Cuba desvaloriza moeda local em mais de 200% para lidar com crise econômica crescente

Governo implementou uma terceira taxa de câmbio oficial, mais próxima do valor do dólar no mercado paralelo, em reconhecimento implícito de que as políticas econômicas não conseguem atender à demanda por moeda estrangeira

O governo definiu a nova taxa a 410 pesos cubanos por dólar — muito mais fraco do que as duas taxas de câmbio existentes na ilha, de 24 e 120 pesos por dólar
Por Jim Wyss
18 de Dezembro, 2025 | 03:10 PM

Bloomberg — O governo de Cuba desvalorizou o peso nesta quinta-feira (18), enquanto a nação caribenha tenta estabilizar uma economia abalada pelas sanções americanas, pela repressão a aliados regionais e pelo colapso de importantes fontes de receita.

O Banco Central de Cuba implementou uma terceira taxa de câmbio oficial, muito mais próxima do valor do dólar americano no mercado paralelo, num reconhecimento implícito de que as políticas econômicas da nação comunista não estão conseguindo atender à demanda por moeda estrangeira e resolver a grave escassez.

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O governo definiu a nova taxa a 410 pesos cubanos por dólar — muito mais fraco do que as duas taxas de câmbio existentes na ilha, de 24 e 120 pesos por dólar. A nova taxa, que o banco central afirma ser flutuante e ajustada periodicamente, compara-se a cerca de 440 pesos por dólar que os cubanos pagam no mercado informal.

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As taxas de câmbio mais altas são rigorosamente controladas pelo governo e destinadas a necessidades “essenciais e estratégicas” do país, bem como a empresas estatais que podem obter moeda forte.

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A ilha caribenha sofre com uma profunda contração econômica que se arrasta desde o início da pandemia, em um momento em que os EUA intensificam a pressão sobre seu maior aliado, a Venezuela, que fornece combustível essencial há anos. Apagões rotativos e uma queda enorme no setor turístico também estão afetando a indústria e reduzindo as fontes de receita do governo.

Ian Pedro Carbonell, diretor de política econômica do banco central, disse ao jornal estatal Cubadebate que a nova taxa será uma bênção para os exportadores e permitirá que os cubanos comuns tenham acesso a “uma taxa de câmbio atraente que lhes permitirá obter mais moeda nacional sem os riscos de recorrer ao mercado negro”.

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Mas regimes cambiais de múltiplos níveis tendem a gerar corrupção e a serem insustentáveis, já que alguns agentes, geralmente próximos ao governo, têm acesso às melhores taxas de câmbio e, posteriormente, vendem mercadorias à taxa mais baixa, aumentando a pressão inflacionária sobre a economia.

Em países como Venezuela e Argentina, esses regimes não conseguem conter a demanda insaciável por dólares no mercado paralelo, e a diferença com as taxas oficiais tende a aumentar com o tempo.

Na semana passada, os EUA apreenderam um petroleiro que deveria entregar pelo menos parte de sua carga a Cuba. O governo comunista depende desses suprimentos tanto para a geração de energia quanto para as divisas que pode obter com a venda no mercado aberto.

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O presidente cubano Miguel Diaz-Canel classificou essa ação como “um ato criminoso de pirataria”.

Embora Cuba afirme que planeja unificar as três taxas de câmbio eventualmente, o país passou por uma infinidade de regimes cambiais nas últimas décadas, especialmente após o colapso da União Soviética, que lhe fornecia apoio econômico.

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