Bloomberg — O candidato José Antonio Kast foi eleito presidente do Chile neste domingo (14), impulsionado por crescentes temores sobre a criminalidade e a imigração descontrolada — tornando o país a mais recente nação latino-americana a dar uma guinada à direita.
Com 83,4% das urnas apuradas, Kast recebeu cerca de 59% dos votos, seguido pela candidata da esquerda Jeannette Jara com 41%, segundo o órgão eleitoral Servel.
Kast, ex-deputado de direita e filho de imigrantes alemães do pós-guerra, assumirá o cargo em 11 de março, prometendo um “governo de emergência” para reprimir rapidamente a imigração irregular e cortar impostos e gastos públicos. Ele venceu em todas as 16 regiões do Chile.
Embora Kast evite comparações, sua agenda alinhará o Chile a outros governos de direita ao redor do mundo. Nos últimos anos, ele se reuniu com a presidente italiana Giorgia Meloni, o presidente salvadorenho Nayib Bukele e o presidente húngaro Viktor Orbán.
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Durante a campanha eleitoral deste ano, Kast suavizou suas posições sociais conservadoras sobre temas como o aborto, que o haviam afastado dos moderados em suas duas candidaturas anteriores, ao mesmo tempo em que intensificou seus ataques ao impopular presidente de esquerda Gabriel Boric.
Arturo Squella, presidente do Partido Republicano do Chile, discursou para os apoiadores eufóricos de Kast na sede da campanha, no elegante bairro comercial de Las Condes, em Santiago, onde motoristas agitavam bandeiras chilenas pelas janelas e buzinavam em comemoração.
Ele afirmou que Jara já havia telefonado para parabenizar o novo presidente eleito e reiterou as promessas de Kast de implementar um governo de emergência.
“A democracia falou alto e claro”, disse Jara em uma publicação no X, reconhecendo a derrota. Membro do Partido Comunista do Chile, com mais de um século de existência, desde os 14 anos, ela liderou uma coalizão de partidos de esquerda e centro-esquerda para enfrentar Kast, com foco em questões sociais e segurança. Agora, ela está em posição de liderar a oposição de esquerda do país.
Regionalmente, o triunfo de Kast representa a mais recente rejeição à esquerda na América Latina, após a vitória do partido de Javier Milei nas eleições de meio de mandato na Argentina e o fim de 20 anos de governo socialista na Bolívia, liderado por Rodrigo Paz. A vitória também garante ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mais um aliado em uma região que tem se inclinado cada vez mais para a China nas últimas décadas.
Sua vitória marca o início de um novo ciclo político “definido fundamentalmente pela lógica da mudança”, afirmou Marco Moreno, diretor do Centro de Democracia e Opinião Pública da Universidade Central do Chile. O governo de Kast será impulsionado por esforços para “enfrentar uma crise de segurança pública com medidas muito mais duras e restritivas, além da questão da migração”.
Desde o primeiro dia, Kast, de 59 anos, enfrentará grandes desafios, incluindo um Congresso dividido e ampla pressão por resultados rápidos.
Os investidores contam com ele para injetar confiança na economia chilena — uma das mais ricas da América Latina — após anos de crescimento lento e incerteza sob o governo de Boric. Kast prometeu reduzir a alíquota do imposto de renda para médias e grandes empresas de 27% para 23%, acelerar o crescimento econômico para 4%, ante os atuais 2,5%, e simplificar a regulamentação.
Uma de suas propostas mais ousadas e controversas é a promessa de cortar US$ 6 bilhões em gastos públicos em 18 meses, sem reduzir os benefícios sociais. Os críticos afirmam que o plano é tecnicamente inviável e improvável de ser aprovado por um Congresso fragmentado, o que evidencia o que muitos consideram a maior desvantagem política de Kast: a pouca experiência em negociações fora de seu círculo íntimo.
“Ele não é alguém com habilidades de negociação bem desenvolvidas”, disse Axel Callis, sociólogo e diretor do instituto de pesquisa Tuinfluyes.com. “Nesse sentido, ele terá dificuldades.”
A equipe coesa de Kast inclui figuras de fora do establishment tecnocrático chileno. Entre os aliados que devem desempenhar papéis importantes estão o principal assessor econômico, Jorge Quiroz, o economista Bernardo Fontaine, o ex-deputado Rodrigo Álvarez e o empresário Alejandro Irarrázaval. Após avançar para o segundo turno no mês passado, Kast também garantiu o apoio de economistas proeminentes que haviam apoiado sua rival de centro-direita, Evelyn Matthei.
Advogado de formação, fundador do Partido Republicano do Chile e deputado federal por 16 anos, Kast não possui experiência no Executivo. Mesmo assim, percorreu o Chile de ponta a ponta por mais de uma década e conhece as prioridades da população melhor do que ninguém, afirmou seu assessor Ivan Poduje em entrevista no mês passado.
Jara liderou o primeiro turno, em 16 de novembro, com 26,9% dos votos, seguido por Kast com 23,9%, segundo o órgão eleitoral do governo, Servel.
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