremento de 0,3 pontos percentuais), enquanto a Colômbia experimentou o maior aumento mensal, com uma alta de 2,5 pontos, alcançando uma tarifa efetiva de 3% em abril.

Outros países da região também enfrentaram aumentos, embora mais moderados: de 0,9% no Chile e de 1,5% no Peru.

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A Argentina é outro dos países mais impactados por essa medida, com um aumento de 1,9 pontos percentuais em suas tarifas efetivas.

“Esperamos que nos próximos meses sejam anunciadas tarifas setoriais adicionais para produtos farmacêuticos, semicondutores, minerais críticos (incluindo cobre) e produtos de madeira, entre outros”, segundo o Goldman Sachs.

O banco explica que se essas novas tarifas forem aplicadas, a tarifa efetiva sobre as exportações da América Latina para os Estados Unidos poderia aumentar em 1,3 pontos percentuais adicionais, chegando a 10%.

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Neste contexto, as importações americanas provenientes do Chile e, em menor medida, do Peru, são especialmente afetadas pela possível tarifa de 25% sobre o cobre.

Em abril, os Estados Unidos impuseram uma tarifa base de 10% à maioria dos produtos de seis países sul-americanos, dentro de um pacote de tarifas recíprocas.

Além disso, aplicaram tarifas globais de 25% sobre carros e autopeças, embora as peças e veículos exportados do México que cumprem com o USMCA estejam isentos. USMCA é a sigla para o tratado comercial entre Estados Unidos, México e Canadá, substituto do Nafta.

Exportações mexicanas

O México tem algumas vantagens relativas graças ao seu acordo comercial com os Estados Unidos.

As autopeças mexicanas que cumprem com as regras de origem estabelecidas no tratado estão isentas de tarifas, assim como os veículos exportados que contêm conteúdo norte-americano suficiente.

Em 2024, cerca de 90% das exportações mexicanas para os EUA entraram sem tarifa, seja sob o USMCA (50%) ou sob tarifa zero (40%).

No entanto, em abril de 2025, a proporção de exportações mexicanas sujeitas a tarifas subiu para 17,8%, contra 16,8% registrado em março.

No caso do México, as exportações para os Estados Unidos representam cerca de 28% do PIB.

Os dados publicados pela Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC), citados no relatório do Goldman Sachs, mostram que a tarifa efetiva sobre as importações provenientes da América Latina nos Estados Unidos aumentou de 3,4% em março para 3,9% em abril (a tarifa efetiva foi de 0,3% em 2024).

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.